"As lembranças podem assombrar a alma, mas em Jesus encontro a paz que a cura."
✞⎯✞⎯✞⎯
Era madrugada fria quando Madalena se contorcia na cama, o sono agitado refletia os pesadelos sombrios que haviam tomado conta de sua mente. Ela era novamente aquela criança inocente, correndo livremente pelos campos dourados, ao lado de sua amiga de infância. Risos leves preenchiam o ar enquanto brincavam, até que, sem aviso, seus olhos pousaram em algo brilhante no chão. A curiosidade tomou conta delas. Sob uma fina camada de terra, repousava uma estatueta esculpida com detalhes que emanavam uma energia misteriosa.
Era a imagem de uma deusa, chamada Star, cujo semblante exalava uma beleza hipnotizante e sensualidade imponente. Fascinada, Maria sentiu uma conexão imediata com a estatueta, como se a deusa tivesse algo a lhe dizer. Com o passar dos dias, aquela figura tornou-se uma companheira constante em suas brincadeiras. Maria começou a sentir a presença da deusa como uma nova amiga, sempre ali, sussurrando palavras doces e oferecendo uma sensação de acolhimento.
Star não era apenas uma deusa comum, ela representava toda a feminilidade e sensualidade do universo. Lentamente, sua influência sobre Maria foi crescendo. Ela parecia compreender as angústias da menina, oferecendo conforto, aconselhando-a em seus momentos mais solitários. Mas, conforme o tempo passava, a presença da deusa tornava-se mais perturbadora. Os sussurros, antes doces, começaram a mudar de tom. A doçura foi se esvaindo, e sua verdadeira face começou a emergir.
Foi então que, num desses encontros, a deusa revelou seu verdadeiro poder. Ela não era uma simples entidade, mas uma criatura antiga, cuja sedução mascarava intenções sombrias. Com um sorriso cruel, Star tomou conta de Maria, invadindo sua alma, possuindo-a com uma força avassaladora. De repente, a escuridão ao seu redor começou a tomar forma. Outras entidades surgiram, convocadas pela deusa. Moloque, Baal, Aserá, Belial, Lilith e Nammu apareceram, criaturas de pura malevolência, cada uma delas trazendo consigo o peso de um mal ancestral.
Nos sonhos de Maria, aquelas entidades a cercavam, rindo de sua dor, açoitando sua pele com chicotes invisíveis, enquanto falavam coisas terríveis, profecias de destruição e tormento. A dor era insuportável, e Maria se sentia cada vez mais impotente, como se estivesse afundando em um abismo de desespero.
As vozes dos demônios ecoavam em sua mente:
—Você nunca escapará de nós, somos sua verdadeira natureza, sua verdadeira companhia.
Ela tentava resistir, mas suas forças se esgotavam. O tormento parecia não ter fim.
De repente, Maria acordou em meio a gritos, os lençóis encharcados de suor, e lágrimas escorriam de seus olhos. Seu corpo tremia violentamente, enquanto o desespero e o medo ainda ecoavam em sua alma. Foi então que ela viu uma figura diante dela. Seus olhos demoraram um momento para ajustar, mas logo reconheceu o semblante de Jesus, sereno e compassivo.
—Maria! acalme-se. Isso que você viveu pertence ao passado. Essas forças não têm mais poder sobre você. Eu estou aqui.
ele disse em tom suave, sua presença emanando paz. Ela soluçou, as palavras mal formadas entre seus lábios trêmulos.
— eles ainda me atormentam.
Jesus se aproximou, tocando suavemente sua cabeça.
—Esses demônios não têm mais controle sobre sua alma. Você é livre, Maria. Aquilo já passou. Não temas, pois você renasceu novamente, deixou seus antigos costumes e riquezas para trás e se entregou á vida eterna.
E, com essas palavras, a paz começou a inundar seu coração aflito. O tormento recuava, e a presença calmante de Jesus era a única coisa que restava, dissipando a escuridão que por tanto tempo a perseguira.
O sol brilhava intensamente sobre as colinas de Jerusalém quando Jesus e seus discípulos se aproximavam dos portões da cidade. A jornada até ali havia sido longa e cheia de ensinamentos. Eles tinham passado por diversas vilas e cidades, curando os doentes, pregando o Reino de Deus e trazendo esperança para os desesperados. A chegada a Jerusalém, no entanto, trazia um peso especial, como se algo importante estivesse prestes a acontecer.
O grupo estava cansado, mas os corações estavam em paz, exceto pelo de Judas. Enquanto caminhava um pouco afastado dos demais, seu olhar vagava pelas ruas movimentadas, já antevendo as luzes, os comércios e os prazeres que a cidade oferecia. Ele não conseguia se livrar de um desejo latente de gastar o dinheiro que carregava na bolsa, sentindo-se atraído pelas coisas fúteis que poderia adquirir. As moedas que tintilavam no fundo de sua sacola tinham se tornado uma fonte de inquietação.
Em uma dessas paradas, perto do portão da cidade, os discípulos começaram a notar algo estranho no comportamento de Judas. Ele estava sempre contando as moedas, murmurando para si mesmo, e desviando o olhar quando questionado. Pedro, que era de natureza mais impulsiva, decidiu confrontá-lo. Ele se aproximou de João e Tiago e sussurrou:
—Vocês têm notado como Judas está sempre mexendo no dinheiro? Algo está errado. Não acho que ele está agindo como deveria.
João, sempre mais cauteloso, assentiu, mas sugeriu paciência.
—Sim, também percebi, mas precisamos falar disso com calma. Talvez seja só cansaço.
Tiago, por sua vez, olhou diretamente para Pedro.
—Mas e se ele estiver roubando? E se ele estiver tirando o que pertence a todos nós?
A dúvida já havia se espalhado entre eles. Ninguém queria acreditar que um dos doze pudesse estar traindo a confiança do grupo, mas a cada dia, o comportamento de Judas ficava mais suspeito.
Naquela noite, ao acamparem às margens da cidade, os discípulos decidiram levar suas preocupações a Jesus. Reunidos ao redor de uma fogueira, a atmosfera estava tensa. Pedro, tomando a palavra, disse:
—Senhor, nós estamos preocupados com Judas. Temos visto que ele parece inquieto e que, talvez, esteja desviando o dinheiro que é destinado ao nosso sustento e ajuda comunitária. Nós confiamos nele para cuidar dessa bolsa, mas... algo não parece certo.
Jesus, que havia ficado em silêncio até então, olhou para cada um deles com seus olhos cheios de compaixão. Ele sabia o que se passava no coração de Judas. Sabia de suas lutas internas, de seus desejos e da tentação que o rondava. Mas também sabia que era necessário que eles, seus discípulos, entendessem a profundidade do perdão e do livre arbítrio.
começou Jesus com voz serena.
—Meus irmãos. não sejam rápidos em julgar. Cada um de vocês tem suas próprias lutas e tentações, assim como Judas. O que é importante é como lidamos com esses desafios.
Os discípulos ouviram em silêncio, mas a tensão ainda permanecia no ar. Pedro, com sua habitual ousadia, insistiu:
—Mas, Senhor, se ele realmente estiver roubando, o que faremos? Ele está traindo nossa confiança.
Jesus levantou-se calmamente, seus olhos refletindo a luz suave da fogueira. Ele sabia que o caminho de Judas seria sombrio, mas também sabia que cada um deles, em algum momento, enfrentaria escolhas difíceis. Ele olhou diretamente para Pedro e disse:
—Pedro, nem sempre podemos ver o que se passa no coração de um homem. Mas lembrem-se: o julgamento não pertence a vocês. O que se espera de vocês é que estejam atentos, que perdoem e que ajam com compaixão.
O silêncio que seguiu as palavras de Jesus era profundo. Mesmo sem compreender completamente, os discípulos sabiam que algo importante estava prestes a acontecer em Jerusalém. E, enquanto as sombras da traição começavam a crescer, o destino de todos eles se entrelaçava com o da cidade sagrada.
Judas, ao ouvir a conversa à distância, apertou a bolsa de moedas contra o peito. Ele sabia que algo dentro dele estava mudando, e as tentações que antes pareciam pequenas agora cresciam como uma sombra escura em seu coração. Mas, ainda assim, ele se manteve em silêncio, olhando para as luzes de Jerusalém, sem saber que aquela cidade seria o palco do maior drama de sua vida.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Maria Madalena:A voz do silêncio
Chick-LitAntes de conhecer Jesus de Nazaré, Maria Madalena vivia atormentada por demônios. Porém, ao cruzar seu caminho com o dele, sua vida ganha um novo sentido. Decidida a segui-lo, ela embarca em uma jornada que a levará a enfrentar desafios, preconceito...