Não tão distante dalí, porém mais próximo do entardecer, Elaric que havia se encontrado Gorin seu fiel amigo de caça e aventuras na floresta, voltavam de uma trilha. Eles estavam em suas montarias, e o que faziam? Discutiam á respeito de Bela, a moça por quem o convencido caçador estava interessado e que a mesma, recusou o seu pedido de casamento. Inconformado, o ruivo expressava sua indignação sob confidência com o colega:
- [...] Nem nos meus mais insanos sonhos, eu imaginei um desfecho assim Gorin. - Seguia com um olhar descrente para um vazio á frente e á medida em que os cavalos avançavam - Como ela pôde me rejeitar daquela forma? Usando como desculpas, toda àquela balela sobre se "Casar por Amor"? E tudo pra quê? Me ridicularizar? Me tratar como um porco no lamassal?! Ahh não... Isso é demais para um homem. - Exclamou o rapaz, com raiva evidente em sua voz.
- É meu amigo... - Suspirava - Eu bem que te avisei sobre o mal negócio que você iria fazer escolhendo a mais "Espinhosa" das "Rosas", dentre tantas outras no seu jardim, e que por sinal, não pensariam duas vezes caso fosse o contrário. - Pontuou - E eu lamento que não tenha saído como o planejado. De verdade... Mas, vida que segue. Não é o que dizem?
- Não, Gorin. Eu não... Isso não vai ficar assim. Bela certamente não sabe com quem está lidando - Retrucou, em tom de recusa - Não sabe. - Enfatiza - Mas, vai saber. Vai sim... E será minha esposa.
- Elaric... O que é aquilo? - Acenou com a cabeça, o rapaz de cacheadas mechas negras
De repente, ambos avistaram à beira da estrada um homem abatido, caído no chão, com muitos ferimentos. O mesmo, parecia ter sido espancado brutalmente. Coberto de hematomas e roupas rasgadas, o cenário exibia a cena de um ataque á estrada, e a vítima da história, agora estava alí, largada à própria sorte.
- Ele parece mal... Devemos ajudá-lo?
- Outro que faça isso... Não somos os únicos á passarem por essas bandas. Logo alguém irá socorrê-lo. Vamos.
- Mas, ele pode morrer se não fizermos nada - Insistiu Gorin
Olhando o pobre sujeito do alto de sua montaria, num olhar frio e que se estendeu por alguns segundos dissera:
- Já tenho problemas demais. - Pontuou simplesmente seguindo caminho, sem emitir mais nenhuma palavra dalí em diante, apenas avançando com o cavalo para que andasse mais depressa. Gorin, apesar de relutante, seguiu-o á galope logo atrás, no intuito de alcançá-lo.
Já era a sexta hora do dia, quando o sol começava a declinar no horizonte, tingindo o céu em tons dourados, num sinal de boas-vindas á noite que se aproximava, achegando à beira da estrada, vinha Jacques, o irmão de Elaric, que havia passado por alí mais cedo á caminho da casa de Maurice. O artesão da aldeia, havia feito mais uma entrega de seus valiosos serviços. Uma bela mesa de carvalho, adornada com intrincados entalhes, para a casa do "Chefe dos Ceifeiros".
Ao avistar o sujeito abatido, apressou sua montaria acoplada á charrete e, descendo dela com um cantil envolto ao tronco, foi até o homem, socorrendo-o com prontidão:
- Consegue me ouvir? - Questionava num tom de preocupação colocando-no sob seu colo enquanto esse, emitia alguns gemidos, nos intervalos fracos de outros suspiros - Calma, calma... - Sob os cuidados, esse deu-lhe de beber do próprio cantil, usando desse também, para limpar parcialmente os rastros de sangue que encobriam o seu rosto.
- Obrigado... - Balbuciou
- Não me agradeça ainda. Venha... - Com a mesma cautela, ele apanhava o homem com a força dos braços, e o colocou na charrete, no intuito de conduzi-lo rapidamente até a aldeia, para que pudesse receber os cuidados necessários.
- La-drões... - Balbuciou às pausas por mais uma vez, enquanto Jacques o acomodava
- É... Eu imaginei. Mas vai ficar tudo bem agora. - O aquietou
Ao descer da charrete, tendo terminado de alojá-lo nessa, sentiu a mão do sujeito, lhe assegurar a sua, que repousava às bordas da condução chamando a atenção do rapaz:
- Vo-cê... - Indagava o sujeito - Você é um bom rapaz.
- Sou apenas alguém, que gostaria que fizessem o mesmo por mim, caso estivesse em seu lugar. Mas, agora vamos. Está bem? - Voltou á guiar á charrete, num apresso considerável
Voltando para o casebre de Maurice o Marcador. Lá está a ele, agora assentado na sala, rodeado pelos três filhos. O crepitar do fogo na lareira misturava-se ao "Chiado" da chaleira ao fogo na cozinha. Anya, a segunda mais velha, preparava uma infusão calmante. Com mãos delicadas, ela colocava folhas de ervas aromáticas na água fervente, o que preenchia o ambiente. Logo em seguida, podia-se ver a moça trazer a bebida quente ao recém chegado:
- Aqui está meu pai. - Adiantou, num abaixar sútil e á altura do homem - Beba, irá se sentir melhor.
Enquanto Maurice saboreava a infusão, Bela descia as escadarias trazendo uma manta em mãos. O tecido era grosso feito de lã de ovelha, tingido com pigmentos que lhe davam uma cor terrosa. Afinal, as mantas e cobertores daquela época eram pesados e ásperos, mas cumpriam com o seu papel de aquecer nas noites frias:
- Papai... - O envolveu cuidadosamente - É para aquecê-lo
- Mas, e agora meu pai? Pode nos contar o que aconteceu? - Ulisses tomou a frente
Ele estava pálido, gélido, ao ponto de seus dedos estarem rígidos demais para soltar a xícara de chá quente. Seus olhos verdes estavam fixos no vazio, distantes e foscos, como se ainda estivessem imersos aos muros do lugar de onde veio:
- [...] O castelo erguia-se imponente, suas torres pareciam tocar o céu como lanças de pedra. As muralhas eram tão altas que pareciam intransponíveis, feitas de pedras escuras e musgosas... - Relatava aleatoriamente
- Do que o senhor está falando? - Questionou Anya
- Parecia um sonho... - Balbuciou - Como se cada pedra carregasse o peso de mil histórias ainda não contadas.
- Estou começando a ficar preocupada Ulisses... - Suspirou Anya - Não acha melhor chamarmos um médico? Vede! Ele não está bem!
- Papai... - Bela, aconchegou uma das mãos á mão de Maurice, chamando sua atenção para ela e agora, para a rosa que a mesma segurava - Onde conseguiu essa rosa? - O questionou de modo curioso, porém paciente.
Ele olhou para àquela espécime rubra de planta:
- Nos jardins do "Monstro". - Pontuou
- Monstro? - Essa respondeu, trazendo também a atenção dos irmãos
- A criatura que anda nas sombras... O amo e senhor do castelo. A Fera.
- O que ele fez com o senhor? - Ulisses o questionou
- Do que o senhor está falando agora? - Complementou Anya
- Esperem! - Bela tomou a frente - Não vamos conseguir nada se enchermos a cabeça dele com tantas perguntas. Por favor...
- Como se soubesse o que está fazendo! - Exclamou Anya - Quando apenas está alimentando essas sandices!
- Eu não estou louco! - Elevou Maurice - Eu sei o que eu vi! - Enfatizara, chamando agora a atenção dos três, que notaram ser àquela, a primeira vez que realmente o reconheceram - Por mais incomum que possa parecer... Eu sei o que eu vi. E o que eu tenho de fazer... - Assumiu agora, um semblante sofrível aos olhos
- O senhor mencionou uma Fera... - Bela retomou a fala - O que quis dizer com isso?
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A Fera & Eu
SpiritualInspirada na obra original de Madame Leprince de Beaumon. Convido você estimado leitor, á acompanhar essa releitura pertencente á um dos meus contos preferidos, adaptado de forma impecável pela produção cinematográfica de Walt Disney, "A Bela e a Fe...