Pov João:
Sabe aquele dia em que tudo que não pode dar errado, dá? Pois é. É um desses dias filhos da puta. Era uma das primeiras reuniões que eu teria sobre Jão como Jão após a grande turnê do último ano. Seria uma das primeiras reuniões sobre o que fazer com minha carreira ao vivo e a cores, comigo representando a mim mesmo na empresa, todas as outras haviam sido representadas por Renan. Durante os últimos anos, do lançamento do álbum até a turnê, eu só precisava ser o Jão quando estava experimentando figurinos, gravando, passando as músicas e nos shows, raramente me exigiam estar na empresa, isso era trabalho do João Vitor.
Hoje seria a primeira reunião para decidir os próximos passos, e o começo de uma participação ainda mais ativa do Jão na empresa e eu estava atrasado. Muito atrasado.
Primeiro, tinha acordado atrasado, porque fiquei mais uma vez maratonando The Office enquanto comia pizza requentada e editava algumas fotos para a campanha da Coca-Cola. Ser meu próprio chefe e funcionário nem sempre era tão bom assim, a cobrança parecia ser sempre maior, de alguma forma estranha e distorcida.
E como São Paulo parecia me odiar às vezes, o trânsito estava ainda mais caótico que o normal, aparentemente algum jovem baladeiro resolveu às cinco da manhã bater num poste no meio da Paulista e atrasar milhares de pessoas com sua irresponsabilidade.
Sonolento, atrasado e morto de fome, era como eu me encontrava. Uma mochila nas costas e com menos de uma hora para apenas tomar decisões que poderiam definir todo o restante da minha carreira como cantor.
E como tudo que tá ruim pode sim piorar, a peruca que eu sempre usava quando estava de Jão, foi comida por Quito, um dos meus gatos, e agora, eu precisava dar um jeito de resolver mais esse problema. Porque não tinha como simplesmente não aparecer loiro, quando todo o conceito do meu eu artístico era justamente esse.
Isso, e , porque eu nunca teria coragem de ser o que o Jão era, não quando ele era tão grande e queria tanto, enquanto eu era tão frágil e pequeno. Me vestia dele para proteger o que eu verdadeiramente era, o João Vitor nunca seria bom o suficiente, mas Jão Balbino era.
E só isso que importava.
Parei em uma loja de cabelos qualquer que ficava perto da empresa, e comprei a primeira peruca loira e curta que encontrei, juntamente de um boné rosa, torcendo para isso ser o suficiente para tapear quem quer que estivesse presente nessa reunião. Anoto mentalmente que preciso falar com Renan para arrumar mais perucas confiáveis para mim, e talvez, um brinquedo de morder para os meus gatos.
Falando em Renan, senti meu celular vibrando com força no bolso da calça, e nem mesmo precisei retirar do bolso, para saber quem estava me ligando antes das 9h da manhã em plena segunda-feira.
— João, onde você está, cara? — Ele perguntou soando levemente frustrado, sua voz ecoava um pouco e eu podia imaginar que ele deveria ter fugido para um dos muitos banheiros para ligar pra mim sem dar muito na cara. — A reunião vai começar em meia hora e já tá praticamente todo mundo aqui.
— Aguenta só um pouquinho, eu juro que já tô chegando. – Falei com a minha melhor voz de coitado, sabendo muito bem que isso não me adiantaria de muita coisa, mas era tudo que eu tinha, né? — Aconteceu um probleminha aqui, mas já estou resolvendo.
— Ai, João, não vai me dizer que um dos seus gatos estragou a sua roupa. — Renan falou fazendo graça, sem saber o quão próximo da verdade que estava.
— Claro que não! — exclamei na defensiva, me aproximando para pagar as coisas que havia pego. — Olha, preciso desligar aqui, já te encontro.
— Tá certo. — ele confirmou soando um pouco mais calmo agora. — Vou esperar você na sala de reuniões, qualquer coisa me liga.
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Best of Both Worlds - Pejão
FanficDuas personalidades, uma pessoa, uma peruca e um sonho. Foi assim que tudo começou. João Vitor sempre foi uma pessoa tímida, reservada e sempre está por aí com seus óculos de grau, já Jão, é confiante, despojado e a alma da festa. Eles não parecem t...