005| 𝔏𝔦𝔳𝔯𝔬𝔰

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BLAIR passou a noite em claro, revirando-se em sua cama. O tecido escuro que o padre havia lhe entregado horas antes, como uma espécie de novo uniforme, pesava em sua mente. Sentia-se sufocada pela expectativa do que estava por vir. Sua pele formigava de ansiedade, e uma sensação de desconforto parecia crescer a cada minuto. Ela tentava afastar os pensamentos, mas não conseguia ignorar os olhares julgadores das outras freiras que a seguiam por onde quer que fosse.

Na manhã seguinte, os murmúrios começaram novamente. Ao atravessar o refeitório, sentiu como se cada freira estivesse analisando cada detalhe de sua roupa, uma peça que parecia simples, mas que carregava um peso simbólico indesejado. O tecido era ajustado demais, e o comprimento, ligeiramente mais curto do que o habitual, destacava partes do corpo que ela preferia esconder. Era impossível não perceber os olhares. O julgamento pairava no ar.

Blair sabia que algo estava errado, mas sentia-se incapaz de falar abertamente sobre isso. O padre Nicholas não era alguém a quem se confrontava facilmente. No entanto, à medida que a manhã avançava, o desconforto tornou-se insuportável. Enquanto limpava silenciosamente o chão dos corredores, sua mente continuava a repetir as perguntas que ela sabia que deveria fazer. Por que ela? Por que aquele uniforme? Por que as outras freiras a olhavam de maneira tão diferente?

Foi então, enquanto se dirigia para a sala do padre Nicholas para suas tarefas diárias, que algo inesperado chamou sua atenção. A porta da sala estava entreaberta, e Blair pôde ver Nicholas mexendo em uma estante de livros. Ele puxou um dos volumes, e, para sua surpresa, uma pequena passagem se abriu na parede. O padre agiu de maneira casual, como se aquilo fosse parte de sua rotina. Em vez de descer as escadas que levavam ao subsolo, ele apenas colocou as sacolas que havia comprado dias atrás no topo da escada. Blair reconheceu os mesmos itens — cordas, pregos, algemas. Tudo aquilo parecia tão fora de lugar.

Seus olhos arregalaram-se enquanto ela observava escondida atrás da porta. O que significava aquela passagem? Por que ele escondia aquelas coisas? Sentia o coração acelerado e o medo crescendo. Queria sair dali, fugir para longe, mas seus pés estavam enraizados no chão. Ela não podia desviar o olhar.

Após deixar as sacolas, o padre Nicholas fechou a passagem com a mesma calma meticulosa com que a havia aberto. Então, ele se sentou em sua mesa, colocou os pés sobre ela e, distraído, começou a mastigar um lápis, pensativo. Parecia perdido em seus pensamentos, como se estivesse planejando algo importante. Blair se afastou lentamente, sem querer ser vista, mas a cena a atormentava. Havia algo muito mais sombrio acontecendo ali, e ela sabia que, de alguma forma, estava sendo arrastada para isso.

Quando o sino do convento ecoou, anunciando a hora das tarefas, Blair soube que não tinha escolha senão confrontar o padre. Havia muitas perguntas sem respostas. Respirando fundo, ela finalmente decidiu que era o momento de perguntar. Caminhou em direção à sala dele, o estômago revirando-se com a mistura de nervosismo e medo.

Ao entrar, o padre Nicholas a olhou com o mesmo sorriso calmo e controlado de sempre.

— Blair — ele começou, com sua voz serena —, está pronta para suas tarefas de hoje?

Ela hesitou por um instante, sentindo o peso de suas palavras na garganta, mas reuniu a coragem para falar.

— Padre... Eu... tenho uma pergunta.

Nicholas arqueou uma sobrancelha, intrigado. Ele gesticulou para que ela continuasse.

— O uniforme... — Blair disse, olhando para o chão, evitando o olhar do padre —, todas as outras faxineiras usavam isso?

A pergunta saiu hesitante, mas clara o suficiente para demonstrar o desconforto que ela sentia. Por um momento, o silêncio pairou na sala. Nicholas tirou o lápis da boca, abaixou os pés da mesa e inclinou-se ligeiramente para frente, seus olhos fixos nela, avaliando cada reação.

— Blair... — ele começou, com um tom de voz quase paternal —, você foi escolhida para algo especial. Nem todas as faxineiras tiveram a mesma sorte. Eu confio em você para essas tarefas, e isso é um privilégio.

Blair sentiu um arrepio percorrer seu corpo. As palavras dele, embora aparentemente gentis, tinham um peso que ela não conseguia ignorar. Tentou argumentar, mas suas mãos tremiam.

— Mas... as outras freiras, padre. Elas... elas me olham de um jeito estranho. Estão me julgando por usar isso. Eu... eu não consigo ignorar.

Nicholas se levantou lentamente da cadeira, caminhando até ficar bem à sua frente. Ele colocou a mão em seu ombro, apertando-o levemente, num gesto que pretendia ser reconfortante, mas que a fez sentir-se ainda mais aprisionada.

— Blair, as freiras... Elas não entendem o que você entende. Elas não sabem das responsabilidades que você carrega. Não se preocupe com o que dizem ou pensam. No final, é a sua devoção que importa, e eu estou aqui para garantir que você continue no caminho certo.

Blair queria protestar, queria dizer que não era justo, que aquilo tudo a deixava desconfortável. Mas as palavras morreram em sua garganta. Ela sabia que não tinha para onde fugir. Sabia que o padre tinha controle sobre ela de uma maneira que ela ainda não compreendia totalmente.

Nicholas sorriu novamente e, com um gesto calmo, voltou para sua mesa.

— Agora, vá — ele disse, de maneira quase casual. — Lembre-se de que a sala será limpa quando eu pedir, e apenas quando eu pedir. Qualquer desobediência resultará em punições que você não quer enfrentar.

O aviso foi claro, e Blair soube que não tinha outra escolha senão obedecer. Quando ela saiu da sala, o som da porta fechando-se atrás dela ecoou em sua mente como uma sentença final. Havia algo muito maior em jogo ali, algo que ela não entendia completamente. E, enquanto caminhava pelos corredores de pedra do convento, sentia que sua liberdade estava escorrendo pelas suas mãos, tão suave e silenciosa quanto os passos que ela dava.

𝕲𝖗𝖔𝖙𝖊𝖘𝖖𝖚𝖊𝖗𝖎𝖊, Nicholas Alexander Chavez.Onde histórias criam vida. Descubra agora