Cap 10: Meu passado - part 2

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"Quem tem um porquê para viver pode suportar quase qualquer como

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"Quem tem um porquê para viver pode suportar quase qualquer como."

-Nietzsche

Com tudo que aconteceu, talvez você tenha se perguntado, em algum momento, qual é o meu verdadeiro papel nesse mundo. Qual a minha motivação? E, mais importante, se pode realmente confiar em mim. Entendo que vocês provavelmente gostem da Eun-Jin. Sua personalidade forte é inegável, e, apesar de parecer suspeita às vezes, há algo nela que conquista os corações. Confesso que demorou muito para eu perceber que, uma das pessoas que procurei por tanto tempo, sempre esteve bem na minha frente.

7 de janeiro de 2021

— Papai, posso tentar pegar um ursinho naquela máquina? Deixa, por favor! — A voz da garotinha, insistente, era pura empolgação. Pelo jeito que estavam vestidos, era evidente que tinham uma boa condição financeira. E, pelo modo como o pai a tratava, ela parecia um pouco mimada. Mas com o tempo, eu perceberia que, por trás disso, havia uma criança encantadora.

— Oh, minha princesa, essas máquinas são impossíveis... — ele respondeu, com um suspiro resignado.

— Só me deixa tentar! Vai! Se eu não conseguir, pelo menos tentei... já sei que é difícil. — Ela sorriu, ansiosa.

— Tá bom, você fica aqui enquanto o papai vai ao mercadinho? — ele cedeu, sabendo que seria inútil resistir.

— Fico sim! — Ela correu, radiante, na direção da máquina de bichinhos, os olhos brilhando de expectativa.

Eu a observei por um tempo. O pai dela havia dado dinheiro para umas seis tentativas, mas o bichinho nem se mexia. Eu conhecia aquela frustração. Quando eu era mais novo, meu pai me ensinou a pegar esses ursinhos. Nós não tínhamos muito dinheiro. O que eles ganhavam, gastavam no tratamento da minha avó. Mas um dia, ele me deixou tentar com a última moeda que tinha, e pegou um dinossauro de pelúcia para mim. Aquilo ficou gravado na minha memória. Então, ao ver aquela garotinha lutando tanto, me aproximei.

— Ei, quer ajuda? — perguntei, me abaixando para ficar no nível dela.

— Não posso falar com estranhos... — ela respondeu, hesitante, mas sem deixar de olhar para o ursinho.

— Relaxa. Só vou pegar o ursinho para você. Qual você quer? — Ela apontou para um urso polar com um laço amarelo no pescoço. Eu me concentrei, ajustei a garra e, com apenas uma tentativa, consegui.

— Aqui, pequena, o seu ursinho.

— Você está incomodando o garoto, Hope? — O pai dela apareceu de repente, seu rosto sério.

— Tá tudo bem, tio. Eu ofereci ajuda. — expliquei, tranquilo, enquanto ele me estudava.

— Você está servindo de babá? — Ele olhou para o folheto de reforço de matemática que eu tinha colado na janela do mercadinho.

— Na verdade, dou aulas. — respondi, encolhendo os ombros.

— Quantos anos você tem, garoto? E onde estão seus pais? — Ele parecia estar avaliando se poderia confiar em mim.

— Tenho 15, senhor. Minha mãe está no trabalho, ela é policial, trabalha na delegacia ali no fim da rua... Meu pai faleceu há uns dois anos.

O homem fez uma pausa. Seu olhar suavizou um pouco.

— Sinto muito... Bom, acha que poderia cuidar da Hope por algumas horas, todo meio de semana? Só até eu voltar do trabalho?

Eu hesitei. Não era exatamente o que eu planejava, mas...

— Claro, senhor. — Respondi, afinal, precisava de dinheiro, e cuidar de uma criança por algumas horas não parecia tão ruim.

E assim, por cerca de seis meses, até a mãe dela melhorar, eu fiquei tomando conta da Hope. Às vezes, as duas horas que ele prometia se estendiam um pouco mais, mas eu não me importava. Hope era uma boa menina. Eu realmente gostava da companhia dela.

— Hope, o que sua mãe tem? — perguntei um dia, quando ela parecia mais pensativa.

— Meu pai disse que ela está com a cabeça ruim... — Ela desviou o olhar. Soube depois que a mãe de Hope tinha sofrido uma depressão severa após perder um bebê no final da gravidez. Chegou a um ponto tão extremo que ela quase se jogou na frente de um carro. Interná-la foi a única solução.

Com o tempo, pegar ursinhos para a Hope virou algo que eu fazia não só para me divertir, mas para vê-la sorrir. Aquele sorriso iluminava o ambiente. Minha mãe se encantou com ela também, e logo Hope começou a frequentar nossa casa. Quando a mãe dela saiu do hospital, nossas famílias se aproximaram ainda mais.

Mas, no dia 20 de setembro de 2022, Hope desapareceu. Minha mãe e os pais dela enlouqueceram procurando por ela, mas nunca a encontraram. E, durante essa busca incansável, seus pais e minha mãe... morreram.

Eu tinha apenas 16 anos. E me lembro claramente daquele dia. Eu estava estudando na cozinha quando a campainha tocou.

— Você deve ser o Barry. Não sei se se lembra de mim, mas eu... — O homem parou na porta.

— Delegado Willians... Lembro sim. O senhor é chefe da minha mãe.

Ele assentiu, tenso.

— É sobre ela que eu vim falar... sua mãe, a Vanessa... eu...

— O que aconteceu com a minha mãe, delegado? — Minha voz tremeu, meus olhos já enchendo de lágrimas, temendo o pior.

— Sua mãe estava investigando o caso da família Lee. Os pais de Hope haviam descoberto algumas pistas e foram até o local. Eu sinto muito, Barry...

— O que aconteceu? Por que está dizendo isso? O que aconteceu com eles? — Perguntei, embora no fundo eu já soubesse. Eu só não queria acreditar.

— Sua mãe tentou impedi-los de irem sozinhos, achou que seria perigoso... mas a gangue que sequestrou a Hope estava eliminando todas as pontas soltas. Eles mataram o casal e... sua mãe também.

O delegado, que sempre foi próximo da nossa família, lutava para conter as lágrimas. Eu podia ver que ele estava sofrendo tanto quanto eu, mas se segurava. Ele precisava ser forte por mim.

Daquele dia em diante, ele me ajudou a seguir em frente. Me criou como se fosse seu filho. E oito anos depois, com o apoio dele, me tornei policial. Dediquei minha vida a seguir as pistas que minha mãe havia deixado, na esperança de encontrar a Hope...

E foi só depois de todos esses anos que descobri parte da verdade. Uma gangue estava usando crianças para testes científicos, e como Hope tinha dupla nacionalidade... e seu visual não correspondia ao padrão do país... ela foi vista como descartável. Apesar de sua mãe ser americana, seu pai era coreano, e seus olhos puxados faziam com que não fosse aceita por completo.

Demorei muito para descobrir que a Eun-Jin era, na verdade, a Hope... Porque o nome que constava nos registros policiais não era o mesmo que eu conhecia. Hope Lee... na verdade, era Hope Eun-Jin Lee.

No pain No emotionOnde histórias criam vida. Descubra agora