Capítulo 11.

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João Romania.
Segunda-Feira, 29 de junho.

Acordo às seis da manhã, como em todos os outros dias da minha vida e tento começar a minha rotina matinal para me arrumar para o trabalho, mas simplesmente não consigo fazer nada, minha cabeça está um turbilhão.

Ontem, antes de dormir, cometi o erro de olhar meu aplicativo de mensagens, além de Gio e Renan mandando memes no nosso grupo e Pedro perguntando se eu tinha chegado bem em casa, tinham mais de 20 mensagens da minha mãe. Eu li toda elas, uma a uma, além de escutar dois áudios de mais de um minuto onde ela expressa sua decepção comigo, não respondi. Apesar disso, suas palavras batucaram na minha mente a noite toda, fui dormir chorando e tive uma péssima noite de sono.

Depois da reunião eu achei que beijar o Pedro era o certo, que iria calar meus pensamentos que gritam por ele dentro de mim, além da fúria que me fazia ter vontade de ir daqui até minha cidade no interior para discutir com meus familiares.

E funcionou! Minha mente só conseguiu pensar nele até a hora que eu li as malditas mensagens. Pensei em como seu beijo é bom e em como temos sintonia, pensei em como ele não tem autocontrole algum por seu corpo e parecia me implorar por mais com seus gestos e, sinceramente, fiquei muito orgulhoso por não cair na sua tentação e me controlar.

Lembrando dos nossos momentos de ontem, não consigo deixar de abrir um sorriso, estava realmente esperando muito por isso e fico feliz por não ter me impedido, mesmo sendo em um impulso.

Esse momento feliz contrasta com minha enorme raiva e tristeza devido ao modo com que meus pais me trataram. Estou decepcionado por não ser valorizado um segundo sequer e quando busco extravasar um pouco da realidade, sou apedrejado como se fosse um criminoso.

Percebo que não vou conseguir trabalhar dessa forma, mas não abrir hoje está fora de cogitação, não posso dar mais motivos para xingamentos por parte dos meus pais. São seis e meia, não sei se o Pedro já está acordado, mas mando uma mensagem de voz para ele.

"Bom dia, Pê.
Vou precisar de um favor... não vou conseguir abrir o Mania hoje no horário certo, acredito que vou me atrasar mais ou menos uma hora, preciso que você abra e segure as pontas enquanto eu não chegar. Você consegue fazer isso por mim? Prometo te recompensar depois!
De qualquer forma vou deixar a chave aí na sua portaria, qualquer coisa me liga."

Coloco um café para fazer na minha máquina de cápsula enquanto troco de roupa e ponho uma de corrida, só assim vou conseguir calar minha mente.

Tomo meu café em poucos goles, eu não estava com sono, mas hoje, mais do que o normal, a cafeína seria a minha melhor amiga.

Antes de sair de casa recebo uma resposta de Pedro:

"Bom dia, aconteceu alguma coisa?
Pode deixar que eu seguro as pontas enquanto você não chega. Não precisa passar aqui não, deixa na portaria do seu condomínio que eu busco.
Não preocupa que qualquer coisa te ligo, mas vai ficar tudo sob controle.
Beijo!"

Fico mais tranquilo, apesar de gostar de ter as coisas no meu comando, confio cegamente no Pedro e sei que tudo vai ficar bem. Me preocupo um pouco com ele, na verdade, cuidar daquele lugar sozinho, ainda mais em horário de pico, acaba com qualquer um.

Não tenho tempo para ir ao parque, então vou para a avenida mais próxima e corro sete quilômetros.

Enquanto corro, reflito bastante sobre os últimos acontecimentos, mas dessa vez, sem sentimentos envolvidos, minha raiva foi dissipada pela endorfina liberada.

Não consigo entender o motivo dos meus pais me tratarem de tal maneira, mas consigo entender que nada daquilo que a minha mãe insiste dizer sobre mim é verdade, diz muito mais sobre ela.

Mania | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora