A Chave

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P.O.V. Lorde William Clayton I.

Consegui. Coloquei as minhas mãos numa das chaves da família Gray, mas a pergunta é... o que ela abre? Um baú? Uma porta? Seja o que for o meu palpite é que esteja na propriedade dos Gray por isso decidi fazer uma visita para que poder averiguar. Vim com a desculpa de parabenizá-la pelo noivado.

-Seja bem vindo Lorde Clayton, a que devo o prazer de sua visita?- Jane perguntou.

-Eu não tive a oportunidade de parabenizá-la pelo seu noivado. Por isso achei por melhor fazer-lhe uma visita. Espero não estar incomodando.- Falei.

-Em absoluto. Por favor, sente-se.- Disse Jane.

P.O.V. Jane.

Estou longe de ser ingênua. Minha mãe me ensinou a confiar na minha intuição, nos meus instintos e neste exato momento algo dentro de mim grita que há algo errado com esta visita repentina de William. Eu o conheço desde que éramos crianças e assim como todos os outros filhos e filhas de nobres William tem o Rei na barriga. Ele é mimado, egocêntrico e não aceita ser contrariado. Ele é tipo de pessoa que pensa que o mundo gira ao seu redor e que todos o adoram, para William Clayton é inconcebível que alguém não o considere alguém digno de admiração, de amor. 

E considerando que eu recusei sua proposta de casamento diante de uma verdadeira multidão de nobres e disse em alto e bom tom que jamais me casaria com ele... essa gentileza toda me deixa com a pulga atrás da orelha.

-Eu vim para lhe dar as boas vindas a família, querida Jane.- Disse William.

-Você não está chateado pelo ocorrido no navio ou por eu ter revelado a verdade sobre a identidade de Tarzan ao seu avô?- Perguntei.

-Claro que não. Isso são águas passadas.- Ele respondeu.

Eu não caio nessa. Ele elogiou a casa e comentou que nunca tinha vindo aqui então eu o levei para fazer um tour, quando passamos pela porta trancada isso não fugiu a sua atenção.

-E o que está escondido atrás daquela porta?- Indagou William.

-Um quarto de vestir. É uma sala imensa cheia de espelhos.- Respondi.

-E porque mantê-la trancada?- Ele perguntou.

-Todos temos as nossas esquisitices eu acho.- Respondi.

Pouco depois tomamos chá e logo em seguida William foi embora. Isso foi esquisito. Mas, que se dane. Depois dele ter partido fui até o sótão e peguei a caixa onde estavam guardados os discos de vinil de minha mãe e procurei entre os LPs, o seu favorito Johnny B. Goode de um cantor chamdo Jimmi Hendrix. Imagine só, um mouro como um cantor de sucesso. O futuro parece mesmo um lugar maravilhoso. Tirei o disco da capa, coloquei no gramofone e logo o som encheu a sala. Enquanto o disco tocava eu me lembrei de quantas vezes dancei com minha mãe ao som desta canção. Ela afastava os móveis para que pudéssemos dançar.

Quando o disco terminou eu o guardei de volta na capa e procurei outro, desta vez o meu favorito Easy Living duma cantora chamada Billie Holiday, outra moura. Minha canção preferida é More Than You Know. Coloquei o disco para tocar, sentei-me numa cadeira perto do gramofone e fiquei ouvindo. O futuro deve ser um lugar incrível.

Inglaterra, Outubro de 2020.

P.O.V. Lucinda.

Não podemos sair de casa graças á um epidemia global. Pandemia. A doença chamada de Covid-19 está assolando o mundo impiedosamente, a cada dia que passa a contagem de corpos continua a crescer, mas o isolamento não me impede de ter consultas com a alienista, digo psicóloga porque a tecnologia deste século permite que duas ou mais pessoas que estão a quilômetros de distância se comuniquem como se estivessem lado a lado. Posso ver a imagem da médica pela câmera do computador. Ter que ir á terapia é... irritante. A alienista sempre responde minhas perguntas com outras perguntas e isso me deixa enfurecida. Eu grito com ela, eu a chamo dos nomes mais escabrosos e nunca consigo nenhuma reação da parte dela. Minha mãe nunca me obriga a ir ás sessões, mas ela dá um jeito de me fazer querer ir. Estou em tratamento á dois meses e não sinto nada diferente. Todos me dizem que levará tempo para curar o "trauma" como eles chamam, mas não sei se creio nisso. 

Já faz um bom tempo que não vejo meu irmão, ele arrumou novos afazeres está ocupado explorando o Novo Mundo. Minha mãe também está me ajudando á sua própria maneira. É engraçado, eu sempre odiei as aulas de auto defesa e os treinamentos de resistência física, mas agora é diferente. Acho bom poder bater em alguma coisa. Tenho tanta raiva dentro de mim que ás vezes penso que isso vai me dominar. Que vou enlouquecer. A única parte boa das sessões de terapia é que posso gritar e xingar como um marinheiro sem ninguém me recriminar.

P.O.V. Sophie.

Saber que alguém violentou a sua filha... não é algo fácil. É revoltante saber que alguém fez isso com o meu bebê. E mesmo que seja loucura, mesmo que seja impulsividade eu já decidi que vou voltar no tempo, vou pegar quem fez isso e vou arrancar o couro do safado! Por isso vim até o meu quarto e enchi uma mala preta com facas, adagas, rifles, revólveres e o infeliz que abusou da minha filha vai rezar para que eu lhe mostre algo parecido com compaixão.

Sexta feira, 13 de outubro de 1911.

P.O.V. William.

Amanhã haverá um baile na residência Gray para comemorar o noivado dos dois pombinhos. É a oportunidade perfeita para ver o que há atrás daquela porta.

A Lenda de Tarzan. -Minha VersãoOnde histórias criam vida. Descubra agora