nobody but ourselves

c. s. lewis

"Agora, finalmente, estavam começando o Capítulo Um da Grande História que ninguém na terra jamais leu: a história que continua eternamente e na qual cada capítulo é muito melhor do que o anterior"

- C. S. Lewis

Era a noite de três de dezembro , ou melhor dizendo, a noite do vigésimo quarto aniversário de Maeve. Spencer havia passado por volta de três semanas planejando inúmeras atividades para os dois realizarem neste dia especial, mas, infelizmente, os assassinos seriais não estavam cientes desses planos, e mesmo que soubessem, definitivamente não deixariam de seguir seus impulsos homicidas porque um agente do FBI queria passar tempo com a namorada.

Apesar dos contratempos, Reid foi capaz de chegar a tempo de presencialmente desejar feliz aniversário para sua namorada. Estava tarde, mas dentre as opções que ele havia selecionado, ainda havia uma disponível: o planetário, cujo dono era um bom conhecido do agente e, por coincidência, o devia um favor.

O casal de jovens doutores ouviu, até certo ponto, a mesma apresentação que qualquer um ouviria, planetas, satélites, galáxias conhecidas, constelações visíveis do hemisfério norte, mas quando chegaram nas constelações visíveis do hemisfério sul, o palestrante conduziu uma extensa explicação sobre a constelação de Sagitário. Nenhum dos doutores ali presentes acreditavam que o seu signo poderia influenciar na sua personalidade, uma vez que era apenas uma consequência do dia em que nasceram, mas, mesmo assim, a menção da constelação do seu signo chamou a atenção de Maeve.

O palestrante começou contando a origem mitológica do agrupamento de estrelas, que dizia que Quíron, centauro descendente de Cronos mas educado por Diana e Apollo, ofereceu sua imortalidade para salvar Prometeus do sofrimento que fora condenado por Zeus. Seu ato virtuoso lhe rendeu a homenagem dos deuses, levando-o aos céus transformando-o na constelação de Sagitário.

Ao final da explicação, o casal agradeceu ao dono do planetário que disse ter ficado feliz por finalmente quitar sua dívida com Spencer e ter feito parte da comemoração do aniversário de Maeve. Logo depois de deixarem o centro de astronomia, Reid, para a surpresa de sua acompanhante, sugeriu que eles passassem a noite na casa dele. Os dois estavam juntos há pouco mais de um mês, mas a garota frequentara o apartamento do outro apenas uma vez, sem nem ao menos realmente entrar nele. Ela entendia que o lar de Spencer era algo muito importante para ele, e por causa do seu emprego, o jovem mal conseguia tempo para fazer uma limpeza decente em sua casa, e ele definitivamente não queria que sua namorada encontrasse uma hospedagem que estivesse minimamente abaixo do impecável. Por sorte, a situação atual do apartamento 8B era de completa ordem.

"Paredes verdes?" Maeve perguntou logo que fez seu caminho à sala de estar de Spencer.

"O antigo dono disse que o objetivo era parecer o interior de um abacate" o moreno disse, trancando a porta da frente.

"Sério?"

"Sim. Pra ser honesto, eu nunca entendi a lógica dele, mas achei melhor não pintar por cima"

Tirando sua bolsa de seu braço, Maeve percebeu que seu celular não parava de vibrar.

"Spence, você comentou com alguém sobre hoje ser meu aniversário?"

"Provavelmente deixei escapar algo pra Garcia, por quê?"

"Faz sentido. Toda a UAC me desejou feliz aniversário simultaneamente" os dois compartilharam de uma risada e se sentaram no sofá de couro escuro de Spencer.

Quando acomodados, resolveram dar continuidade a um de seus passatempos favoritos: julgar filmes de época, avaliando se eram historicamente corretos. O filme da vez, estrategicamente escolhido por Reid, era o ganhador do Oscar O Violino Vermelho, que contava se inspirou na história do violino Red Mendelssohn, um Stradivarius que foi tingido com o sangue da falecida esposa de seu dono. Em certos pontos do longa-metragem, o perfilador era capaz de perceber a morena mexendo suas mãos, como se ela fosse a que tocava o instrumento, muitas vezes comentando como a afinação da música não combinava com os gestos performados pelo ator.