Pov João:
Finalmente sexta-feira. Parecia que quanto mais eu desejava o fim de semana, mais longa a semana se tornava. Há quatro dias eu havia esbarrado em Pedro Tófani. Há quatro dias Jão havia dado em cima do seu mais novo publicitário.
Podia-se dizer que as coisas na empresa estavam um pouco caóticas após isso. Era sempre difícil os dias em que eu precisava estar na UFO como Jão, pois ali, em minha cabeça era um espaço muito próprio para o João Vitor, era estranho pensar que cada dia mais o Jão era requisitado presencialmente nas reuniões, por mais que as pessoas não gostassem dele, a sua genialidade era ouvida e necessária. E é claro os investidores queriam que os dois sócios principais estivessem sempre atentos e presentes nas reuniões, afinal, já éramos mais jovens que todos empresários normalmente são, já somos do ramo artístico, ainda estamos nos consolidando no mercado, o mínimo que eles esperavam era o rosto do Jão estampado nos corredores.
Felizmente, hoje eu pude deixar o Jão em casa trancado na parte mais escura do armário, e me vestir somente de João Vitor, apenas mais um na multidão. Não é que eu não ame ser o Jão e tudo que ele proporciona, mas a atenção constante que ele tinha sob ele, fazia minha cabeça girar incansavelmente por horas, mesmo quando a desculpa de estar usando uma peruca se transformava em uma grande mentira. Por mais que ser o João não fosse nada muito grandioso, e normalmente bem desinteressante, a normalidade do dia a dia, de ser tratado como igual por meus colegas na empresa, de não ter fãs me perseguindo e câmeras apontadas para mim atentas a todos meus defeitos e erros era muito bom. Até porque tudo isso minha cabeça conseguia fazer sozinha, eu não precisava de milhares de pessoas me relembrando o quanto eu não era bom o bastante, bonito o bastante ou talentoso o bastante.
Infelizmente, ser o João vinha com demandas também, e eu me via preso há algumas boas horas em uma publicidade que estava marcada como urgente para a divulgação do mais novo protetor labial da Nívea, e eu me encontrava no mais puro desespero para entender o conceito que a marca e os parceiros deixaram para mim.
Olhei para minha mesa, duas canecas de café sujas, com apenas a marca da borra do pó ali, e uma outra caneca com chá pela metade, suspirando tomei um gole, me arrependendo imediatamente ao fazer. Estava frio pra porra. Que inferno. Eu sempre esquecia o chá pela metade, já que diferente do café que eu praticamente absorvia em cinco minutos, o chá eu gostava de tomar com calma.
Meu estômago reclamava comigo me lembrando das consequências de comer um pacote de biscoito recheado e uma lata de energético como café da manhã, e o fato do meu lanche da manhã ter sido uma maçã verde pela metade, também não ajudava muito. Cansado de procurar uma resposta na tela vazia do computador, me levantei de minha cadeira sentindo minhas costas estalarem imediatamente.
— Porra. — sussurrei baixinho me alongando brevemente. — Eu preciso trocar essa merda de cadeira, minhas costas estão me matando.
Não me incomodei em pegar as canecas vazias, sabendo que eu traria ainda mais canecas até o fim do meu expediente, e parar para lavá-las agora seria apenas uma grande perda de tempo. Decidi ir jogar fora o restante do chá que havia na caneca, assim eu evitaria mais uma vez beber aquela abominação e com meu celular em mãos checando meu twitter segui em direção da copa calmamente, não olhando para onde eu andava. Eu nunca olhava para onde eu andava.
Estava distraído rindo de um meme bobo sobre gatinhos que não percebi que tinha alguma coisa na minha frente, ou melhor dizendo, alguém. Nossos corpos se chocam brutalmente me fazendo derrubar meu celular no chão, e para minha grande sorte, mostrando exatamente meu perfil da rede social aberta. Pelo menos eu não derramei o chá, nem quebrei a caneca.
— Opa! — ele falou com aquele seu sotaque delicioso e o sorriso encantador, pegando meu celular do chão e o estendendo para mim. — A gente precisa parar de se encontrar assim, João.
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Best of Both Worlds - Pejão
FanfictionDuas personalidades, uma pessoa, uma peruca e um sonho. Foi assim que tudo começou. João Vitor sempre foi uma pessoa tímida, reservada e sempre está por aí com seus óculos de grau, já Jão, é confiante, despojado e a alma da festa. Eles não parecem t...