Capítulo Quarenta e Um

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Pov: Maraisa

Observo a marmita ser posta no meu quarto, todo dia no mesmo horário.

Pelo menos eu não tô apanhando pelo fato do almoço não agradar ele.

Mocó: Você devia comer - Nego - Você tá muito pálida e perdeu peso.

Que merda esse garoto tá fazendo? Provavelmente tem câmera aqui

Mocó: Come - Ele diz uma última vez antes de sair do quarto.

Eu não consigo comer, a dor tá tirando a minha fome. Não posso tomar analgésico nesse lugar.

Minha rotina nesses últimos dias é basicamente, acordar, ter a primeira crise de choro do dia, arrumar o quarto, encarar as refeições, no final da noite ser o brinquedinho sexual do Wendell e antes de dormir chorar mais um pouco.

É horrível se sentir impotente, eu to voltando a considerar a possibilidade de levar um tiro, parece a opção menos dolorosa no momento.

Hoje é sexta-feira, faz uma semana desde que vim pra essa casa, e o Wendell disse que a gente vai sair daqui na segunda de manhã.

Sento na cadeira de balanço e abro a marmita, mas nada me dá vontade de comer, como uma ou duas batatinhas só pra ter o que vomitar. Porque eu sei que vou vomitar mais tarde, o toque do Terror me enjoa demais.

Abro o pacotinho de papel e vejo uma trufa, encaro intrigada. Seis marmitas de almoço e essa é a primeira que vem um doce.

Mordo a trufa de morango sentindo o gosto de chocolate se espalhar pela minha boca.

Uma coisa me chama atenção no doce, o pacotinho de papel "Doces&Doces", esse nome parece conhecido.

A porta do quarto é aberta e o Wendell aparece, ele tá obviamente puto.

Bom, ele sempre tá com a cara fechada mas eu aprendi a diferenciar os níveis de irritação dele, afinal são dois anos lidando com ele

Terror: Preciso de você lá embaixo, agora mesmo.

Óbvio que acho estranho mas como não tenho escolha me levanto para ir com ele. A gente vai até a sala onde tem três homens, o Mosca, o Dg e o Kauan.

Terror: A gente vai sair daqui na segunda, tenho que resolver umas pendências antes. A principal delas é meter uma bala na cabeça da tal Mendonça.

Mordo o interior da bochecha com força e tento não parecer desesperada. Mas só de pensar nela se machucando já fico nervosa.

Terror: Você ficou um bom tempo lá, quero que descreva onde fica cada cômodo da casa e qual a rotina dela.

Maraisa: Eu... eu não era próxima dela, e eu só ia do quarto pra cozinha - Minto na maior cara de pau.

Dg: Mas a senhora tava até chamando ela pra cozinhar - Eles também entram na casa, ouviram e viram tudo.

Maraisa: Ela gosta de cozinhar, a casa é dela - Dou de ombros - Não era eu quem mandava.

Dg: Hmm, no tempo que você ficou sozinha não bisbilhotou? Mulher tem mania de ser metida, sabe como é, né...

Moço no primeiro dia lá até as cuecas e sutiã dela eu lavei, me chamar de metida não me ofende.

Dg: Pelo menos a senha do alarme ela te deu né?

Maraisa: Acredito que ela tenha trocado, afinal agora eu estou aqui. Seria burrice deixar a mesma.

Dg: Bom, dona. Foram quase quatro meses, acredito que pelo menos onde fica cada cômodo a senhora sabe.

Maraisa: Eu... hmm, só...

Terror: Desenha de uma vez - Ele me dá o caderno e uma caneta - Põe onde fica cada cômodo.

Começo a desenhar

Dg: Deve ter sido foda ficar tanto tempo lá, né? Com uma mulher estranha

Mosca: É, dizem que ela é uma babaca

Olha só, o cara que transa com a irmã da esposa chamando a Marília de babaca, era só o que me faltava.

Dg: Babaca também não, pô ela ia fazer pizza pra patroa.

Meu corpo começa a ficar tenso

Dg: Uma amizade de leve, né dona?

Maraisa: Eu não era amiga dela - Me apresso a dizer.

Dg: Sério? Eu não ia conseguir morar com uma estranha sem ter o mínimo contato com ele.

Isso não vai terminar bem.

Maraisa: Ela é policial, passa muito tempo fora de casa. Quando saia eu ainda tava na cama e quando chegava eu já tava me arrumando para dormir, não queria ser inconveniente.

Dg: Entendi.

Olho de canto de olho pro Wendell. Ele tá me encarando todo sério.

Geralmente ele não deixaria um homem falar comigo por tanto tempo, o problema é que assunto interessou a ele. Ele só não tinha surtado porque tinha muita coisa pra resolver, mas o Dg tocou na ferida dele.

A mulher dele estava em uma casa com uma mulher desconhecida e ficou 4 meses lá, e tem a porra do chupão que ele viu quando eu cheguei.

Resumindo, Douglas acabou de ativar o modo mais psicopata do Terror.

É óbvio que vai sobrar para mim.

Além do Tráfico - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora