Capítulo 14: Caminhos de Inquietação

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"A alma que não se veste de novo, em renascimento, jamais verá o brilho eterno do reino dos céus."

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Judas caminhou de volta ao acampamento, tentando disfarçar a inquietação que tomava conta de seu espírito. Ao se aproximar, seus olhos logo encontraram Jesus, sentado em uma rocha próxima, observando-o em silêncio. Jesus o fitava com uma expressão serena, quase como se soubesse o que havia se passado. Havia um leve sorriso em Seu rosto, um sorriso cheio de compreensão, que atingiu Judas profundamente.

Sentindo o peso daquele olhar, Judas desviou os olhos e abaixou a cabeça, como se o simples ato de encarar o Mestre revelasse tudo o que estava escondendo. Ele permaneceu assim por um instante, o coração apertado, sem coragem de dizer uma palavra.

Jesus, sem deixar de sorrir, apenas o observou, permitindo que o silêncio falasse mais alto que qualquer pergunta. Judas sentiu-se vulnerável, exposto, como se Jesus enxergasse todas as suas dúvidas e angústias. Em seu íntimo, uma batalha se travava entre lealdade e traição, entre amor e medo.

Ele desviou de Jesus, envergonhado, mas antes que pudesse alcançar o resto do grupo, Madalena surgiu em seu caminho. Ela o olhou de forma penetrante.

— Judas, Onde estão as frutas que você disse que ia comprar? Eu preciso reunir os alimentos.

Ela manteve a voz casual, embora seu olhar fosse intenso.

Judas hesitou, surpreso pela pergunta direta. Em sua mente, buscava uma resposta rápida por ter esquecido de comprar as frutas.

— Eu... eu reparti com os necessitados.

Gaguejou, tentando manter a calma.

— Na frente do Templo, havia muitos necessitados, e me senti tocado, então dei todas as frutas a eles.

Madalena cruzou os braços, um brilho desconfiado nascera em seus olhos.

— Generoso da sua parte  disse, Só que eu não me lembro de te ver com frutas.

— O que você quer dizer com isso? Você me seguiu?

sua voz tremia ligeiramente, e Maria percebeu o nervosismo por trás de sua tentativa de firmeza.

A jovem manteve o olhar fixo em Judas.

Madalena ergueu as sobrancelhas, fingindo surpresa.

— Eu? Eu não… fui ao mercado com João e André.

respondeu, dando de ombros.

— Precisávamos de um cordeiro para assar, e já que você só se ofereceu para comprar frutas, tivemos que comprar o cordeiro e os temperos.

Judas parou, assustado. Seus olhos se arregalaram, e ele engoliu em seco. Será que havia seguido seus passos? Memórias rápidas de sua ida ao Sinédrio voltaram com força, misturando-se ao som das vozes dos sacerdotes em sua mente. Ele se lembrou de ter visto uma figura que parecia a de Madalena em meio à multidão do mercado, observando-o por entre as barracas, e o pensamento o fez estremecer. Havia estado tão focado e nervoso com o encontro no Sinédrio que não percebera que três de seus companheiros haviam deixado o acampamento quase ao mesmo tempo que ele.

— Você realmente estava lá.

disse, lutando para manter o tom firme.

Maria manteve a calma, mas o brilho de seu olhar não deixava dúvidas de que percebia mais do que ele gostaria.

— Não estou entendendo o seu nervosismo. Se você tem algo a esconder, talvez seja com outra pessoa que precise se preocupar, não comigo.

respondeu, mantendo um tom de inocência, mas não poupando as palavras. 

Maria Madalena:A voz do silêncio Onde histórias criam vida. Descubra agora