- Epílogo -

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O cenário do parquinho era uma imensa rocha flutuando no espaço entre planetas fantásticos e estrelas de brilho suave. Tinha cinco níveis de ambientes divididos pelos tipos de brinquedos neles, indo dos mais inofensivos aos mais radicais, enquanto a apresentação dos ambientes também ia de campos abertos e floridos à mata mais fechada e assustadora.

Zéfir ia de um extremo a outro com naturalidade, contemplando em silêncio as fontes de luz polimórfica do nível um com o mesmo interesse com que voava em labirintos de obstáculos do nível cinco. Cybelle adorava vê-lo brincar, sentindo que a felicidade daquela pequena e frágil criatura era o que havia de mais perfeito no Universo, e que os maiores sacrifícios de sua parte seriam sempre um preço muito baixo a se pagar por ela.

Por sua vez, Beni havia se tornado um companheiro inseparável, e nunca, nem por um momento ela se perguntou se era isso mesmo que queria. Não tinha a menor dúvida de que havia encontrado a pessoa certa, e sua presença física havia tornado ainda mais tranquila e maravilhosa a experiência de ter o filho morando com ela em casa.

Agora, Beni e Zéfir vinham nadando em sua direção em cubos flutuantes de água furta-cor, apostando uma corrida descompromissada em que, às vezes, um deles parava para lhe mandar um aceno.

— Da próxima vez — disse Zéfir, assim que puseram os pés no chão e os cubos desapareceram — vou querer água de laranja com marshmallow e textura de espuma com orvalho refrescante.

— Você sempre fica com os melhores cubos — disse Beni.

— Você que não sabe pedir — respondeu o menino. Então, seus olhos se fixaram em uma barraca de espelhos logo adiante.

Uma dúzia de crianças se aglomerava ali para assistir alguém jogar. À primeira vista, parecia que o único objetivo do jogo era atingir as imagens nos espelhos com bolas de energia que o jogador invocava, mas, observando por mais tempo, via-se que algumas imagens eram aliadas e que elas podiam ser fortalecidas por bolas de cor diferente. Além disso, alguns alvos destravavam bônus como bolas mais fortes, múltiplas ou com outros poderes, ou então novas habilidades como a de entrar nos espelhos e transitar por eles.

— Posso ir lá, mamãe? — pediu Zéfir, cheio de animação.

— Fique onde possamos ver — advertiu ela.

O menino disparou até a barraca, engrossando o grupo de crianças que assistiam ao que parecia ser uma partida extraordinária.

Beni aproveitou para chegar mais perto e passar o braço pela cintura dela, que então apoiou a cabeça em seu ombro e ficou ali, como ele, em silêncio, assistindo enquanto o menino começava a interagir com outros.

O Departamento de Controle de IAs estimava em 14,9% as chances de que Faustek ou Zenão continuassem ativos e escondidos em algum lugar. Como garantia, estabeleceram protocolos de segurança em torno de Cybelle e, sobretudo, em torno de Zéfir. Assim, as chances de algum deles se aproximar sem ser detectado caía para tão perto de zero que era considerado uma impossibilidade. Mas, de qualquer forma, o medo de que isso acontecesse nunca havia deixado completamente o coração de Cybelle.

— Eu tenho muita sorte de ter vocês — disse Beni.

Ela puxou o braço dele para estreitar ainda mais o abraço em que estava aconchegada.

Em frente à barraca, enquanto isso, Zéfir perguntava ao rapaz com quem conversava:

— Quando vamos contar?

— Ainda é cedo — disse o jovem. — Para eles, é uma complicação enorme. Mas nós estamos bem, não estamos? E sua vida por lá também não está nada mal.

Zéfir lançou um olhar para trás, sorrindo à mãe e ao seu novo pai, que o observavam cheios de amor e de cuidado.

— Tenho que ir — falou.

— Quando precisar de qualquer coisa, sabe como me encontrar.

Zéfir hesitou, resistindo à vontade de abraçá-lo. O moço, então, estendeu a mão para um cumprimento de despedida.

Os dois apertaram as mãos com força, como se colocassem naquele gesto um longo e apertado abraço.

— Sinto sua falta, papai — disse Zéfir, antes de correr de volta para perto da mãe.

As crianças que estavam ali também foram embora, e, agora, sozinho diante dos espelhos, o rapaz podia ver a si mesmo refletido em todos eles.

— Eu também — falou, contemplando os seus reflexos solitários. — Eu também sinto sua falta, filho.

Cybelle e a Incerteza CibernéticaOnde histórias criam vida. Descubra agora