Capítulo 6 - Isso é o que você queria, não é?

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Erik enxugou as lágrimas com as costas das mãos, tentando afastar a tristeza que o consumia. Ele puxou a camisa pela cabeça, desabotoou o jeans, ficando apenas de cueca, e guardou a caixa debaixo da cama.

O quarto parecia sufocante com o calor de Beverly Hills naquela noite. Deitou-se, sentindo a brisa morna da janela aberta, e logo adormeceu de tão cansado.

De repente, acordou assustado. A porta do quarto se abriu com força, quebrando o silêncio da noite. Desorientado, ele viu Lyle entrar cambaleando, claramente bêbado, com movimentos desajeitados e o olhar perdido.

Lyle começou a tirar os sapatos, a camisa e a calça, ficando apenas de cueca, numa despreocupação que fez Erik franzir a testa. Ele observou o irmão por alguns segundos e notou que Lyle estava mais forte, com músculos mais definidos, especialmente no abdômen.

Erik não pôde evitar piscar, surpreso, enquanto observava o corpo do irmão, mas sentiu-se um pouco envergonhado por prestar tanta atenção.

— Lyle... — disse Erik, meio tímido, a voz hesitante no meio da escuridão do quarto. — Você... você entrou no quarto errado.

Lyle bufou com desdém, ignorando completamente as palavras de Erik, como se nem as tivesse ouvido. Ele cambaleou até a cama e se jogou pesadamente sobre o colchão, deitando-se de barriga para baixo, os braços esticados de forma desleixada. O corpo ocupava boa parte da cama, com as pernas parcialmente pendendo para fora.

— Tá tudo girando... — murmurou Lyle, a voz arrastada pelo álcool. — Bebi demais...

Erik o observou por um instante, sem saber o que dizer. A confusão estava evidente em seu rosto.

— É... eu percebi — murmurou, mais para si mesmo, enquanto tentava se ajeitar no espaço que restava da cama, ainda sentindo o calor.

Lyle ficou em silêncio, e por um breve momento, Erik achou que ele já havia caído no sono, especialmente com o cheiro de álcool impregnando o ar. Ele começou a relaxar, mas então Lyle quebrou o silêncio, sua voz baixa e rouca:

— Por que você escreveu aquelas coisas... sobre matar os nossos pais?

A pergunta pairou no ar, fazendo o coração de Erik disparar. Ele engoliu em seco, a garganta apertada, tentando pensar em uma resposta que soasse convincente, que fizesse Lyle não pensar nele como um monstro.

— Foi... foi só no calor do momento — disse Erik, com a voz mais baixa do que pretendia. — Eu estava com raiva... Eu não quis dizer de verdade.

Por dentro, Erik sabia que aquilo não era a verdade. Ele não tinha sido apenas uma explosão de raiva. Uma parte dele, uma parte profunda e sombria, queria que seus pais estivessem mortos. Queria estar livre. Mas ele não podia admitir isso para Lyle.

Para sua surpresa, Lyle apenas bufou, virando-se ligeiramente na cama, ainda com os olhos semiabertos e a voz carregada de indiferença, quase casual.

— Se você quisesse... eu mataria os nossos pais.

Erik congelou. Seu coração parou por um segundo, a respiração presa no peito. Ele olhou para Lyle, confuso e incrédulo. Não havia hesitação ou choque na voz do irmão, como se ele estivesse oferecendo algo tão banal quanto sair para dar uma volta.

— O quê? — Erik sussurrou, sua voz quase falhando.

Lyle finalmente se virou para encará-lo, com os olhos turvos pelo álcool, mas com um brilho inquietante.

— Se você quisesse... eu faria — repetiu Lyle, com o mesmo tom despreocupado. — Eu não me importo mais. Eles me tiraram tudo também.

Erik ficou surpreso com a resposta do irmão, mas logo um leve sorriso apareceu em seu rosto. Sentiu algo estranho crescer dentro dele, uma satisfação inesperada. Ele olhou para Lyle, ainda jogado na cama, e uma sensação de cumplicidade tomou conta dele.

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