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A luz suave do amanhecer começava a envolver a cidade sagrada, enquanto o aroma fresco da terra molhada se misturava com o leve perfume das flores silvestres. No entanto, o coração de Maria ainda estava inquieto, perturbado pela conversa que tivera com o Mestre na noite anterior.
Maria saiu da casa, sentindo a suave brisa da manhã envolvê-la. O sol já iluminava as árvores ao redor com uma luz suave, tingindo de dourado as folhas das oliveiras.
Pedro estava sentado num banco de madeira próximo à entrada, olhando distraidamente para uma velha rede de pesca estendida no chão. A rede pertencia ao dono da casa, um pescador que vivia ali e que, como tantos outros, trazia seu sustento do mar. Pedro, no entanto, parecia distante, perdido em suas memórias, seus olhos fixos na rede, mas seu pensamento em outro lugar. Era impossível não notar o ar nostálgico que o envolvia, como se os anos passados à beira do mar da Galileia estivessem de repente ao seu alcance.
Pedro mal percebeu quando, diante de seus olhos, a imagem da rede de pesca se dissolveu em outra cena:
ele estava de volta à beira do mar da Galileia, ao lado de André, seu irmão. Eles lançavam suas redes ao mar, a água brilhando ao sol, quando uma voz ecoou:
—Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens.
Ele olhou para Jesus, sentindo o peso das redes em suas mãos se esvair no momento em que decidiu largá-las. Sem hesitar, ele e André seguiram aquele homem que mudaria suas vidas para sempre.
A lembrança se desvaneceu e foi substituída por outra, ainda mais vívida. Pedro sentiu o frio da água em seus pés, viu-se saindo do barco, andando sobre as águas em direção a Jesus. O vento soprava forte e, ao reparar na profundidade, o medo o consumiu. Ele começou a afundar.
—Senhor, salva-me!
Pedro gritou, e imediatamente sentiu a mão firme de Jesus segurando a sua, puxando-o para a superfície.
—Homem de pouca fé, por que você duvidou?As palavras de Jesus ainda ecoavam em sua mente.
Foi nesse momento que ele ouviu passos leves atrás de si. Sem se virar, Pedro reconheceu a presença de Madalena. Ele manteve os olhos na rede à sua frente, a postura rígida, como se sua mente estivesse longe demais para ser perturbada.
chamou ela, hesitante:
— Pedro!
—O que você quer?
Pedro respondeu com voz firme, o silêncio entre eles pesava como uma tempestade prestes a eclodir.
Maria hesitou, mas continuou, apesar do tom defensivo dele.
— Estou preocupada com Jesus. Ele tem se mostrado tão distante de nós, tão preocupado.
Pedro continuou olhando para a frente, como se suas palavras não tivessem peso.
— Jesus sempre foi reservado.
O silêncio que se seguiu foi pesado, quase palpável. Maria se aproximou um pouco mais, sentando-se num banco ao lado dele. O ar ao redor deles estava denso com a expectativa de algo iminente, como se até a natureza soubesse que o tempo estava se esgotando. O vento soprou mais forte, as árvores farfalhavam, mas Pedro continuava imóvel, aparentemente preso em seu próprio mundo.
Depois de alguns minutos, Maria falou novamente, a voz baixa e cheia de incerteza.
— Ele tem dito palavras que eu não entendo. Fala sobre a vontade do Pai ser cumprida. Eu tenho medo do que possa acontecer com Ele e conosco. Os fariseus e os saduceus estão observando cada movimento dele. Já estão se organizando para pegá-lo. Eu sinto isso.
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Maria Madalena:A voz do silêncio
ChickLitAntes de conhecer Jesus de Nazaré, Maria Madalena vivia atormentada por demônios. Porém, ao cruzar seu caminho com o dele, sua vida ganha um novo sentido. Decidida a segui-lo, ela embarca em uma jornada que a levará a enfrentar desafios, preconceito...