Capítulo 13 - Eu nunca disse?

354 32 46
                                    

O sol já havia nascido, tingindo o céu de um laranja suave, quando Erik e Lyle dirigiam de volta para casa em silêncio. O som do motor do carro preenchia o ar.

Erik estava dirigindo, as mãos firmemente agarradas no volante, mas seu olhar estava perdido além da estrada. Lyle, ao seu lado, parecia relaxado. 

— Você acha que a Caridad ou o jardineiro já encontraram? — perguntou Lyle.

Erik engoliu seco, os olhos ainda fixos na estrada à frente.

— Não sei — respondeu Erik, a voz baixa. — Talvez. Depende de que horas a Caridad chega para começar o trabalho. Ou o jardineiro...

— Vamos saber logo. — Lyle sorriu de canto, olhando pela janela.

Erik não disse mais nada, mas seus dedos se apertaram ainda mais no volante. Era difícil admitir, mas estava preocupado. A cena toda parecia surreal; os disparos, o sangue. Agora, com o sol brilhando, a realidade parecia ainda mais opressora. "Eles estão mortos", ele pensava repetidamente. Seus pais.

Lyle parecia mais calmo, como se o pior já tivesse passado, mas para Erik, o pior ainda estava por vir.

— Eles já estão mortos, Erik. — A voz de Lyle cortou seus pensamentos, como se tivesse lido sua mente. — Ninguém vai conseguir nos ligar a isso. A noite foi perfeita.

Erik sabia que Lyle estava certo em teoria, mas a ansiedade borbulhava dentro dele. A sensação de que algo poderia dar errado o deixava inquieto. Ele queria acreditar que eles tinham sido cuidadosos o suficiente, que a alibi construída com Nick, as prostitutas e os clubes de strip seria o suficiente. Mas a dúvida persistia.

— E se... — Erik começou, mas parou.

Lyle o olhou de lado, com a expressão de quem já tinha pensado em todas as possibilidades, mas não queria admitir nenhuma fraqueza naquele momento.

— Não tem e se, Erik. A gente fez o que tinha que fazer. — Lyle estendeu a mão e colocou sobre a de Erik, que estava rígida no volante. — Agora a gente volta pra casa, age normalmente e espera as coisas seguirem o curso. Ninguém vai suspeitar da gente.

Erik assentiu levemente, tentando absorver aquela confiança.

Quando dobraram a esquina de sua rua, o coração de Erik disparou ao ver o que os esperava: carros de polícia já estacionados em frente à casa. Havia uma multidão de curiosos e vizinhos se amontoando na calçada, enquanto jornalistas e suas câmeras começavam a se alinhar, a poucos metros da cena. Microfones, flashes e vozes agitadas enchiam o ar, criando um caos controlado.

Erik sentiu uma onda de pânico subir por sua espinha. Os corpos de seus pais haviam sido descobertos. E agora, eles estavam prestes a ser jogados no centro desse furacão.

Ele respirou fundo, mas o ar parecia não preencher seus pulmões. Lyle, ao seu lado, manteve a expressão séria.

— Eles encontraram — murmurou Lyle, sem qualquer surpresa na voz.

Erik sentiu sua garganta secar, e suas mãos tremiam levemente sobre o volante. Eles estavam à beira do maior teste de suas vidas. Não havia tempo para hesitar, para ter medo.

— Vamos ter que ser bons, Lyle — sussurrou Erik, tentando controlar o tremor na voz. — Muito bons.

— Nós já somos — Lyle respondeu com um meio sorriso, mas apesar da calma aparente, havia um frio em seu estômago.

Erik estacionou o carro um pouco mais distante. A movimentação na frente da casa era intensa, policiais iam e vinham, enquanto um homem de terno, provavelmente um detetive, falava com um grupo de oficiais.

Além das AparênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora