~ narrado por Apollo ~
Duas semanas, 14 dias, 336 horas ou 20.160 minutos. Esse é o tempo que a Letícia está em coma. As horas se arrastam e, entre o hospital e as batalhas de rima, me sinto vivendo uma realidade em que tudo acontece em câmera lenta. De manhã, pego o metrô rumo ao hospital, com a cabeça baixa, os fones de ouvido tocando as músicas que eu sempre mostrei pra ela. Chego, tomo aquele café amargo da cantina e subo para vê-la. Fico ao lado dela, segurando sua mão, contando como foram as últimas rimas que fiz ou as piadas que ouvi na rua, tentando encher o silêncio com alguma vida. Não sei se ela me escuta, mas finjo que sim, porque isso me dá forças.
Cada dia é uma luta pra seguir em frente, e a sensação de impotência só piorou quando saiu a notícia de que o caso dela tinha sido arquivado por falta de provas. A mídia divulgou que não havia evidências suficientes para continuar investigando, insinuando que ela tinha mentido. Foi como um soco no estômago, e eu sabia que, se a Letícia estivesse consciente, ela ficaria devastada.Conversei com o pai dela, seu João Ricardo, no hospital, enquanto ele olhava pela janela com o rosto sério e cansado. Me aproximei, tentando encontrar palavras que fizessem sentido.
- Seu João, sei que essa notícia foi um golpe, mas a Letícia nunca ia aceitar isso. Ela iria lutar até o fim, não ia deixar que as coisas ficassem assim. A gente não pode desistir agora. Vamos continuar buscando justiça, não importa o que digam.
Ele virou pra mim, os olhos pesados, mas cheios de determinação.
- Apollo, você está certo. A Letícia sempre foi guerreira, e a gente deve isso a ela. Vamos até o fim, nem que tenhamos que reabrir esse caso por conta própria. Não vou deixar que a imagem da minha filha seja manchada por uma mentira. Eu faço qualquer coisa pra acabar com esse filho da puta. - falou com a voz carregada de ódio.
Depois daquela conversa, saí do hospital com um peso no peito, mas também com a certeza de que não estávamos sozinhos nessa luta. A cada batalha de rima, eu colocava minha frustração e raiva nas palavras, tentando encontrar algum alívio naquelas linhas afiadas. Mas o vazio ainda estava lá.
Nessa mesma noite, depois de mais um dia cheio de batalhas, eu estava com o Tavin, Jota, Bask e Kakau jantando em uma lanchonete. A gente tentava distrair a cabeça, falando sobre as próximas batalhas, sobre o aniversário da BDA que estava próximo, quando a Kauane, amiga da Letícia e namorada do Jotapê, se aproximou voltando do banheiro com o celular na mão e uma expressão de choque no rosto.
- Apollo, você precisa ver isso - disse ela, a voz baixa e séria.
Ela nos mostrou a tela do celular, aberta numa página de fofoca. Lá, havia uma foto que estava começando a viralizar. Na imagem, o ex-noivo da Letícia, Matheus Duarte, aparecia ao lado de seu advogado, entregando uma bolsa de dinheiro para um policial. A legenda dizia que a foto tinha sido tirada poucos dias antes de o caso ser arquivado.
O ar pareceu fugir dos meus pulmões. Tavin e Bask ficaram em silêncio, olhando para mim, esperando uma reação. Já a Kauane balançava a cabeça, incrédula.
- Isso não pode ser coincidência - murmurei. - Eles estão tentando abafar a história... Manipularam tudo para livrar o Matheus. Ele pagou pra esse policial.
- Vamos até o fundo disso, Apollo. Agora temos que usar isso a nosso favor - disse Tavin, a voz carregada de determinação.
As coisas estavam ficando ainda mais sérias. Abri a publicação e comecei a ler tudo.
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Memórias de Verão | Apollo MC
Novela JuvenilRogério, um garoto de 14 anos cheio de aventura, vai para a cidade de Letícia, uma sonhadora, e os dois acabam se encontrando durante as férias. Juntos, eles exploram tudo, compartilham sonhos e trocam um primeiro beijo mágico sob as estrelas. Mas s...