14 - broken secrets

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Eu senti os olhos de Sye queimando sobre mim, enquanto ela encarava meu pescoço com preocupação evidente. As marcas vermelhas não deixavam dúvidas. Eu sabia que ela estava tentando entender o que tinha acontecido no quarto com Vincent, e isso me incomodava. Não queria que ela tirasse conclusões precipitadas, muito menos queria causar alarde na roda.

Me levantei rapidamente, ajeitando a postura e tentando sorrir, mas foi em vão. Sye continuava com aquele olhar de preocupação. Que merda.

— Sye, vem comigo. Preciso te falar uma coisa, rápido. — chamei, gesticulando com a cabeça para que ela me seguisse. Ela hesitou por um momento, mas logo se levantou e veio atrás de mim. Caminhamos pelo corredor, tentando evitar os olhares curiosos dos outros, até que encontrei o primeiro banheiro. Abri a porta, entrei e a esperei. Assim que ela entrou, fechei a porta atrás de nós e respirei fundo.

Sye ficou em silêncio, claramente esperando alguma explicação.

— Então… — comecei, escolhendo as palavras cuidadosamente, minha cabeça estava trabalhando dez vezes mais. Eu precisava de algo rápido. — eu sei que você notou essas marcas no meu pescoço, mas calma...  — toquei de leve no meu pescoço, soltando a primeira coisa que pairou na minha mente naquele momento. — Eu tenho uma alergia... a perfumes masculinos. Acho que cheguei perto demais de Vinnie e isso me causou essas merdas de irritações.

Sye arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços. Ela não parecia acreditar em uma única palavra.

— Alergia a perfume? — ela me olhou como se estivesse desafiando cada sílaba. — Sério, Love? Está defendendo a porra do Vincent?

Eu suspirei, sabendo que não adiantaria mentir. Sye era mais esperta do que isso. Eu não tinha escolha. Precisava abrir o jogo, então fui direto ao ponto ainda com a voz trêmula.

— Não dá pra esconder, então eu vou te contar a verdade... — respirei fundo, sentindo uma pontada de ansiedade ao me preparar para contar tudo. — No quarto, Vincent me enforcou até eu quase desmaiar... Mas calma, fui eu pedi isso, Sye. Eu gosto de sentir dor. — Soltei as palavras sem cuidado algum. Eu sentia que podia confiar cegamente nela, era algo complemente intuitivo. — Sabe, é bem pior que sadomasoquismo.

Ela arregalou os olhos, claramente surpresa.

— E... Ele fez isso. Ele me fez gozar com os dedos, e sim, ele me levou ao céu... Mas eu nunca vou admitir isso na frente de todos — ri, mais para mim mesma do que para ela, lembrando da intensidade da experiência. – De qualquer forma, eu pedi pra ele e ele só fez.

Sye parecia sem palavras por um momento, processando o que eu acabara de dizer. Seus olhos ainda estavam arregalados, mas eu podia ver que, por trás do choque, havia uma curiosidade crescente.

— Você gosta de dor? — ela perguntou, ainda meio incrédula, mas não havia julgamento na sua voz, apenas surpresa. – Caramba, Lov. – completou com uma voz mais confortada.

— Sim, eu gosto. Muito mais do que deveria, talvez. Eu me sinto melhor com algo me tocando forte, principalmente por mãos grandes...— admiti com um sorriso tímido, mas desafiador.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos, digerindo tudo. Finalmente, ela relaxou, e sua expressão suavizou. Não havia mais preocupação em seus olhos.

— Tudo bem, Lov. Se é o que você gosta... Quem sou eu para julgar? — disse, com uma leve risada. — Mas, já que você abriu o jogo, eu acho que também devo admitir uma coisa e assim selamos nossa amizade com "segredos" uma da outra, certo?

Eu a olhei, esperando pelo que ela diria.

— Eu... — ela começou, hesitando por um momento — Eu meio que... me toco pensando na minha madrasta.

Arregalei os olhos, surpresa com a confissão. Eu não esperava por isso, mas também não a julguei. Ela não tinha aspecto nenhum de bissexualidade, mas depois do beijo que eu roubei da garota, talvez deveria ter despertado mais ainda.

— Uau... — foi tudo o que consegui dizer no momento, mas minha expressão era de apoio, e ela percebeu. — Mas vocês já chegaram a fazer...? — Apenas movi a cabeça insinuando algo mais profundo, mas ela automaticamente cessou balançando a cabeça em negação.

— Eu sei, é meio estranho, mas... não. Infelizmente não, me sentiria péssima demais traindo o meu pai dessa forma, mas ela sempre percebeu os meus olhares e faz coisas de propósito sabe.... — disse ela, rindo nervosamente. — Ela sempre me pede pra ir com ela em lojas e me faz esperar no provador junto com ela enquanto ela troca diversas peças... É engraçado, porquê eu sinto muita vontade de comer ela ali mesmo, mas tenho medo do que vão pensar... Bem, é isso...

— Não precisa se frustrar se ela estiver te instigando, afinal, ela é a mais velha. Se ela faz de propósito é porquê não liga para o seu pai, e bem, se ela não está ligando para as consequências, por quê você ligaria? — A conselhei tentando imaginar como seria a madrasta de Sye. Era engraçado o fato de ser um enredo perfeito para um porno lésbico. Ri baixinho enquanto ela se corava inteiramente, sabendo que arrumou uma metade que não a repreendi e sim a apoia.

— Você com certeza é a amiga que eu pedi. — Ela riu, se sentindo confortavelmente.

Sorri de volta, aliviada por termos compartilhado esses segredos, e nos abraçamos. Naquele momento, juramos lealdade uma à outra. Eu sabia que podia confiar em Sye, e ela, em mim.

Quando saímos do banheiro, a atmosfera na sala já tinha mudado completamente. A roda de pessoas estava agora em pé, todos dançando e alguns usando drogas, mergulhados na festa. Sye me puxou pela mão, sorrindo, e sugeriu que fôssemos dançar.

— Vamos, Lov. Precisamos beber e enlouquecer. — ela disse, animada.

Não recusei. Deixei que a música me levasse e logo estávamos dançando no meio da sala, deixando a batida tomar conta de nossos corpos. Tocava músicas aleatórias mas sem em um gênero: pop. Depois de um tempo, fui até a mesa de bebidas, peguei um copo e virei de uma vez, sentindo o calor do álcool me queimar na garganta e percorrer por meu corpo. Sye fez o mesmo e, rindo, saímos cambaleando pelos corredores.

Foi então que encontramos uma sala maior, com um mini palco no centro e uma barra de pole dance iluminada. Havia alguns sofás espalhados pela sala, ocupadas por pessoas que pareciam ocupadas demais se beijando ou desinteressadas no que acontecia ao redor. Sye tinha um sorriso fixado no rosto, estava completamente bêbada.

— Você deveria dançar na barra, amiga! — disse Sye, me empurrando levemente em direção ao palco.

Olhei para a barra, uma parte de mim já familiarizada com aquilo. Durante a adolescência, eu fiz aulas de pole dance. Por que não? O álcool me deu coragem, e a batida suave de "Goodnight n Go" da Ariana Grande começou a tocar ao fundo, criando a atmosfera perfeita.

Subi na barra com facilidade, sentindo a frieza do metal contra minha pele. Meu corpo começou a se mover no ritmo da música, girando lentamente enquanto minhas mãos deslizavam pela barra.

Tell me why you gotta look at me that way
You know what it does to me
So baby, what you tryna say? Ayy
Lately all I want is you on top of me
You know where your hands should be
So baby, won't you come show me? Yeah

A cada giro, eu sentia as memórias de Vincent invadirem meus pensamentos. A sensação dos dedos dele em mim, os movimentos dos seus indicadores me levando até o máximo a pressão no meu pescoço... A mistura de dor e prazer que ele me proporcionou era algo que não conseguia esquecer. Eu queria mais. Eu precisava dele, mas ele estava bastante ocupado com aquela ruiva gostosa no quarto. Droga.

Meus movimentos se tornavam mais fluidos, mais sensuais, enquanto eu subia e descia na barra, meus músculos lembrando cada aula de pole dance que já tive. Meu corpo se movia sozinho, enquanto minha mente era inundada por flashes dos momentos que tive no quarto. Cada movimento me lembrava da sensação dos dedos dele dentro de mim, de como ele segurou o cinto e me fez perder o fôlego. Do quanto aquele maldito me deixou molhada.

Eu me envolvi na dança, usando o pole para girar e me lançar no ar, sentindo a adrenalina correr nas minhas veias. Eu queria que Vincent estivesse me assistindo naquele momento, vendo o quanto ele mexia comigo, mesmo quando não estava presente. Mas haveria oportunidade.

DARK ROOM - VINNIE H. Onde histórias criam vida. Descubra agora