Me sentei no píer, sozinha, as pernas balançando no vazio enquanto observava o mar. O som das ondas batendo contra as rochas abaixo de mim era quase hipnotizante. Eu não queria ir até os Pougues, mas sem eles... eu não tinha ninguém. A verdade era difícil de engolir, mas estava ali, crua e dolorosa. Minhas mãos seguravam firme a borda do píer, como se aquilo pudesse me manter conectada à realidade, mas minha mente continuava a vagar.Memórias de tardes passadas com Rafe ainda dançavam na minha cabeça. Aquele sorriso arrogante, a maneira como ele me olhava, como se me conhecesse melhor do que eu mesma. E, claro, aquelas palavras...
"Você é minha, Isadora."
A voz dele ecoava na minha mente, me perseguindo. Eu balancei a cabeça, tentando afastar o pensamento, mas era inútil. Ele estava em todos os cantos da minha mente, e isso me irritava. Odiava o quanto ele me afetava.
Eu olhava para o mar, sentindo a brisa salgada no rosto, sem saber o que fazer. Meus únicos amigos estavam envolvidos nessa busca incansável pelo ouro, e, por algum motivo que eu ainda não conseguia entender, decidiram que eu não era mais parte disso. Era uma das maiores injustiças que eu já tinha vivido, porque eu sempre ajudei todos eles, sempre estive lá. E agora? Agora eles me excluíam, me deixavam sozinha.
De repente, um susto.
— Tá podendo falar agora ou o Rafe vai aparecer do chão? — A voz de JJ quebrou o silêncio, me fazendo pular.
Olhei para o lado e lá estava ele, com aquele sorriso atrevido que, por mais irritante que fosse, sempre conseguia tirar uma reação de mim.
— Que susto, JJ! — respondi, o coração ainda acelerado pela surpresa.
Ele riu e se sentou ao meu lado, os olhos azuis brilhando como sempre.
— Você tá bem, Isa? — JJ perguntou, com aquele jeito meio desleixado, mas que eu sabia esconder uma preocupação verdadeira.
Eu dei de ombros, ainda olhando para o mar. Não tinha certeza de como responder. Claro que não estava bem, mas também não queria parecer dramática. O problema era que, sem eles, sem os Pougues, eu não sabia o que fazer.
— Eu tô só… cansada — murmurei, sem muita convicção.
JJ olhou para mim com aquele jeito observador dele, mas não insistiu. Ficamos em silêncio por um tempo, com as ondas preenchendo o espaço entre nós.
— Eles não deviam ter te deixado de fora, sabe? — Ele falou de repente, sua voz um pouco mais séria. — Eu fui contra isso mas o John B tá todo estranho também, acho que é pelo lance do pai dele.
— O pai dele voltou?— Perguntei e JJ negou com a cabeça.
— O Ward matou o pai dele, pelo o que eu entendi.— Aquelas palavras me atingiram em cheio, como uma pedra jogada no mar calmo que eu observava.
— O Ward? — repeti, com a voz incrédula, tentando processar o que JJ acabara de dizer. — Mas… como?
JJ suspirou, coçando a cabeça de um jeito que mostrava o quão complicado tudo tinha se tornado.
— Eu sei lá, não entendi nada. Só sei que John B tá pirando por causa disso, e aí… ele tá surtando com todo mundo, inclusive você. Ainda mais que você aparentemente tá com o filho dele.
— Ué, eu não posso estar com o Rafe mas ele pode estar com a Sarah? O que isso muda?— Questionei e JJ me olhou com a sobrancelha erguida.— Mas eu não tô com o Rafe.
— É que o Rafe segue o Ward igual um cachorrinho, se você deixar escapar qualquer coisa com ele, ele pode contar pro pai.
Eu suspirei, absorvendo o que JJ estava dizendo. Claro, fazia sentido. O Rafe sempre foi uma extensão do pai, alguém que faria qualquer coisa para agradar Ward. Mas isso me irritava. Eles estavam me julgando por algo que nem eu mesma tinha certeza de como lidar. Só porque eu tinha uma história com o Rafe, isso não significava que eu fosse trair eles.
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Toxic • Rafe Cameron
Fiksi PenggemarDesde criança, sempre ouvi dizer que Pougue é Pougue e Kook é Kook, uma divisão rígida que parecia impossível de quebrar. Aos onze anos, conheci um Kook que mexeu com minha cabeça, e por um tempo, eu acreditei que as coisas poderiam ser diferentes...