No caminho de volta, o crepúsculo dava lugar ao início da noite. As sombras das árvores se alongavam, e o ar ficava mais frio. No meio da rua deserta, avistei uma mulher. Algo nela parecia... errado. Sua pele tinha uma coloração estranha, como se estivesse se deteriorando. Quando me aproximei, percebi o motivo, não era apenas uma mulher comum. Era uma criatura, ela já estava no limite, talvez não aguentasse muito tempo.
Eu poderia ajudar. Talvez pudesse salvá-la antes que ela perca o controle, mas...
Respirei fundo, sentindo o ar gelado encher meus pulmões, e continuei andando. Não pensei duas vezes. Eu já tinha ignorado tantas dessas antes, por que seria diferente agora?
Se for para me machucar, que seja por alguém que eu ame ou que realmente importe.
Ao longo dos anos, aprendi que devorar essas criaturas não me faz bem. me afetam profundamente, como uma corrupção que não é apenas física, mas também emocional. Cada uma delas deixa uma marca em mim, por dentro e por fora.
Decidi não pensar mais nisso e mudei o foco para as coisas boas do meu dia. Foram momentos curtos, mas livres de qualquer preocupação. Eu tive um ótimo dia hoje, e não queria estragar isso. Relembrando esses momentos, sorri. Espero realmente que ele esteja lá amanhã, para que eu possa ter mais desses instantes de paz.
Quando cheguei em casa, fiz meus afazeres apressadamente. Tudo o que eu queria era dormir logo, para que o próximo dia chegasse rápido.
Já deitada, ouvi o ranger suave da porta do quarto se abrindo.
— Tá doente? Indo dormir tão cedo assim? — Era Mia, que havia acabado de chegar.
Virei-me na cama, olhando para ela.
— Não, só tô cansada e com dor de cabeça — respondi, tentando soar casual.
— Toma um remédio e bebe água. Logo, logo, você vai ficar melhor — Mia aconselhou, jogando a bolsa no chão com um suspiro.
Dei uma risada leve, tentando desviar o foco.
— Hoje fui parar na enfermaria. Tomei uma bolada na cara e desmaiei.
Ela riu junto, balançando a cabeça em negação.
— Acontece com as melhores jogadoras. Já levei bolada também, só que não cheguei a desmaiar, mas o sangue do nariz foi impressionante.
Sorri, imaginando a cena. Se eu tivesse contado isso para a minha mãe, com certeza ela ficaria preocupada, achando que poderia ter causado algum trauma na minha cabeça. Mas Mia... ela entendia. Já tinha visto esse tipo de coisa acontecer várias vezes.
— Mas é a primeira vez que vejo alguém desmaiar com uma bolada dessas — ela acrescentou, com um olhar brincalhão.
Virei o rosto, tentando esconder o sorriso.
— Nem pense... — avisei, antecipando a piada que ela estava prestes a fazer.
Ela deu uma risada, mas desistiu da provocação, e finalmente, o silêncio tomou conta. Eu me ajeitei na cama, fechei os olhos e deixei o cansaço me levar.
Aquela noite, sonhei de novo com o farol. O farol da Dama Pálida. Mas, como das outras vezes, ela não estava lá. Apenas a luz fraca e os ecos da sua ausência.
Quando acordei, o sol mal tinha nascido. O céu ainda estava pintado com os tons suaves de um amanhecer frio e preguiçoso. Era cedo demais, mas, mesmo assim, me levantei, sentindo a necessidade de me mover. O silêncio da casa parecia mais pesado do que o normal, como se o dia estivesse esperando algo. Saí de casa e caminhei até a escola, por pouco, não fui eu a abrir os portões. Esperei ali, sozinha, enquanto os primeiros tons alaranjados do dia tomavam o céu. O ar frio cortava minha pele, mas eu estava ansiosa, não só pelo novo dia... mas por ele.
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Rastro dos Antigos Terror imensurável
ParanormalA pequena Liu Mei Huang, uma estudante comum do ensino fundamental, vê sua vida transformada em caos ao começar a enxergar monstros que só ela pode ver. Com suas visões perturbadoras, Liu Mei busca respostas desesperadamente, tentando entender por q...