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A casa estava mergulhada em silêncio, exceto pelo som suave dos meus passos no chão de madeira. O coração batia forte no peito, mas eu não podia voltar atrás agora. O escritório do meu pai era como um território proibido, sempre trancado, sempre fora dos limites. Mas hoje, a porta estava aberta, como se me convidasse a entrar. Algo estava errado e eu precisava de respostas.

Fechei a porta atrás de mim, respirando fundo antes de me aproximar da mesa de madeira escura. As gavetas estavam trancadas, como sempre. Mas o cofre no canto estava entreaberto, e eu não precisei de muito para puxar o resto. O cheiro de papel antigo encheu o ar enquanto eu revirava pastas, procurando qualquer coisa que pudesse me dar uma pista sobre o que estava acontecendo.

Os papéis estavam cheios de informações sobre o Royal Merchant — mapas com possíveis localizações, coordenadas rabiscadas às pressas, nomes que eu reconhecia e outros que não fazia ideia de quem eram. Meu estômago revirava a cada descoberta, as evidências de que meu pai estava envolvido até o pescoço nessa loucura se tornando cada vez mais claras.

De repente, algo diferente chamou minha atenção. Um envelope amarelado, jogado de lado como se não fosse importante. Quando abri, senti um arrepio gelado percorrer minha espinha. Eram fotos, mas não de mapas ou documentos. Eram fotos de uma mulher, em vários momentos diferentes, como se estivesse sendo observada de longe. Meu coração parou quando virei a última foto. A mulher estava morta.

Soltei as fotos, o som delas batendo na mesa ecoando pelo silêncio da sala. Fiquei ali, paralisada, encarando aquela imagem horrível. Meu cérebro se recusava a processar o que meus olhos estavam vendo. E então, algo ainda mais aterrorizante me atingiu.

A mulher... era minha mãe.

Tive que segurar na mesa para não cair. As mãos tremiam, e meu corpo inteiro parecia ter se desconectado da realidade. As fotos, o jeito como ela foi observada, perseguida... e, finalmente, morta. O que isso significava? Por que as fotos da minha mãe estavam ali, entre documentos sobre o maldito ouro?

Antes que eu pudesse encontrar uma resposta, a porta se abriu bruscamente.

— Isadora? O que você tá fazendo aqui? — A voz do meu pai me fez dar um pulo, tão surpresa que bati a cabeça na cômoda atrás de mim. Eu me levantei rapidamente, ignorando a dor, com as fotos ainda na mão.

— O que é isso? — Gritei, jogando as fotos na mesa. — Por que as coisas da minha mãe estão juntas com as coisas desse navio idiota?

Ele olhou para as fotos por um segundo, depois para mim, e eu vi algo no olhar dele que nunca tinha visto antes. Medo. Mas ele não respondeu. Ao invés disso, começou a recolher os papéis e guardar eles rapidamente, como se tentar esconder tudo fosse resolver o problema.

— Por que você tá mexendo nessas coisas? — Ele disse, a voz fria e controlada, sem nem olhar para mim. — Isso não é da sua conta.

Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Minha mãe. As fotos. Tudo misturado com essa história de ouro, e ele estava agindo como se fosse um pequeno inconveniente. Como se eu não tivesse o direito de saber.

— Não é da minha conta? — Minha voz saiu mais alta do que eu esperava. — Isso não é da minha conta? A minha mãe tá morta, e você tem fotos dela... morta... aqui, junto com essas merdas sobre o Royal Merchant! O que você tá escondendo?

Ele continuou guardando os papéis, sem me olhar, como se as palavras que eu estava dizendo não importassem. Como se eu não importasse.

— Isadora, sai daqui agora. — A voz dele era tensa, quase como uma ordem.

Mas eu não ia sair. Não dessa vez.

— Não até você me dizer a verdade! — Eu gritei, o peito subindo e descendo com a raiva que eu nem sabia que estava guardando. — O que foi que você fez? Por que minha mãe estava sendo seguida? Por que ela... morreu? Isso foi por sua causa? Você a matou? Por isso disse todos esses anos que ela abandonou a gente?

Toxic • Rafe Cameron Onde histórias criam vida. Descubra agora