Capítulo 2 - Eu só quero atirar

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Erik abriu os olhos lentamente, sentindo o peso do silêncio ao seu redor. O quarto estava escuro e frio, só iluminado pela luz suave que entrava pela janela, onde a neve caía em flocos lentos. Ele achava que ia acordar cheio de emoções — culpa, remorso, pânico. Mas nada disso veio. Em vez disso, uma sensação estranha e boa tomou conta dele. Era como borboletas no estômago, mas de um jeito que o fazia se sentir... feliz.

Ele ficou ali, deitado, tentando entender o que sentia. Deveria estar se sentindo culpado, certo?

Revirou os olhos, achando uma idiotice tentar se sentir culpado por algo que simplesmente não sentia.

O Dr. Oziel havia dito uma vez que ele não devia tentar controlar suas emoções. "Todo sentimento é válido", ele tinha dito, com aquele ar pretensioso. Erik achava Oziel um idiota na maior parte do tempo, mas dessa vez o conselho parecia fazer algum sentido. Se ele não sentia culpa, por que forçar? Deveria apenas seguir em frente.

Ele saiu da cama e foi direto para o chuveiro, sentindo o alívio da água quente escorrendo pelo corpo, enquanto tentava afastar o pensamento do beijo. Foi rápido, passageiro. Não precisava tornar aquilo algo maior do que era.

Depois de se vestir, desceu as escadas, ouvindo as vozes ecoando da cozinha antes mesmo de chegar lá.

— Você não está se esforçando o suficiente, Lyle! — José disse, claramente irritado, a voz aumentando a cada palavra. — Eu te dei tudo para ser o melhor, e o que você faz? Fica aí, jogando fora todas as suas chances! Princeton não vai te aceitar com essa atitude ridícula.

Lyle, sentado à mesa, revirou os olhos, visivelmente cansado da conversa.

— Eu tô tentando, pai, mas talvez eu não queira Princeton. Já pensou nisso? Talvez eu queira algo diferente.

José bateu a mão na mesa, os olhos faiscando de raiva.

— Algo diferente? O que seria isso, Lyle? Ficar sem fazer nada, malhando o dia todo e vivendo às minhas custas?

Erik foi até a bancada e se serviu de café, tentando se manter invisível enquanto a tensão aumentava.

— Não é assim, — Lyle murmurou, olhando para o pai. — Eu só... eu só não quero seguir o caminho que você quer. Eu não sou você, pai.

— E isso está claro! — José retrucou com sarcasmo. — Porque se fosse, pelo menos teria algum senso de responsabilidade. O mundo não vai esperar por você!

Kitty, que até então estava perto do fogão, se virou para Lyle com uma expressão séria.

— Seu pai está certo, Lyle. Você não pode continuar assim, sem direção. Precisamos que você leve isso a sério.

Lyle olhou para a mãe

— Mãe, sério? Você acha que eu não tô tentando?

— Não o suficiente, — Kitty respondeu com firmeza. — Você está jogando fora as oportunidades que seu pai trabalhou tanto para te dar. E isso tem que mudar.

— Isso de novo! — Lyle levantou-se de repente, a cadeira rangendo pelo movimento brusco. — Vocês dois só sabem cobrar, cobrar e cobrar! Não importa o que eu faça, nunca vai ser o bastante!

José deu um passo à frente, o rosto ficando vermelho de raiva.

— Porque você não faz o bastante! Você acha que tem todo o tempo do mundo, mas a realidade é que você está se enterrando antes mesmo de começar. Você não percebe?

Lyle apertou os punhos com força, o rosto vermelho de frustração. Ele olhou para os pais, que o encaravam com aquela mistura de decepção e controle que ele já estava cansado de ver. Não aguentava mais.

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