002| 𝔇𝔲𝔳𝔦𝔡𝔞

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BLAIR ficou ao lado da irmã, retirando as ervas e rosas indesejadas sob a orientação sensível da freira. Trabalhar ao lado de uma irmã trazia-lhe um conforto inesperado. A paciência e devoção da freira, que tratava a cegueira não como uma limitação, mas como um convite para uma fé mais profunda, faziam Blair refletir sobre suas próprias inquietações.

━  Desculpe, Irmã, mas qual é seu nome? ━ Blair pergunta e a irmã se vira a ela enquanto toca seu rosto.

━ Agnes, irmã Blair ━ Ela diz gentilmente enquanto volta a por suas mãos na terra tirando algumas folhas e flores dali.

Após alguns minutos de trabalho silencioso, Blair sentiu-se compelida a perguntar, ainda que com hesitação: Como você consegue encontrar tanta paz, irmã Agnes?

Agnes, sem interromper sua tarefa, respondeu com uma calma que parecia vir de um lugar muito além das palavras. ━ A verdadeira paz, minha filha, não depende do que podemos ver com os olhos, mas do que podemos sentir no coração. Minha fé em Jesus é minha visão. Ele guia meus passos, e mesmo que eu não veja o mundo ao meu redor, confio que Ele enxerga tudo por mim. É uma confiança cega, mas que me permite caminhar sem medo.

Blair ficou em silêncio, absorvendo as palavras da irmã. Era difícil para ela compreender como alguém podia sentir tanta segurança sem enxergar o mundo como ela o via. Mas, enquanto puxava outra erva daninha, pensou sobre suas próprias preocupações: os estudos, o trabalho, as responsabilidades que às vezes a sufocavam. Seriam elas tão grandes quanto imaginava, ou era a falta de confiança em algo maior que a fazia senti-las assim?

Irma Agnes agradeceu a ajuda de Blair, elas terminaram o serviço e então Agnes pega seus materiais e diz ━ Irei guardar as minhas coisas, Blair, você quer vir junto? ━ Blair sorri e agradece mas recusa, a garota apenas queria um tempo para respirar fundo.

Perdida em seus pensamentos, Blair deu um passo para trás, e seu corpo esbarrou em alguém. Virando-se rapidamente, ela viu o padre Nicholas, carregando algumas sacolas volumosas. O impacto fez com que as sacolas caíssem, espalhando seu conteúdo pelo chão. Blair, imediatamente vermelha de vergonha, abaixou-se rapidamente para ajudar a recolher os itens.

━ Ah, me desculpe, padre! ━ exclamou, apressada, tentando reunir o que estava no chão.

Nicholas, no entanto, não demonstrava sinal algum de aborrecimento. Pelo contrário, seu sorriso era sereno e acolhedor. ━ Não se preocupe, irmã Blair. Isso acontece. Acidentes fazem parte do caminho.

Blair, aliviada por sua gentileza, começou a pegar os objetos que estavam espalhados: cordas, pregos, algemas e outros utensílios incomuns que a deixaram visivelmente intrigada. Ela hesitou, mas sua educação a impediu de perguntar diretamente. Contudo, sua mente fervilhava de curiosidade. "Para que o padre precisaria de coisas assim?", pensou.

Enquanto Blair recolhia os itens com rapidez, Nicholas, sempre calmo, continuava a tranquilizá-la. ━ Estamos todos aqui para aprender, minha filha, tanto com nossos acertos quanto com nossos pequenos tropeços. Não deixe que isso a aflija.

Ela se forçou a sorrir em resposta, tentando não deixar transparecer a confusão que sentia ao ver os itens nas sacolas. ━ Obrigada, padre. Vou tentar ser mais cuidadosa da próxima vez.

Nicholas abaixou-se ao lado dela, pegando os últimos objetos e organizando-os com uma calma que parecia quase ensaiada. Colocando uma das mãos levemente sobre o ombro de Blair, ele disse com uma voz que carregava um estranho misto de paternalismo e algo mais profundo: ━ Seu coração está no lugar certo, Blair. E isso é o que mais importa.

Com aquele comentário enigmático, Nicholas se levantou, pegou as sacolas e, sem pressa, seguiu seu caminho pelo corredor que levava a uma parte mais reservada do convento.

Blair ficou de pé, observando-o desaparecer. Seus pensamentos giravam em torno dos objetos estranhos, da paciência inexplicável do padre e da serenidade de Agnes. O convento, que antes parecia um lugar simples de devoção e rotina, agora parecia esconder mistérios que ela ainda não entendia completamente. Algo ali não fazia sentido, mas, por ora, ela escolheu não se aprofundar. Contudo, a semente da dúvida havia sido plantada.

𝕲𝖗𝖔𝖙𝖊𝖘𝖖𝖚𝖊𝖗𝖎𝖊, Nicholas Alexander Chavez.Onde histórias criam vida. Descubra agora