Capítulo 11 - Não faz sentido...

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O ambiente na sala de estar estava estranhamente tenso e, ao mesmo tempo, desconcertante. A mesinha de centro exibia um jornal com a manchete em negrito: "Herdeiros Menendez presos por furtos", acompanhada de uma foto dos dois irmãos.

Erik ainda se perguntava como os jornalistas haviam sido tão rápidos. Ele se mexeu desconfortavelmente no sofá, lançando olhares rápidos para Lyle, que estava com os braços cruzados, a expressão endurecida, esperando pela próxima explosão de José.

Mas, surpreendentemente, essa explosão não veio.

José estava sentado no outro sofá, uma expressão forçada no rosto, algo que tentava se assemelhar a um sorriso. Ele segurava a mão de Kitty, que estava pálida e visivelmente abalada, como se quisesse estar em qualquer outro lugar que não fosse ali.

— Eu... — José começou, sua voz mais calma do que eles esperavam. — Fui muito duro com vocês. Acho que isso tudo é minha culpa.

Erik e Lyle se entreolharam. José forçou o sorriso novamente, soltando a mão de Kitty para se inclinar um pouco para frente.

— Eu sempre quis que vocês fossem fortes, melhores do que eu. Quis ensinar vocês a serem homens. Talvez eu tenha ido longe demais.

— Talvez? — Lyle retrucou, o sarcasmo afiado em sua voz.

Erik continuava calado, observando com atenção cada movimento, cada palavra dita.

— O que eu quero dizer, Lyle, é que talvez eu não tenha sido o pai que vocês precisavam. — José falou, agora olhando diretamente para o filho mais velho. — Eu fui... duro demais. E com essa história toda de prisão, percebo que falhei em alguns aspectos.

Kitty permaneceu imóvel, ainda parecendo perdida, sem oferecer nenhuma palavra de apoio ou reprovação. José, por outro lado, abriu um sorriso forçado, olhando primeiro para Kitty, como se buscasse alguma confirmação silenciosa, e depois voltou seu olhar para os meninos.

— Vocês precisam entender — José começou, sua voz quase doce, mas com um tom calculado. — Nenhum pai é perfeito. Eu mesmo tenho várias reclamações sobre o meu pai.

Ele fez uma pausa, como se esperasse alguma reação dos filhos, mas Lyle e Erik apenas o observavam em silêncio, a tensão ainda presente no ar.

— Meu pai me batia também, sabiam? — José continuou, seu sorriso nunca deixando o rosto. — Batia até eu desmaiar. Não me ouvia, não ligava para o que eu queria dizer, o que eu sentia... — Ele suspirou, balançando a cabeça. — Talvez eu tenha cometido os mesmos erros com vocês, sem perceber. Infelizmente, essa é uma das coisas que herdamos, e é difícil escapar disso.

Lyle olhou para Erik de relance, mas nenhum dos dois sabia exatamente o que dizer. Eles estavam tão acostumados com a fúria do pai, com seus gritos e castigos, que essa versão de José, quase arrependida e reflexiva, era completamente desorientadora.

Ainda sorrindo, José suspirou mais uma vez e apoiou as mãos nos joelhos, inclinando-se ligeiramente para frente.

— Eu só quero que vocês entendam, filhos. — Ele disse, com a voz mais suave, quase paternal. — Não é fácil para mim lidar com... com o relacionamento entre vocês dois.

Lyle imediatamente endureceu, e Erik, sentado ao seu lado, também ficou tenso. Eles sabiam o que estava por vir, ou pelo menos achavam que sabiam.

— Eu tentei proteger vocês. — José continuou, o sorriso sumindo enquanto ele falava. — Enviei Erik para Cuba, tentei separar vocês... Achei que seria o melhor. Mas agora vejo que não adianta.

Kitty finalmente moveu-se, ajeitando-se no sofá, mas ainda sem dizer nada. Seu silêncio era estranho, mas, de alguma forma, indicava que ela sabia o que estava por vir.

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