Capítulo Quatorze

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Pov: Maraisa

Hoje é sexta-feira e são três da tarde, eu tô deitada em uma espreguiçadeira tomando sol e o Pantera tá em outra.

Eu fiz todo o serviço da casa já, Marília não veio pro almoço então eu só tenho que fazer o jantar.

Fiquei muito entediada e resolvi por o biquíni e ficar aqui fora

Marília: Devo comprar uma sunga pro cachorro?

Tomo um susto quando escuto a voz dela e me ponho de pé rápido

Maraisa: O que?... são só três da tarde... bom a casa é sua você pode chegar a hora que quiser mas... eu...

Marília: Calma Maraisa, cheguei mais cedo hoje, só isso. Pode continuar aí.

Ela encara meu corpo que tá coberto só por um biquíni, nunca ninguém me olhou desse jeito.

Marília: Vou tomar um banho, pode ficar aí Maraisa. Não me incomoda nem um pouco, pelo contrário acho bom você se entreter

Marília entra na casa e eu volto pra espreguiçadeira, só que agora eu tô nervosa, tô seminua na frente de uma estranha.

Vinte minutos depois ela volta

Marília: Tudo bem se eu cortar a grama?

Maraisa: A casa é sua...

Marília: Temporariamente é sua também então... tudo bem eu cortar agora ou você prefere ficar sozinha?

Não consigo imaginar a Marília como a ogra que o Henrique diz que ela é.

Maraisa: Pode sim. Quer que eu faça algo pra você comer?

Marília: Não, quero que você fique aí e ignore a minha presença - Ela olha pro Pantera - Você tirou toda a marra do meu cachorro, inacreditável.

Dou risada. Marília se afasta e pega a máquina de cortar grama.

Ela corta um bom pedaço e o suor começa surgir então ela tira a camisa ficando de top e coloca sobre o ombro.

Ela tem algumas tatuagens, não tantas quanto o meu ex. Marília tem o corpo  definido, obviamente por conta do tempo que passa treinando.

Eu não devia olhar tanto pra ela, só que....

Wendell me quebraria algumas costelas só por isso, me daria alguns socos por eu ter pensado o quão bonita uma mulher é.

Marília direciona o olhar na minha direção e eu desvio na hora encarando o Pan. Merda, fui pega no flagra.

                              🍂

Maraisa: Tem alguma preferência pro jantar?

Marília: Vou pedir pizza pra gente, senta aí - Ela se refere ao sofá - Nada de cozinhar hoje

Me sento no sofá e encaro a televisão onde tá passando um filme de caráter duvidoso

Marília: Que sabor você gosta - Encaro ela - Por favor, não diga tanto faz, me fala do que você gosta

Maraisa: Calabresa...

Marília: Ok - Ela digita no celular.

Nessas duas semanas aqui eu só vi a Marília sair uma vez, e ainda saiu emburrada por não querer ir. Ela não gosta de sair com os amigos e pelo que notei não tem namorada ou esposa, não tem aliança no dedo e não tem nada na casa que lembre outra mulher além do encosto vulgo eu.

Maraisa: Você vai passar a noite toda em casa?

Marília: Tá me expulsando? - Arregalo os olhos

Maraisa: Meu Deus, não ...

Marília: Maraisa, você precisa relaxar. Eu sei que você não tá me expulsando, só tô implicando com você e sim vou passar a noite toda em casa

Maraisa: Certo. Eu ainda tenho medo de falar as coisas errada na sua frente e sofrer as consequências.

Marília: Entendo seu medo, mas espero que perceba logo que eu nunca machucaria você.

Maraisa: Você é tão legal - Faço careta - Não entendo como o Henrique pode achar você a mulher mais chata do universo

Marília: Henrique é um sem noção, não liga pro que ele fala. Vocês conversam com frequência?

Maraisa: Ele costuma mandar muitas mensagens... Ele me fala sobre tudo que fez

Marília: Saquei - Ela murmura mudando o canal da Tv

A gente continua conversando e não demora muito para pizza chegar.

Maraisa: Sua mãe?

Marília: Mora em outro estado, por conta do trabalho a gente não se vê muito

Maraisa: Seu pai? - Pego outra fatia de pizza

Marília: Ele era policial, morreu em serviço quando eu tinha 15 anos

Maraisa: Sinto muito...

Marília: E os seus pais?

Maraisa: Minha mãe era uma viciada, teve uma overdose quando eu tinha oito anos. Meu pai era envolvido, acabou preso quando eu tinha 15 anos, teve uma briga entre facções na prisão e ele foi uma das vítimas.

Marília: Você e o seu pai eram próximos?

Maraisa: Muito, ele era um pai incrível - Dou um sorriso fraco - A gente se dava muito bem

Marília: Você ficou com a sua vó depois da morte dele? - Concordo

Maraisa: Minha vó era meio doente ganhava pouco com costuras que ela fazia. Tive que começar a trabalhar, o Formiga, pai do Terror, me conseguiu um emprego em um mercadinho, conseguia manter as despesas de casa. Mas aí o Formiga morreu e o Wendell me pegou.

Marília: Você ficou dois anos trabalhando no mercadinho?

Maraisa: Sim. Me conta algo sobre você? - Ela pensa.

Parecia hesitante em querer contar algo sobre sua vida.

Marília: Sou uma mulher intersexual, você sabe…

Isso era novidade, mas não prolonguei muito o assunto.

Acabou que passamos um bom tempo conversando sobre a vida uma da outra, foi bem divertido.

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UM BEIJO

Além do Tráfico - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora