Best of Both Worlds - Pejão

Capítulo 02: Então vai se foder, você e seu rostinho lindo

Pov Pedro:

Sabe aquela frase “nunca conheça seu próprio ídolo se não quiser se decepcionar”? Bem, eu poderia dizer que também não é bom você conhecer alguém que você já não gostava, porque pode sempre piorar. E quando piora, puta que pariu, piora com força até demais.

Há pouco mais de uma semana eu havia sido contratado para trabalhar na UFO, a vaga veio pela indicação das minhas amigas, Malu e Marília, e estar ali era uma grande realização profissional. A chance de trabalhar sob a tutelagem de pessoas tão jovens quanto Renan e Giovana, era incrível, e fazer parte de uma empresa que era verdadeiramente inclusiva e saudável, era simplesmente uma oportunidade única, realmente como um sonho. Ou melhor, quase como um sonho. 

Eu ainda não tinha tido o desprazer de conhecê-lo, mas sua fama rodava pelos funcionários de vários cargos da empresa. Arrogante, cínico, galinha e mimado. Essas eram algumas das coisas que eu já havia escutado sobre o mais novo queridinho da mídia, e meu mais novo chefe, Jão Balbino. A mídia o pintava como um fenômeno, um astro, a grande revelação da nossa geração, um verdadeiro gênio e pioneiro no cenário pop brasileiro, e poderia até ser verdade, mas como chefe, tudo que era falado sobre ele, eram como ele era exigente, reclamão e mandão.  

Como ele conseguia ser assim tão insuportável eu não sabia, mas iria descobrir em breve, ou talvez não tão em em breve assim. No momento, enquanto estava encarando o relógio que tiquetaqueava suavemente na sala, marcando o atraso da estrelinha, eu poderia acrescentar irresponsável para a lista de defeitos do loirinho sensação. 

Eu não conhecia todos da equipe, ainda estava naquele processo agonizante de conhecer meus colegas de trabalho e a empresa, mas o pouco que conhecia podia afirmar duas coisas: em sua grande maioria os funcionários eram excepcionais, e Jão Balbino era um pau no cu. Devido a uma confusão com meus dados, meu e-mail corporativo ainda não estava funcionando, sendo assim, eu sequer sabia dessa reunião até Malu me ligar desesperada me procurando. Aparentemente, porém, eu não estava assim tão por fora, já que a reunião havia sido marcada de última hora e o assunto era urgente, requisitando que todos os membros da parte criativa e financeira estivessem lá pontualmente às 9h. 

O único problema é que já se passavam das nove e vinte e nada do cantor aparecer. Era visível que Renan, seu empresário e sócio, tentava discretamente se comunicar com ele, sem nenhum resultado. 

Era estranho, pra mim odiar alguém que eu nem conhecia, sempre fui adepto a segundas, terceiras e, às vezes, até mesmo quartas, chances, mas esse cara me tirava do sério, e eu nunca havia cruzado o meu caminho com o dele. 

— Eu não acredito que eu tive que parar tudo pro Jão se atrasar. — Malu reclamou ao meu lado baixinho, revirando seus olhos. Malu assim como eu estava trabalhando na parte criativa de direção, mesmo que nossos cargos não fossem o mesmo, se complementavam, o que me forçava a passar longos períodos de tempo ao seu lado.

— Ele sempre faz isso? — Perguntei me sentindo incomodado, e com a bunda começando a doer na cadeira desconfortável. Como alguém com tanto dinheiro não melhorava as cadeiras dos próprios funcionários?

— Quase sempre, mas normalmente o atraso não é tanto. — Marília suspirou soando cansada. De todos, ela era quem mais tinha que escutar os ataques de estrelismo dele. — Espero que essa merda não demore tanto, preciso terminar o conceito do figurino para o próximo show da Clarissa.

— Vai dar tudo certo, Mari. — Afirmei com um sorriso tranquilizador, tentando passar um pouco de calma para minha amiga. Eu não me sentia calmo ou esperançoso, mas não custava nada tentar aliviar a pressão.

— Sortudo é o João, né? — Malu sussurrou com uma risadinha. — Nunca precisa vir nessas merdas.

— Eu não sei se é muita sorte, não, Lu. — a loira respondeu insegura. — Ele quem tem que ficar ouvindo o Jão sozinho. — ela suspirou cansada. — E ele é tão na dele que duvido que se o Jão não se aproveite disso.