Os dias se arrastavam, cada minuto passando como um peso que eu carregava sem saber como soltar. Ficar sozinha parecia mais fácil do que enfrentar tudo o que estava aqui dentro. Ficar no silêncio do quarto, com as paredes ao meu redor, era quase como me esconder. Eu não conseguia comer. Não conseguia me levantar e fazer qualquer coisa que parecesse minimamente normal.A pior parte era o espelho. Eu não conseguia sequer me olhar. Toda vez que pensava nisso, meu corpo gelava e eu desviava o olhar. Era como se eu não fosse mais eu, como se tudo o que me definia tivesse sido arrancado. Às vezes, eu passava horas deitada, olhando para a parede, tentando fazer a dor sumir, mas ela continuava ali, persistente.
Até Rafe vir.
Ele entrava com aquele jeito cuidadoso, como se qualquer movimento brusco pudesse me fazer quebrar. E eu via a preocupação nos olhos dele, mas era difícil me importar com alguma coisa agora.
Hoje ele veio com uma tigela de mingau e uma colher, e eu senti o cheiro assim que ele entrou. Ele sentou na beira da cama e, pacientemente, segurou a colher cheia, erguendo até minha boca.
— Amor, você tem que comer — disse ele, a voz suave e encorajadora. Eu olhei para ele, ainda sem conseguir sentir a fome ou vontade de comer qualquer coisa, mas ele continuou ali, com um sorriso determinado. — Eu mesmo que fiz, a Kie quase deu uma panelada na minha cabeça pra eu aprender.
A sinceridade na voz dele, o esforço que ele tinha feito, tudo isso... fez algo dentro de mim quase despertar. Senti um pequeno sorriso se formar nos meus lábios, quase involuntário. Era um sorriso fraco, pequeno, mas estava lá. Mesmo que fosse difícil, ele conseguiu me fazer sentir algo diferente, por um momento, da dor que tinha se tornado uma constante.
—Eu não sei se consigo... — murmurei, a voz tão baixa que quase não era um som.
Ele se aproximou, sua mão tocando levemente meu rosto, o olhar cheio de um amor e uma força que pareciam infinitos.
— Eu tô aqui pra te ajudar, vamos, come só um pouquinho.
Fechei os olhos, sentindo o calor do toque dele e, por um momento, um pedaço de mim quis acreditar nele, acreditar que um dia eu poderia me olhar no espelho de novo e enxergar algo além desse vazio.
Eu abri os olhos e encarei a colher na mão de Rafe e então, me inclinei pra frente, finalmente comendo.
O mingau era morno e doce, o gosto simples, mas reconfortante, contrastava com o vazio que eu vinha sentindo. Enquanto mastigava devagar, percebi que aquilo, por mais insignificante que parecesse, era um passo. Um pequeno movimento para fora do escuro.
Rafe ficou me observando, com um sorriso suave, como se aquele gesto mínimo fosse uma vitória. Ele não disse nada, só ficou ali ao meu lado, esperando.
Terminei a colherada e senti algo próximo de alívio, um pequeno eco de esperança. Rafe continuou me observando, os olhos refletindo um brilho de carinho e paciência.
— Isso, amor — ele disse, com a voz baixa, como se não quisesse quebrar o momento. — Toma.— Ele entregou a colher em minha mão e eu continuei comendo.
Na porta do quarto vi meus amigos se aproximando, Rafe olhou para eles e em seguida pra mim e se levantou, eles começaram a falar sobre algo que eu não conseguia ouvir.
— Ela não tá bem o suficiente, vai ser muita pressão.— Rafe disse um pouco mais alto, mostrando que ele estava ficando irritado.
Eu respirei fundo, coloquei a comida de lado e me levantei, minhas pernas tremerem ao por o pé no chão mas caminhei até eles.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Toxic • Rafe Cameron
FanfictionDesde criança, sempre ouvi dizer que Pougue é Pougue e Kook é Kook, uma divisão rígida que parecia impossível de quebrar. Aos onze anos, conheci um Kook que mexeu com minha cabeça, e por um tempo, eu acreditei que as coisas poderiam ser diferentes...