Capítulo 13 - O Preço da Sobrevivência

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     Os garotos, apavorados, rapidamente pegaram pedras e barras de ferro que estavam jogadas por ali, desesperados para afastar a criatura. A cauda da besta, no entanto, rebatia as pedras como se fossem meros grãos de areia. O impacto das pedras contra sua pele dura mal deixava marcas, e nós sabíamos que não tínhamos muito tempo. Tentamos correr em direção à saída, mas, antes que pudéssemos escapar, outra criatura idêntica bloqueou nosso caminho.

  Eu mal tive tempo de raciocinar. Aquilo não era uma alucinação. Todos estavam vendo as criaturas. Eram reais. Se eu quisesse salvar todos, não havia outra escolha. Eu teria que devorar uma delas.

— Mas que merda é essa? Isso é algum tipo de pegadinha?! — gritou Yulan, arremessando uma pedra que atingiu a cabeça da criatura em cheio, mas sem causar efeito algum.

A besta avançou, seus olhos fixos em nós. Então, com uma voz rouca e grave, ela falou:

— Vocês invadem meu lar... e destroem tudo o que conquistei com tanto esforço...

— Calma, a gente não sabia que era seu! —  Shen abaixou a pedra, tentando acalmar a situação. — A gente sente muito, podemos resolver isso de forma pacífica...—

A criatura rosnou e se inclinou em uma posição ameaçadora.

— Vocês vão me pagar... como oferendas — disse, com os músculos se tensionando, pronto para atacar.

Sem pensar muito, tudo o que me veio à mente foi usar a minha câmera. Assim como fiz no passado. Peguei-a rapidamente e disparei o flash diretamente nos olhos da criatura, atordoando-a por um breve momento. Aproveitei a brecha e me lancei contra ela, mordendo o pouco de carne que encontrei.

— O que você pensa que está fazendo? — rosnou a criatura, com a voz grave, e antes que eu pudesse me afastar, sua cauda chicoteou meu corpo, me jogando com violência contra o chão.

A dor foi imediata, mas só quando senti o líquido quente se espalhando pelo chão percebi que era meu sangue. Um choque atravessou meu corpo, e a dor me paralisou. O que aconteceu? Por que eu não consegui devorar essa criatura?

Os gritos dos outros me alcançaram, e então tudo começou a escurecer. Algo estava me arrastando. O chão frio contra minha pele, o som abafado de gritos distantes... Até que meus olhos se fecharam, e não senti mais nada.

E então, de repente, um farol brilhou, cegando minha visão.

  Depois de tanto tempo na escuridão, finalmente pude sentir o mundo se lembrar de mim, ainda que por um breve instante. Foi como se, por um momento fugaz, a névoa que me envolvia se dissipasse e as sombras que tentaram me apagar da história recuassem.

As marcas de meu passado, que tantos se esforçaram para enterrar, ressurgiram, pulsando com vida. Não como uma lembrança distante, mas como um eco vibrante, uma chama que nunca deveria ter sido extinta.

— Sabe, eu sempre tentei ser compreensiva com  os demônios — uma voz ecoou no vazio, firme e fria. — Mas você... você passou do limite.

Lentamente, senti o peso do mundo voltar aos meus sentidos. O ar denso e empoeirado enchia meus pulmões, e o chão áspero sob meus pés parecia mais real a cada segundo. Minha visão ajustou-se, e então eu o vi.

— Você é o tipo que gosta de ver suas presas agonizando antes de devorá-las, não é? — 

O demônio, que ainda se contorcia de dor no chão após sentir minha presença, ergueu os olhos para mim — Quem é você...? — ele gaguejou, suas palavras carregadas de raiva e desespero.

— Pode me chamar de Dama Pálida. — Um sorriso gélido cruzou meus lábios enquanto eu o observava, a tensão entre nós palpável. 

— Dama, você não me parece humana, muito menos um demônio. Eu sugiro que vá embora para evitamos um confronto sem motivo. —

Rastro dos Antigos Terror imensurávelOnde histórias criam vida. Descubra agora