CAPÍTULO XIV - Formatura

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Point Of View – Lauren

Mamãe saiu. Às vezes ela sai.

E fico só eu. Eu, meus brinquedos e meu cobertor. Quando chega em casa, ela dorme no sofá. O sofá é marrom e grudento. Ela está cansada. Às vezes, cubro ela com meu cobertor. Ou então ela chega em casa com alguma coisa para comer. Gosto desses dias. Comemos pão com manteiga. E, outras vezes, comemos macarrão com queijo. É o meu preferido. Hoje mamãe saiu. Estou brincando com os carros que mamãe me deu ontem. Ela disse que meninas podem brincar com carros também. Eles andam depressa no chão. Minha mãe saiu. Ela vai voltar. Vai, sim. Quando mamãe vai voltar para casa?

Está escuro agora, e minha mãe saiu. Posso alcançar a luz quando fico de pé no banco.

Acende. Apaga. Acende. Apaga. Acende. Apaga.

Claro. Escuro. Claro. Escuro. Claro.

Estou com fome. Como o queijo. Tem queijo na geladeira. Queijo com uma crosta azul.

Quando mamãe vem para casa?

Às vezes, ela volta para casa com ele. Odeio ele. Eu me escondo quando ele aparece. Meu lugar preferido é no armário da mamãe. Tem o cheiro dela. Tem o cheiro da mamãe quando ela está feliz. Quando mamãe vem para casa?

Minha cama está fria. E estou com fome. Tenho meu cobertor e meus brinquedos, mas não minha mãe. Quando mamãe vem para casa?

Acordo com um sobressalto.

Porra. Porra. Porra.

Odeio meus sonhos. São repletos de recordações angustiantes, lembretes distorcidos de uma época que quero esquecer. Meu coração bate acelerado e estou encharcada de suor. Mas a pior consequência desses pesadelos é ter que lidar com a ansiedade avassaladora quando acordo.

Nos últimos dias, meus pesadelos ficaram mais frequentes e mais vívidos. Nem imagino por quê. Maldita Allyson... ela só voltará semana que vem. Passo as mãos pelo cabelo e olho que horas são. Cinco e trinta e oito da manhã e a luz do amanhecer entra pelas cortinas. Está quase na hora de me levantar.

Vá correr, Jauregui.

***

Camila ainda não me enviou qualquer mensagem ou e-mail. À medida que meus pés vão batendo na calçada, minha ansiedade aumenta.

Esqueça isso, Jauregui.

Simplesmente esqueça, porra!

Sei que vou vê-la na cerimônia de formatura.

Mas não consigo deixar para lá.

Antes do banho, mando outra mensagem de texto.

Me liga.

Só preciso saber se ela está em segurança.

* * *

Depois do café da manhã, continuo sem notícias de Camila. Para tirá-la da cabeça, dedico cerca de duas horas ao meu discurso. Mais tarde, ainda essa manhã, na cerimônia de formatura, homenagearei o extraordinário trabalho do departamento de ciências ambientais e o progresso feito em parceria com a GEH na área de tecnologia agrícola para países em desenvolvimento.

Tudo parte do seu plano de alimentar o mundo? As palavras inteligentes de Camila ecoam na minha cabeça, atingindo em cheio o pesadelo que tive na noite passada.

Não dou importância a elas enquanto reescrevo o discurso. Sam, meu gerente de marketing, mandou um rascunho pretensioso demais para mim. Levo uma hora para transformar suas babaquices midiáticas em algo mais humano.

Cinquenta tons de verde (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora