13 de Junho
O não-encontro foi bom. Tudo bem, só no final Marina descobriu que eu morava no condomínio mais caro da cidade e começou a ficar com vergonha do "estado caótico" (palavras dela) que estava o apartamento, mas de resto... supriu minhas expectativas. Além disso, é a primeira tentativa de amizade que... eu tenho depois que minha mente começou a funcionar.
É esquisito, mas eu tenho a resposta específica para o que foi a sensação que tive quando voltei para casa: a mesma de um bebê que se maravilha com todos os pequenos detalhes do novo mundo. É exatamente isso que sinto: uma desbravadora. Para mim, sair para um lugar com alguém e não me sentir um lixo é... novidade. Não ter a ansiedade que falei besteira, mesmo que o crédito maior tenha sido de Marina que deixou a conversa mais leve.
Então eu coloco a semana com um saldo positivo até o momento: a confusão interna com Cassandra parece pequena demais para os primeiros passos que tive. A medicação finalmente não quer me matar e até que consegui lidar bem com uma amizade nova. Tipo, Cassandra é Cassandra. E Andressa e Mavi são um combo que... é mais fácil interagir em trio, tem mais alguém ali para te salvar.
Mas aí chega quinta e eu descubro que nunca vou tirar uma carteira na vida.
É o básico: ajeite o banco, retrovisor e coisas bobas. Eu ouço o instrutor atentamente, mas eu nunca entrei em um carro pelo lado do motorista. E por mais que eu tente não ficar desesperada com informações novas, é meio difícil quando...o instrutor me acha idiota. Não estou paranoica, ele realmente parece incomodado com o fato de eu não saber nada.
Tudo bem, sei que é comum que as pessoas venham para a aula já sabendo dirigir, mas não é o meu caso. E sei lá, muita gente também não é assim. Mas lá está ele, incomodado com os meus passos lentos. E não é o pior: eu nem estou na zona de treinamento da autoescola, mas emperrada em uma esquina qualquer porque algo em mim o fez acreditar que já tenho experiência o suficiente para andar entre outros carros.
Tento ficar calma. Claro, eu também li alguns textos sobre como se portar na primeira aula prática da autoescola. É normal ficar desesperada. É normal ficar desesperada. Eu não sei o que faço quando o carro dá uma arrancada e volta para o mesmo lugar, mas é o suficiente para que o instrutor me tire do lado do motorista e conduza o carro para dentro da autoescola.
Sim, isso é bom. Mas não facilita quando ele agora piora o tratamento e age como se eu fosse burra. "Ei, eu paguei por isso", diria se eu fosse um pouquinho mais arrogante e corajosa.
Mas eu também li uma matéria sobre a máfia de instrutores que vão te reprovar, então eu respiro fundo e finjo que está tudo bem.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Camarão sem coração ⚢
RomanceBelém Martins quer se vista. Não por qualquer um, mas pelos pais - que nunca estão por perto. Quando o natal chega, ela tem um plano para chamar um pouco de atenção e conseguir um almoço em família. Um camarão, uma crise alérgica e um telefone deses...