Perdida

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O vestido azul me envolve com suavidade, mas a fenda profunda na coxa direita parece desafiadora demais. Eu queria que ele fosse apenas bonito, mas algo nele me faz sentir exposta, como se estivesse tentando atrair olhares que não quero. Cada movimento que faço revela mais do meu corpo do que eu gostaria de mostrar. O tecido se ajusta à minha pele, mas, ao contrário do que eu esperava, não me sinto confiante. Ao contrário, me sinto estranha, deslocada, como se esse vestido tivesse sido feito para outra pessoa, não para mim. A maquiagem está impecável — a base está perfeita, os olhos esfumados num tom dramático, e os lábios, suavemente vermelhos. Mas por dentro, há algo que não se alinha.


Sarah está tão distante. Eu tento não olhar para ela, mas é impossível. Quando nossos olhos se cruzam, ela rapidamente desvia, e a dor disso me atinge como uma pancada sutil, mas constante. Não a culpo. Eu sei o que está acontecendo, e talvez seja melhor assim. Sarah tem um passado difícil com o irmão, uma bagagem emocional com a qual estou tentando lidar da melhor forma, mas ainda me dói vê-la me evitando. Ela não precisa falar nada. Eu entendo. Talvez ela só precise de tempo. Mas a pontada de tristeza persiste, como se, aos poucos, estivesse sendo deixada para trás.


Kiara, por outro lado, só me dirige a palavra quando precisa de algo. "Você tem rímel?" Ela pergunta sem levantar os olhos do espelho. É uma pergunta prática, mas que, na minha cabeça, se transforma numa silenciosa forma de exclusão. Eu tento não me importar. Tento me concentrar no momento, na festa que está por vir, mas a sensação de ser invisível está cada vez mais forte. Mesmo assim, me forço a dar um sorriso, como se fosse o mais natural do mundo.


A viagem para o novo pub da ilha começa, e, apesar de estarmos todas na Twinkie, o clima não melhora muito na van. Todo mundo está empolgado, conversando, brincando, mas eu me sinto como se estivesse observando, não participando. JJ parece não perceber, ou talvez perceba e decida não fazer nada a respeito. Ele se adianta para nos ajudar a descer da van, sempre o cavalheiro. Ele segura a mão de cada uma de nós, com um toque carinhoso, mas, quando chega minha vez, ele segura minha mão um pouco mais tempo, como se quisesse prolongar aquele contato. Seus dedos encontram os meus, com uma firmeza que me faz sentir um calor instantâneo.


Eu o encaro, e, por um segundo, o mundo ao redor desaparece. Os sons abafados, as conversas ao longe, tudo parece distorcido. O olhar de JJ encontra o meu, e algo ali... algo que eu não sei exatamente o que é. Não trocamos palavras desde a noite passada, mas ele parece saber o que estou sentindo. Eu, por outro lado, não sei o que ele sente. Será que ele sente algo também? O silêncio entre nós é pesado, mas é quebrado por ele, quando ele murmura:


— Você está linda, Lis.


O sorriso que escapa de mim é pequeno, tímido, mas verdadeiro. Nunca soube lidar com esse tipo de elogio, mas, naquele momento, eu não consigo evitar. Ele se afasta rapidamente, o que me dá tempo para respirar e tentar voltar ao presente, tentando ignorar a estranha sensação no peito.


Vou até Sarah, que finalmente solta um suspiro e me encara. O silêncio entre nós é longo, mas finalmente ela fala, com uma seriedade que me pega de surpresa:


— Não quero que suas péssimas escolhas estraguem nossa amizade.


Eu a encaro, sentindo uma mistura de desconforto e alívio. "Nem eu", respondo, a voz mais firme do que eu imaginava. Há algo de genuíno nas minhas palavras, algo que, talvez, ela não esperasse. E, ao que parece, isso a amolece. Ela solta um sorriso pequeno, quase zombeteiro.

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⏰ Última atualização: 20 hours ago ⏰

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