Capítulo 9: Presságios de Pessach

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  A poucos dias da Páscoa Judaica, conhecida como Pessach, Jerusalém, com suas ruas apinhadas de peregrinos, parecia respirar com dificuldade. O ar estava pesado, não apenas pelo calor do dia que se arrastava até o entardecer, mas pela tensão palpável que pairava no ar. Sussurros de revolta contra Jesus se misturavam ao cântico sagrado, e até os ventos pareciam conspirar em segredo, anunciando uma tempestade iminente.

Muitos chegavam à cidade sagrada, trazendo consigo suas oferendas para o templo. Maria observava o fluxo de pessoas com uma mistura de nostalgia e inquietação. A lembrança de sua primeira visita ao templo, quando ainda era criança, vinha-lhe à mente. Ela se via novamente ao lado da família, que trazia um cordeiro vivo para o Sacrifício, frutas frescas e uma grande variedade de peixes. Vindo de uma região conhecida pela fartura do mar, sua família de pescadores sempre oferecia o melhor das águas em suas peregrinações ao templo.

O cheiro forte do sangue de cordeiro fresco misturava-se com o aroma de incenso. Naquela época, o ato do Sacrifício lhe causara uma dor inexplicável, uma sensação de perda, como se estivesse testemunhando algo que não deveria ser visto.

Maria foi arrancada dessas recordações por Suzana, que a chamava para se juntar aos outros discípulos. Jesus estava pregando em frente ao templo, e a multidão que se reunia ao seu redor era diversa. Alguns buscavam aprender, enquanto outros, como os fariseus e sacerdotes, estavam ali apenas para criticá-lo. Entre os observadores mais atentos estavam Nicodemos e Caifás, sempre procurando por uma brecha que pudesse incriminar Jesus.

sussurrou Nicodemos, um dos membros religiosos, sua voz carregava  determinação:

—Esse Nazareno está ficando perigoso, Caifás. Não podemos mais esperar. Vamos procurar Pilatos para que o prenda de uma vez.

—Ele está violando nossas leis sagradas. Quem ele pensa que é para curar pessoas e expulsar demônios? Um feiticeiro? Ele pagará caro por isso. Já o condenamos no conselho religioso, só falta a aprovação de Pilatos.

respondeu Caifás, olhando para Jesus com ódio.

Maria observava os dois religiosos se afastarem da multidão, sentindo um aperto no peito. Ela sabia que eles estavam à espreita, esperando a oportunidade de acusar Jesus diante dos judeus e dos romanos. O temor por seu Mestre crescia dentro dela. Quando Jesus terminou seu devocional, levantou-se em silêncio e, cabisbaixo, afastou-se para orar no monte.

Com o coração acelerado, Maria sentiu uma onda de urgência a empurrar para frente. Ela precisava alertá-lo sobre o que sabia, não apenas por sua devoção, mas por um instinto profundo que dizia que cada segundo contava. Sem hesitar, ela seguiu seus passos até o topo da colina, determinada a proteger aquele que ela considerava não apenas seu Mestre, mas sua esperança.

Ao se aproximar, respirou fundo e disse:

—Mestre, eu acredito que deveríamos ir embora de Jerusalém. Cafarnaum, talvez...

Jesus, com sua voz mansa, a interrompeu:

—Não iremos embora. A palavra precisa se cumprir.

Maria, sem entender completamente, abaixou a cabeça e continuou:

—Eu sei que os sacerdotes querem pegá-lo por espalhar a palavra do reino. Isso não pode acontecer, Mestre.

Jesus, olhando para o horizonte, respondeu com serenidade:

—Essa é a vontade do Pai.

Ao responder, sua voz soou mansa, mas havia uma sombra em seu olhar, como se o peso da missão começasse a pressionar-lhe os ombros. Seu olhar para o horizonte não conseguiu esconder a dor silenciosa que carregava.

Maria Madalena:A voz do silêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora