Capítulo 04: Enchendo a cara e falando mal das mesmas pessoas

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Pov João:

Finalmente sábado, o fim de semana, era para mim, assim como para tantos o momento mais aguardado da semana. Não vou mentir e dizer que eu gostava do fim de semana porque ansiava para sair de casa, até porque por mais que eu gostasse de sair para beber de vez em quando, meu programa favorito desde que me formei da faculdade era ficar vendo séries e comendo besteira com meus gatos. 

E este era mais um dos finais de semana que eu estava planejando fazer o mesmo, descansar um pouco, esvaziar a cabeça. Nada me animava mais do que a perspectiva de reassistir Doctor Who, comendo qualquer besteira que me interessasse, além de uma taça de vinho bem cheia na companhia dos meus gatos, aproveitando que a turnê havia acabado e que eu não precisava mais ficar indo de um estado para outro todo final de semana. Finalmente, por um tempo, a rotina exaustiva tinha acabado.

Apesar do fim da rotina cansativa de shows, a rotina do dia a dia vinha se mostrando cada vez mais corrida e puxada, desde que Jão passou a ser cada vez mais requisitado na empresa, após a pandemia isso era cada vez mais necessário e eu me via cada dia mais precisando arrumar desculpas para o João Vitor se ausentar. Viver como duas pessoas e dois profissionais que trabalhavam na mesma empresa e horário era cansativo, porque ainda que eu fosse o “chefe”, ainda assim, precisava trabalhar e entregar minhas demandas como publicitário. Sem contar as composições, gravações e shows, tudo isso, sem ninguém descobrir que eu estava vivendo por dois, acabava sendo exaustivo, e às vezes, confuso.

Levantei da cama naquela manhã, ansiando por um café da manhã na padaria perto de casa, estava faminto, e nem um pouco a fim de ir ao mercado. Normalmente eu preferia me virar com o que tinha em casa, mesmo que meus dotes culinários fossem quase nulos até mesmo para o mais simples, mas naquele momento, decidi fazer minha vontade, coisa que eu pouco fazia, me colocar como prioridade nunca foi meu forte.

Decidido que estaria me priorizando nessa manhã, tomei um banho relaxante com calma, lavando meus cabelos com cuidado, dando atenção a passar uma hidratação nos cachos que estavam um pouco ressecados, mesmo que eu provavelmente fosse para a academia ainda hoje, me sentia necessitado de um banho da cabeça aos pés, aquela necessidade de tentar tirar os problemas do corpo e fazê-los escorrerem pelo ralo.  Coloquei uma roupa confortável que eu gostasse, um short jeans escuro e uma camiseta qualquer de algum anime que eu já havia assistido mais de uma vez. Nada muito grandioso, apenas estiloso o suficiente para quando eu olhasse meu reflexo não o odiasse por completo. 

Andei pela casa suspirando ao sentir o chão limpo, agradecendo mentalmente a mim mesmo por ter escolhido me dar o luxo de pagar alguém para cuidar da minha casa e fazer comida para mim, já que eu mal tinha tempo para estar em casa nos últimos tempos. Parei na cozinha apenas para colocar comida para meus gatos e trocar a água, antes de pegar minha carteira e as chaves de casa, saindo distraído.

O ar poluído da grande São Paulo enchia meus pulmões, e, por mais que eu preferisse mil vezes mais os ares frescos e puros do campo, havia algo no caos sensorial dessa cidade que me fazia sorrir, quase sem perceber. São Paulo foi, durante tanto tempo, um sonho distante, algo que parecia inalcançável, e agora, mesmo depois de anos vivendo aqui, ainda me sentia um pouco deslumbrado pela sua imensidão. Cada esquina, cada ruído constante dos carros e dos prédios que se erguiam em todas as direções, me lembrava de todas as vezes em que desejei estar exatamente onde estou.

Era como se essa cidade caótica, com toda a sua poluição e pressa, ainda carregasse em si um pedaço da minha própria história, um reflexo das lutas e das conquistas que me trouxeram até aqui. Havia uma beleza escondida nesse caos, algo que só quem viveu seus altos e baixos podia entender. E por mais que a nostalgia do campo ainda me abraçasse de vez em quando, São Paulo era agora uma parte de mim, e eu não conseguia deixar de me sentir grato por isso.

Best of Both Worlds - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora