008| 𝖁𝖎𝖘𝖎𝖙𝖆𝖓𝖙𝖊

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NA NOITE anterior ao episódio que viria a mudar sua relação com o padre Nicholas, Blair estava dormindo profundamente no dormitório compartilhado com as outras irmãs. O silêncio pesava no ar, interrompido apenas pelo ocasional ranger das tábuas antigas do convento e o som de respirações suaves. Apesar de tudo parecer tranquilo, Agnes estava desperta, sua intuição afiada guiando-a em meio à escuridão, mesmo sem poder ver.

Ela sentia algo. Havia uma presença. Embora não pudesse ver, seus outros sentidos estavam alerta, como se cada som ao seu redor fosse amplificado. Então, sentiu o ar se mover, e a sensação clara de que alguém estava observando as irmãs no dormitório. Mais especificamente, que alguém estava observando Blair.

— Quem está aí? — perguntou Agnes em voz alta, seu tom firme, mas com um leve toque de medo.

Sua voz rasgou o silêncio, fazendo Blair despertar de repente, seu coração disparando ao ouvir a tensão na voz da freira. Ao abrir os olhos, o olhar de Blair foi direto para a porta entreaberta do dormitório. Seus olhos se arregalaram ao vislumbrar uma sombra, um vulto indistinto que parecia escorregar para fora do cômodo em um movimento rápido e furtivo. O medo subiu por sua espinha, fazendo seu corpo congelar momentaneamente.

— Irmã Agnes! — sussurrou Blair, sem conseguir conter o pânico na voz. — Eu vi... eu vi alguém ali na porta! — Ela apontou, ainda trêmula.

As outras irmãs começaram a acordar, irritadas e sonolentas. Uma delas, visivelmente incomodada, resmungou:

— O que está acontecendo? Por que estão fazendo tanto barulho? Não podemos ter uma noite de paz?

Outra freira, agora sentada em sua cama, suspirou de frustração:

— Vocês duas parem com isso e voltem a dormir. Estamos no convento, ninguém entraria aqui a essa hora.

Mas Blair estava longe de se acalmar. Suas mãos tremiam, e seu olhar não se desgrudava da porta.

— Eu vi alguém... ou algo — insistiu ela, tentando controlar o medo que a consumia.

Agnes, apesar de não ter visto nada, confiava plenamente em sua intuição. Seu semblante estava tenso, embora procurasse manter a calma.

— Senti uma presença — disse Agnes em voz baixa, para que apenas Blair pudesse ouvir. — Não sei o que foi, mas não acho que foi imaginação. Fique atenta.

As outras irmãs, já impacientes, deitaram-se de volta, murmurando sobre a necessidade de descanso. O quarto voltou a mergulhar no silêncio, mas Blair e Agnes permaneceram alertas.

— E agora? — Blair sussurrou, sentindo o coração ainda acelerado. — Você acha que... poderia ser o padre Nicholas?

Agnes franziu a testa, pensativa.

— Não sei, Blair. Mas o que eu senti não era bom. Pode ser que algo esteja acontecendo, mas não quero saltar para conclusões. Apenas, tenha cuidado.

Blair assentiu lentamente, mas as palavras de Agnes a deixaram inquieta. Voltou para sua cama, tentando descansar, mas o vulto que vira e a sensação que a freira descrevera assombravam seus pensamentos. Algo definitivamente estava errado naquele convento, e Blair se sentia cada vez mais envolvida nesse mistério.

Na manhã seguinte, o clima no convento parecia mais pesado, como se a inquietação da noite anterior pairasse no ar. E foi nessa manhã que o padre Nicholas começou a se aproximar mais de Blair. Ela notou seus olhares, mais longos e intensos do que o normal, e a maneira como ele parecia sempre estar por perto, como se estivesse esperando um momento para falar com ela.

No final da tarde, enquanto Blair terminava suas tarefas no refeitório, o padre a abordou, seu sorriso caloroso, mas seus olhos continham algo a mais, algo que Blair não conseguia identificar.

— Blair — ele chamou, com a voz suave, mas autoritária. — Preciso que você venha até a minha sala mais tarde. Temos algumas questões para discutir sobre suas tarefas.

Blair sentiu o estômago revirar. A lembrança da noite anterior ainda estava fresca em sua mente, e agora o padre parecia mais próximo do que nunca, de uma forma que a deixava desconfortável.

— Sim, padre — respondeu ela, tentando soar calma, mas sentindo a inquietação crescendo dentro de si.

Ao longo do dia, Blair não conseguia parar de pensar no encontro que teria com o padre. A sensação de ser observada, o vulto na porta, e agora a proximidade repentina dele... tudo parecia entrelaçado de maneira estranha.

Quando chegou a hora, Blair caminhou até a sala do padre Nicholas, seu coração batendo mais rápido a cada passo. O corredor parecia mais longo, e o silêncio ao seu redor a deixava ainda mais nervosa. Ao chegar à porta, que estava entreaberta, Blair hesitou por um momento antes de bater levemente.

— Entre, Blair — a voz do padre veio lá de dentro, calma, como sempre.

Ela entrou, vendo-o sentado à mesa, os pés apoiados casualmente sobre ela, enquanto mastigava um lápis distraidamente, seus olhos fixos em um ponto distante, como se estivesse perdido em pensamentos profundos.

Blair notou um detalhe que a fez engolir em seco. No canto da sala, ela vislumbrou, por uma fração de segundo, o contorno da mesma passagem secreta que encontrara dois meses atrás. A porta estava bem fechada agora, mas o ar pesado naquele lugar parecia carregar o peso de segredos não revelados.

O padre Nicholas baixou os pés da mesa e sorriu para ela, um sorriso que deveria ser reconfortante, mas que apenas aumentou sua apreensão.

— Vamos começar com suas novas tarefas — disse ele, sem pressa, observando cada reação dela com atenção.

Blair tentou manter a compostura, mas a noite anterior e a visão daquele vulto a deixavam cada vez mais certa de que algo estava muito errado.

𝕲𝖗𝖔𝖙𝖊𝖘𝖖𝖚𝖊𝖗𝖎𝖊, Nicholas Alexander Chavez.Onde histórias criam vida. Descubra agora