O Diadema Perdido

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A casa que compraram com o dinheiro da descoberta de El Dourado era a antiga moradia do JJ, onde ele viveu a vida inteira com o pai. Já estive aqui várias vezes, mas com a reforma e os móveis novos, devo admitir, nossa "poguelândia" está incrível.

Sentados no sofá da sala, todos falam ao mesmo tempo, ansiosos para que eu finalmente revele o que estou guardando desde a noite anterior. Confesso que estou nervosa; eles estão tentando manter uma vida tranquila, e aqui estou eu para propor mais uma caça ao tesouro. E se recusarem? Não sei o que farei.

— Bom, vamos lá. — Começo, e todos silenciam. Conecto meu notebook à TV. — Desde o início: há quase um ano, meu pai me tirou daqui antes que eu acompanhasse vocês até El Dourado. Vocês sabem que fui contra a minha vontade, e isso me abalou. Então, decidi canalizar minha raiva e estudei diversos tesouros perdidos. Virei uma visitante ácida dos museus de Londres e finalmente achei uma utilidade para aquele lugar gelado.

JJ riu, e os outros rolaram os olhos. Reclamando de Londres? Parte da minha identidade.

— Entre tudo o que vi, isso me chamou a atenção. — Coloquei a imagem do diadema incrustado em cristais na tela. — Esse é o diadema da Princesa Isadora Bellver. Era sua joia favorita, um amuleto pessoal.

— É lindo. — Sarah comentou.

— Isadora era jovem quando tudo aconteceu. Primeiro, ela se apaixonou perdidamente e teve isso arrancado de si por um acordo feito pelos pais. A enviaram para o outro lado do oceano para se casar com um lorde em Quebec. E então, o naufrágio.

Passei as imagens enquanto explicava.

— Espera aí, está dizendo que o navio da princesa afundou perto de Outer Banks? — Pope indagou, surpreso. — Isso fica a uns 27 km daqui.

— A localização exata é um mistério, mas ele está entre esses pontos. — Apontei para o triângulo que fiz no mapa.

— Uau. — Kiara exclamou.

O silêncio de John B começava a me incomodar.

— Li que todas as joias de Isadora afundaram junto com o navio. E eu gostaria de...

— Alissa, você tem certeza que essa história é real? — meu primo questionou. — Sabe como adoram inventar tesouros perdidos.

— Justo você falando isso?! — Sarah o interrompeu, sorrindo. — Como o Pope disse, é perto. Vale dar uma olhada!

— Tô dentro. Todos sabem que pela minha ruivinha eu vou até a lua em um foguete só de ida. — JJ disse, me fazendo rir.

— Estamos precisando de grana pros impostos; vale a tentativa. — Pope acrescentou.

— É, eu tô dentro! — Kiara falou.

— Certo, vamos tentar. — John B concordou, e meu sorriso se completou. — Mas se ficar perigoso, a gente cai fora.

— Acho difícil, mas... Vamos atrás do seu Diadema Perdido, Lis.

— Ótimo! Agora vou explicar o primeiro passo...






Naquela noite, pedimos pizza e assistimos a um filme de terror na sala, rindo das piadas de John B e JJ sobre a qualidade duvidosa do filme. Na manhã seguinte, iríamos à Biblioteca Municipal, onde estava exposto partes do diário de Isadora.

— Já vou dormir, John B. — Sarah avisou, levando o copo para a cozinha.

— Eu também vou, boa noite, pessoal. — meu primo se despediu, seguindo-a.

Pope e Kiara já tinham ido, e eu fiquei com JJ, ouvindo música enquanto retocava a unha.

— E se a gente... — Ele ergueu um baseado, e eu rolei os olhos. — Em homenagem aos velhos tempos, quando a gente fumava escondido do John B e ele queria me matar aos ver seus olhos vermelhos.

Ambos sorrimos com a lembrança.

— Babaca! Tá bom. — dei de ombros, e ele veio para o meu lado no sofá. — Amanhã podemos dar uma volta no mangue? Quero testar mergulho, com certeza vou visitar o naufrágio.

— Claro, vou sugerir ao John B. — disse ele, soltando a fumaça do cigarro. — A história da princesa é bonita, né?

— É triste.

— Espero que a gente encontre. Você ficaria linda com aquela tiara.

Rolei os olhos, pegando o cigarro e inalando devagar, soltando a fumaça enquanto prendia o cabelo atrás da orelha.

— Tenho uma dúvida: — JJ começou, como se odiasse o silêncio. — Em Londres, você fuma?

— Raramente. Meu pai surta se descobre, e lá eu não tenho o que tenho aqui...

— Paz?

— Sim, lá tenho muito medo de tudo. Já aqui...

— Aqui você é livre.

— Completamente livre. — Sorri.

— Desde que meu pai foi embora, sinto o mesmo. Como se todo o mal tivesse ido com ele.

— É uma droga, né? — minha voz ficou lenta pela brisa. — Nossos pais deveriam garantir nosso bem, e não nos destruir.

— Estamos melhores sem eles, Lis.

— Eu sei...

Compartilhamos o baseado até o fim e deixamos a conversa pesada de lado. Voltamos à programação de ouvir música e rir de tudo que JJ fazia e falava. Ele sempre era engraçado, mas quando fumava, viajava nos assuntos mais aleatórios.

— Eu amo essa música! — ele murmurou.

Era "Friends" de Chase Atlantic e eu fingi não entender a indireta. Fui à cozinha para beber água e ele me seguiu, abrindo uma cerveja.

— Acho que vou dormir. — avisei, olhando para ele perto da mesa.

— Já? Tá tão cedo. — Ele fingiu olhar para o pulso, e eu ri.

— Acordamos cedo de verdade amanhã, e estou tão brisada que meus sonhos vão ser incríveis.

Ele sorriu, se aproximou e beijou minha testa. Prendi a respiração. Da última vez que esteve tão perto...

Seu polegar tocou minha bochecha, e nossos olhares se encontraram. JJ era tão bonito que dificultava as coisas. Meu coração bateu mais forte enquanto ele se aproximava e seus lábios tocaram os meus suavemente.

— Esqueci o celular... — a voz de John B na sala nos fez nos separar. — Caramba, foi mal, eu...

— Não estava acontecendo nada, já ia dormir. Boa noite, meninos.

No caminho para o quarto, ouvi JJ resmungando: "Valeu, John B, muito obrigado mesmo." Ri, mas amanhã preciso agradecer ao meu primo. Não vim para Outer Banks para me envolver com alguém, e não me perdoaria se algo atrapalhasse minha amizade com JJ.

Segredos Perdidos - OBXOnde histórias criam vida. Descubra agora