007| 𝔦𝔪𝔞𝔤𝔦𝔫𝔞çã𝔬

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BLAIR passou a noite revirando na cama, incapaz de afastar da mente o que havia descoberto no escritório do padre Nicholas. A imagem da passagem secreta e da sala sinistra no subsolo a assombrava. Ela precisava contar a alguém, compartilhar o que vira para garantir que não estava enlouquecendo. E quem melhor para confiar do que a irmã Agnes?

Na manhã seguinte, após o café, Blair decidiu procurar Agnes. Encontrou-a no jardim, como de costume, cuidando das plantas com sua paciência característica. O sol fraco iluminava o semblante sereno da freira cega, que parecia alheia às preocupações que consumiam Blair. Agnes estava agachada, podando com delicadeza as folhas secas de uma roseira.

— Irmã Agnes — chamou Blair, aproximando-se devagar. Sua voz saiu mais hesitante do que esperava.

A freira sorriu ao reconhecer sua presença pelo som dos passos e pela energia familiar que Blair transmitia.

— Bom dia, Blair. Está tudo bem? Você parece preocupada — disse Agnes, erguendo o rosto levemente, embora seus olhos opacos não pudessem vê-la.

Blair sentiu um nó na garganta. Havia algo reconfortante na presença de Agnes, mas ao mesmo tempo, a jovem estava tomada por um medo crescente. E se Agnes não acreditasse nela? Ainda assim, precisava tentar.

— Eu... preciso te contar uma coisa — começou Blair, sentando-se ao lado dela na pequena mureta que cercava o jardim. — Algo aconteceu ontem... algo estranho na sala do padre Nicholas.

A irmã Agnes continuou trabalhando com as plantas, atenta, mas sem mostrar surpresa.

— Estranho? Como assim, minha querida?

Blair respirou fundo, tentando organizar as palavras.

— Fui limpar a sala dele como ele pediu. Mas, enquanto estava lá, eu... acabei encontrando uma passagem secreta — as palavras saíram rápidas, quase atropeladas. — Desci as escadas, e havia uma sala no subsolo, com objetos estranhos. Coisas que não pareciam ter nada a ver com o que fazemos aqui. Figuras, símbolos... era como um lugar de rituais, não sei. Parecia assustador, e eu... eu não sei o que pensar.

Por um momento, Agnes permaneceu em silêncio, suas mãos paradas sobre as rosas. Blair, com o coração acelerado, esperou por alguma resposta. Finalmente, a irmã falou, sua voz tão calma quanto antes.

— Blair, sei que o convento pode ser um lugar difícil para se acostumar. Às vezes, nossos medos e ansiedades criam coisas que não estão lá. — Ela suspirou suavemente. — O padre Nicholas é um homem de fé, dedicado ao nosso trabalho aqui. Ele não seria envolvido em algo do tipo que você descreveu.

Blair piscou, atônita. Esperava uma reação diferente. Agnes estava completamente tranquila, como se o que ela havia contado fosse fruto de uma mente confusa, talvez até uma imaginação febril.

— Mas eu juro que vi — insistiu Blair, sua voz se tornando mais aguda com a frustração. — Não estou inventando. A sala, os objetos... estavam lá, eu vi com meus próprios olhos.

Agnes balançou a cabeça lentamente, com um sorriso doce, mas condescendente.

— Eu acredito que você *pensa* que viu algo, Blair. Mas o padre Nicholas tem sido nada além de um servo fiel de Deus. Ele nos guia, nos ensina, nos cuida. Não consigo imaginar que ele estivesse envolvido em algo como isso que você descreveu. Você deve estar sobrecarregada, querida. Talvez o trabalho, ou as roupas que te incomodam, estejam mexendo com você mais do que pensa.

Blair mordeu o lábio, sentindo-se completamente frustrada. Era como se estivesse batendo contra uma parede intransponível. A serenidade de Agnes, sua confiança absoluta no padre, começava a fazer Blair duvidar de si mesma. Será que estava exagerando? Será que havia realmente visto tudo aquilo ou sua mente, tão cheia de suspeitas, havia distorcido a realidade?

— Eu... talvez você esteja certa, irmã — murmurou, a voz abafada pelo peso da confusão. — Talvez eu tenha... imaginado coisas. Só que... parecia tão real.

Agnes colocou uma mão reconfortante no ombro de Blair.

— Todos nós passamos por momentos de dúvida, Blair. O convento é um lugar de sacrifício, e o isolamento pode nos afetar de formas que não esperamos. O importante é focar na fé e no trabalho. O resto se resolverá com o tempo.

Blair assentiu lentamente, mas por dentro, estava em conflito. A confiança cega de Agnes no padre Nicholas era perturbadora. Mesmo que ela tivesse visto com seus próprios olhos, a dúvida agora plantada em sua mente crescia. E se estivesse realmente vendo coisas onde não existiam? E se fosse apenas o resultado do stress e das estranhas circunstâncias que cercavam sua permanência no convento?

— Você está certa, irmã. Talvez eu só precise descansar um pouco. — Blair forçou um sorriso antes de se levantar. — Obrigada por me ouvir.

— Sempre, Blair. Estou aqui para o que precisar — disse Agnes, com aquele sorriso tranquilo que sempre oferecia a quem estivesse ao seu redor.

Blair afastou-se do jardim, seu coração ainda pesado, mas sua mente confusa. Enquanto caminhava pelos corredores silenciosos do convento, não conseguia se livrar da sensação de que algo estava terrivelmente errado. Porém, com Agnes descartando seus temores tão facilmente, uma nova inquietação surgia: e se ela estivesse ficando louca?

Passou o restante do dia imersa em suas tarefas, tentando afastar as imagens perturbadoras da passagem secreta e da sala subterrânea. Mas, cada vez que fechava os olhos, podia ver aqueles símbolos estranhos e as figuras que não pertenciam àquele lugar sagrado. Algo dentro dela dizia que não poderia ignorar o que havia visto, mas o medo de estar errada — de estar imaginando tudo — começava a corroer sua confiança.

E, enquanto Blair lutava contra suas próprias dúvidas, a sombra do mistério que envolvia o padre Nicholas parecia crescer a cada dia.

𝕲𝖗𝖔𝖙𝖊𝖘𝖖𝖚𝖊𝖗𝖎𝖊, Nicholas Alexander Chavez.Onde histórias criam vida. Descubra agora