A Escolha

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— Eu só quero entender por que você sempre chega com o Rafe?! — Sarah pergunta, cruzando os braços e me encarando.


Ainda nem entrei na casa, e já começaram as perguntas. Imaginei que seria assim quando ele me deixou no quintal, e todos estavam reunidos na varanda. A expressão do JJ e do John B foi impagável, mas foi Sarah quem resolveu perguntar.


Sem responder, passo direto por ela e entro. JJ é o primeiro a vir atrás de mim; ele bate na porta do meu quarto, e eu digo para entrar.


— Quer conversar?


Balanço a cabeça, negando, e me deito na cama, exausta da pressão que todos estão colocando em mim.


— Olha, o Rafe não é a melhor companhia do mundo. Ele matou a xerife Peterkin, roubou a cruz do...


— JJ, eu fui atacada, tá legal?! — desabafo sem perceber o quanto ia expor. — Os mesmos caras que nos roubaram no mar me encontraram numa vila qualquer na ilha e começaram a fazer perguntas, e...


— Por Deus, Lisa, eles te machucaram? 

— Nada grave. — faço uma pausa. — Graças ao Rafe, que chegou bem na hora e quase atropelou todos com a moto.


— Pelo menos ele serviu para alguma coisa.


— É, porque, se eu esperasse um de vocês estar lá por mim... — a frase escapa antes que eu pense, e me dou conta do peso dela no mesmo instante.


JJ fecha o semblante, surpreso. — Alissa, eu achei que você fosse voltar com o John B. Te procurei por horas na ilha, eu não te encontrei, eu...


— Não importa, JJ. — Tento aliviar a tensão. — Só não quero vocês me tratando como criança sempre que o assunto é o Rafe. Ele salvou minha vida. Duas vezes. Não acho que eu precise ter medo dele ou evitá-lo.


— Qual parte do "ele matou uma pessoa" você não ouviu?!


Suspirei, irritada, passando a mão pelo rosto. Olho para a porta.


— Eu ouvi e eu quero ficar sozinha.


JJ pressiona os lábios, claramente desconfortável, mas acaba concordando com um "aham" e sai do quarto, batendo a porta. Respiro fundo e pego meu celular, que tinha ficado na Kombi. Quando abro o Instagram, vejo que Rafe começou a me seguir e eu retribuo o ato, dando um breve sorriso com isso. 


Meu coração bate acelerado quando penso em Rafe. Aqueles olhos azuis acinzentados invadem minha mente sem permissão sempre que divago. Eu tentava, mas não conseguia vê-lo como os outros falavam. A maldade que sussurravam sobre ele parecia distante, como um eco abafado.


"Um assassino a sangue frio", pensei, mas logo me corrigi. Ele não era apenas um rótulo. Para mim, Rafe era um labirinto de emoções, uma tempestade de confusão e intensidade. Havia algo quebrado nele, uma fragilidade que eu não conseguia ignorar. Talvez fosse essa parte que me atraía, essa necessidade de entender o que havia por trás da superfície.

Segredos Perdidos - OBXOnde histórias criam vida. Descubra agora