14 de Junho
A noite é boa. A gente conversa até tarde, como besteira e é uma memória boa. Para todo mundo. Mavi parece feliz, mesmo que toque no cabelo o tempo todo, Andressa o provoca o tempo inteiro e eu sorrio o tempo inteiro. De diversão, talvez uma felicidade inexplicável ao saber que alguém compartilhou algo tão bonito comigo. Conversei com Marina também, tarde da noite, rindo do seu desastre romântico e a quantidade de "aí tudo bem" que ela fazia.
Mas aí quando tudo ficou silencioso, eu me lembrei. Do hospital, risadas, brincadeiras idiotas por um celular e o coração acelerado. Do pânico, alívio, pânico. De novo. De ir limpar o rosto no banheiro e senti-la respirar aliviada. É engraçado, o alívio pode ser de tudo.
Talvez ela tenha ficado feliz que a confusão se resolveu, que eu me acalmei ou... sei lá, qualquer coisa boba e simples. Eu penso nisso, mas não consigo acreditar. E tudo bem, talvez seja a ansiedade. É a ansiedade. Mas eu tenho minhas justificativas: Cassandra ultimamente está meio estranha quando se trata de coisas que possam ser lidas como românticas.
E, tudo bem, um coração acelerado pode significar muitas coisas. Infarto. Susto. Ansiedade. Pânico. Calor excessivo. Mas eu sei que nada disso se encaixa. Não quando a lembrança do hospital vem com uma memória mais antiga.
O que teria acontecido se eu não tivesse apagado? Ela continuaria agindo assim? Será que desmaiar antes do beijo foi algo super romântico?
Porque essa cena idiota voltou esses pensamentos com tanta intensidade?
Fecho os olhos. Estou a beijando. Toco seus lábios, eu nunca toquei os lábios de ninguém. Seguro a sua mão de um jeito bobo, nunca fiz isso. Toco no seu cabelo, talvez eu queira tocar novamente. E então eu abro os olhos desesperada, como se tudo fosse um pesadelo.
Fico chateada comigo mesma. Não deveria pensar nisso, foi uma noite boa demais para ter um final péssimo. Mas aí eu me defendo: é culpa da Cassandra, ela que está me tratando diferente.
E me acuso. Você não gosta dela dessa forma, Belém. Pare de querer que ela continue te dando atenção como se algo fosse rolar.
Você nem sabe o que é estar apaixonada. Pare de se apressar, confie na Marina.
Mas aí eu mal assisto as aulas de manhã. O vídeo roda, um bonequinho na tela fala e fala, mas estou aérea. Quero resolver isso, mas como se resolve algo que é só palpites sem sentido? Rolo na cama, envio uma mensagem para Cassandra, recebo uma resposta demorada.
Sento na cama. Será que enviar "Oi, será que você poderia me atender de novo hoje? Pago o dobro! Triplo, eu sei que é difícil aturar uma não-paixonite" para a psicóloga é uma boa ideia? Não, não sei o que dizer para ela.
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Camarão sem coração ⚢
RomanceBelém Martins quer se vista. Não por qualquer um, mas pelos pais - que nunca estão por perto. Quando o natal chega, ela tem um plano para chamar um pouco de atenção e conseguir um almoço em família. Um camarão, uma crise alérgica e um telefone deses...