Capítulo 18: A dor da Traição

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  "Uma espada há de atravessar tua alma, mãe, e em seu corte profundo revelarás o peso de todos os mistérios e dores."
              
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  Jesus já havia compartilhado seu ensinamento, lavando os pés dos discípulos com um gesto de humildade que tocava profundamente a alma de todos. Agora, estavam à mesa, prontos para a ceia. O aroma do cordeiro assado se misturava ao das ervas amargas, criando uma mistura de cheiros que preenchia o ambiente com uma sensação agridoce. Mas, para Madalena, e para as demais mulheres ao seu lado, esse banquete parecia ter perdido seu sabor.

A jovem Madalena, com as mãos tremendo ligeiramente, pegou um pedaço pequeno de comida, mas não conseguia engolir. Seu coração estava pesado, uma angústia que parecia apertar seu peito. As palavras de Jesus ecoavam em sua mente. E o medo de perder aquele que sempre foi a sua luz, a sua rocha, ameaçava consumi-la.

O vento gélido que entrava pela janela fez suas mãos se fecharem involuntariamente em um punho. O ar frio parecia refletir a frieza que tomava conta de seu coração. Ela não conseguia afastar a sensação de desespero.

Ao lado de Jesus, João repousava, com a cabeça repousada no peito do Mestre, como um filho nos braços de um pai. Era uma cena de ternura, uma expressão de confiança e amor puro. Jesus, com um olhar carinhoso, abraçou João, sua expressão suave, como se estivesse protegendo o discípulo mais amado.

Em um momento de silêncio, Jesus falou, sua voz firme, mas carregada de um peso profundo, fazendo com que todos os presentes prestassem atenção, suspensos em um único suspiro:

– O que come o pão comigo levantou contra mim o seu calcanhar. Na verdade, eu digo a vocês: um de vocês há de me trair. Ai daquele homem por quem o filho do homem é traído! Bom seria se não tivesse nascido.

O som daquelas palavras cortou o ar, fazendo com que a sala ficasse em um silêncio sepulcral. Ninguém ousava respirar, e os olhares se entrelaçaram em um mar de confusão e medo. Quem poderia fazer tamanha blasfêmia contra o Filho do Deus Vivo? A pergunta estava no ar, mas ninguém ousava pronunciá-la.

Um a um, os discípulos perguntaram:

—Por acaso, sou eu?

Jesus balançava suavemente a cabeça em negação. Até que o discípulo,  á sua direita, com a voz quase inaudível, perguntou-lhe:

—Por acaso sou eu?

Jesus, sussurrou baixinho para que apenas ele pudesse ouvir:

—Você é quem está dizendo.

As mulheres, sentadas ao lado da Janela, trocaram olhares furtivos, os olhos de Madalena fixos no Mestre, mas em seu coração, uma dor crescente se formava. Ela sentiu como se o próprio chão fosse arrancado debaixo de seus pés.

Pedro, ao lado de João, tocou discretamente o ombro do discípulo, seus olhos suplicantes, como se implorasse por uma resposta.

– João, pergunte a ele

sussurrou Pedro, a urgência em sua voz.

João, levantando a cabeça do peito de Jesus, olhou para Ele com um olhar de aflição, e perguntou:

– Mestre, quem é?

Jesus olhou para ele com uma suavidade que derretia até o mais duro dos corações. Era seu discípulo mais querido, o "discípulo amado", e seus olhos expressavam mais do que palavras poderiam dizer.

– É aquele a quem eu der o pão molhado com água.

respondeu Jesus, a voz cheia de tristeza e aceitação.

Maria Madalena:A voz do silêncio Onde histórias criam vida. Descubra agora