Capítulo 15: Preço de sangue

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                               ✞  

                  FLASHBACK

Após saírem do templo com os alimentos consagrados que haviam trazido de Magdala, a família de Madalena percorreu as ruas de pedra desgastada, onde ecos de vozes e passos se misturavam com o distante barulho de mercadores anunciando seus produtos. O ar estava impregnado de uma mistura de cheiros: o aroma das especiarias, como canela e cominho, dançava junto ao odor dos tecidos recém-tingidos e da terra aquecida pelo sol.

Maor, o irmão mais novo de Maria, caminhava com os olhos ávidos, sempre à espreita de algo novo e reluzente. De repente, ele avistou, em meio aos produtos expostos, um grande cavalo de madeira. A figura era polida e banhada em prata, reluzindo intensamente sob a luz do sol. O brilho era quase hipnótico para o menino.

— Eu quero aquele cavalo, pai!

exclamou o menino, com um entusiasmo vibrante na voz.

O pai, que amava ver a felicidade estampada no rosto dos filhos, virou-se para o vendedor com um sorriso. Enquanto isso, Madalena segurava seu irmão mais novo com firmeza à sua frente, ambos montados no jumentinho, que soltava breves bufadas de ar pelo nariz a cada passo.

— Você não acha aquele cavalo de balanço grande e pesado para que o transportemos, Maor?

Indagou Madalena, observando o tamanho imponente do brinquedo.

Maor olhou para ela, sem perder o entusiasmo.

— Talvez... mas eu queria muito ele!

respondeu com uma mistura de desejo e esperança no olhar.

Ao se aproximarem, o pai acariciou o ombro do filho antes de se virar para o comerciante, que agora os observava com um olhar interessado e profissional.

— Amigo, por quanto você me vende esse cavalo de balanço?

perguntou o pai, sua voz firme e amistosa.

O comerciante, que usava um turbante azul desbotado e possuía uma barba grisalha, ergueu uma sobrancelha e respondeu com uma voz rouca, marcada pela experiência.

— Para o senhor, farei um preço justo! Trinta moedas de prata por este lindo cavalo, feito à mão e adornado com os melhores detalhes.

Ao ouvir o preço, o pai nem pestanejou.

— Perfeito! Eu o quero.

O som das moedas tilintando enquanto ele as retirava da bolsa fez os olhos de Maor brilharem de Felicidade. O sorriso largo do garoto iluminou seu rosto, e ele apertou as mãos, mal contendo sua alegria. Madalena, observando o irmão, também sorriu, contagiada pela felicidade dele.

O comerciante pegou o cavalo cuidadosamente e o entregou ao pai, que o ergueu com esforço, sentindo o peso do brinquedo nos braços. O cheiro da madeira recém-esculpida e o toque frio da prata reforçavam a impressão de que aquele era um presente raro e precioso. Enquanto se afastavam com o cavalo reluzindo à luz, Maor, montado no jumentinho, não parava de admirá-lo, seus dedos pequenos acariciando a superfície lisa e brilhante.

Os passos ecoavam pelas ruas, e o sorriso de Maor parecia iluminar até as vielas sombrias. Madalena não pôde evitar sorrir, encantada pela alegria pura do irmão. Era nesses pequenos momentos que se revelava o amor e a ternura daquela família, unidos por gestos simples, mas cheios de significado.

⚜•⚜•⚜                                                    

  O dia amanhecera com uma luz suave que se insinuava no horizonte, ainda tímida, colorindo o céu com tons de dourado e púrpura. Antes que o sol surgisse completamente, as três mulheres já estavam de pé. O ar fresco da manhã envolvia seus rostos, e elas podiam sentir o cheiro da terra úmida enquanto caminhavam até as oliveiras. Com movimentos cuidadosos e ritmados, colhiam olivas e pequenos frutos que cresciam em abundância na região, suas mãos habilidosas trabalhando em silêncio, enquanto o canto de pássaros distantes anunciava o começo de um novo dia.

Maria Madalena:A voz do silêncio Onde histórias criam vida. Descubra agora