"Aquele que cogita trair o Mestre acaba traindo a si mesmo."
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Antes mesmo dos primeiros raios de sol tingirem o céu sobre Betânia, o grupo liderado por Jesus já se aprontava para partir. Era o quinto dia antes do Pessach, e planejavam retornar a Jerusalém para as festividades sagradas. Ao se despedir dos anfitriões da casa, Jesus ofereceu-lhes uma bênção calorosa, seu olhar gentil refletindo gratidão e carinho. Quando se aproximou de Lázaro, envolveu-o em um abraço apertado, como se fosse uma despedida ao amigo tão querido. Com o coração leve, mas ainda carregado de uma sensação de partida, seguiram deixando a pequena vila e retornando ao deserto, agora com a companhia de Maria, que era acolhida como parte do grupo.
Maria caminhava junto a Madalena e Suzana, trocando risadas e confidências como se fossem amigas de longa data. A amizade entre elas fluía de forma natural, uma irmandade formada na estrada, fortalecida pela fé e pelos desafios que compartilhavam. Mais atrás, Pedro e André observavam o grupo feminino com curiosidade e sussurros entre risos.
—Já reparou no jeito de falar de Maria?
murmurou Pedro, referindo-se a Madalena, enquanto cutucava o braço de André.
- Jeito? Que jeito?
Questionou André, sem entender a insinuação.
—Ela fala diferente das outras, parece alguém instruída. Imagina, uma mulher estudada!
Pedro zombou com um sorriso sarcástico.
João, ouvindo a conversa, entrou sem hesitar.
—Pois saiba que ela sabe ler e escrever, Pedro. Você nunca notou?
Pedro virou-se para João com um olhar estreito e desdenhoso.
—Por acaso ninguém te ensinou a não se intrometer na conversa dos mais velhos, garoto?
João, mantendo a calma, respondeu sem perder a compostura.
—E você, Pedro? Nunca foi ensinado a tratar uma mulher com o respeito que ela merece?
As palavras de João calaram Pedro e André. André, embora soubesse que o amigo tinha razão, optou por não contrariar o irmão, permanecendo em silêncio. No entanto, no fundo, ele sentia admiração pela coragem de João.
Quando a noite finalmente caiu sobre o grupo, decidiram acampar na mesma caverna que haviam encontrado no caminho para Betânia. A escuridão do deserto era profunda e silenciosa, e a brisa noturna trazia o frio cortante típico da região. Acomodaram-se em torno de uma fogueira que crepitava suavemente, lançando sombras dançantes nas paredes rochosas da caverna. A refeição era simples: peixe seco e frutas silvestres, alimentos humildes que, naquele cenário, ganhavam um sabor de união.
Desta vez, o grupo não formou a roda costumeira; cada um buscou um canto, imerso em pensamentos ou em conversas discretas. Alguns se mantinham em silêncio, observando as sombras que pareciam evocar memórias antigas dos sacrifícios pagãos tão cruéis e sombrios.
Dentro da caverna, Madalena, Suzana e Maria sentaram-se ao redor da fogueira, onde Jesus havia gentilmente acendido as chamas para aquecê-las. Elas se acomodaram sobre esteiras, enroladas em mantas de lã trazidas por Madalena, lembranças de sua vida anterior em Magdala. As mantas ainda conservavam a textura macia e a qualidade que rememoravam o luxo de seus dias passados, e, generosamente, ela as repartiu entre todos.
Maria e Suzana estavam envolvidas em uma conversa animada sobre a gravidez e o nascimento de Jesus, recordando as surpresas e os desafios daquela época tão especial. Cada lembrança parecia ser contada com brilho nos olhos, e as duas riam juntas, trocando confidências e histórias. Madalena, sentada ao lado delas, observava em silêncio. Por mais que tentasse se concentrar no assunto, que realmente achava interessante, sentia-se desconectada, como se algo mais sombrio a puxasse para longe daquele momento de alegria e ternura.
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Maria Madalena:A voz do silêncio
ChickLitAntes de conhecer Jesus de Nazaré, Maria Madalena vivia atormentada por demônios. Porém, ao cruzar seu caminho com o dele, sua vida ganha um novo sentido. Decidida a segui-lo, ela embarca em uma jornada que a levará a enfrentar desafios, preconceito...