Segredos Perdidos - OBX

Pogues e Kooks

O lugar onde estou é escuro e apertado. Tento me mover, mas cada tentativa esbarra em madeira, firme e implacável. O espaço é mínimo, meus braços mal se mexem. Tento me levantar, mas só encontro mais madeira acima. É como se estivesse dentro de uma caixa resistente. A umidade começa a se intensificar, e meus sentidos se inundam com o som desesperado da água invadindo o espaço. Sinto minhas costas se encharcarem.

"O que está acontecendo? Onde estou?" Me pergunto em silêncio, pois minha boca está selada pelo pavor.

A água se eleva rápido, atingindo meu rosto, me engolindo. O oxigênio escapa, e luto, me debatendo, buscando qualquer mínimo espaço de ar naquele caixão submerso. Mas é inútil. A água preenche tudo. Não há escapatória. Num último desespero, acordo, arfando e sem ar. Minha mão vai direto ao peito, pressionando-o, tentando controlar a respiração que sai descompassada. Foi um sonho, só um sonho. A história de Bellver está mexendo comigo, ocupando cada canto da minha mente, como se eu fosse ela, como se estivesse lá... E estava prestes a me afogar.

Levanto e percebo que ainda é madrugada. A casa está envolta num silêncio profundo, exceto por uma conversa abafada que vem do lado de fora. Caminho até a cozinha, sirvo-me de um copo de água e o bebo em longos goles. Depois, sigo o som das vozes, reconhecendo a de John B e a de JJ. Estão rindo e conversando.

— A gente acordou você? — John B pergunta, com uma expressão de leve preocupação.

— Não... Eu... Tive um sonho ruim. — digo, tentando afastar a sensação opressiva de afogamento. JJ morde o lábio e bate no sofá ao seu lado, me convidando a sentar. — A França fica muito longe? 

JJ solta uma risada curta.

— Tá de brincadeira, né? É tipo... do outro lado do mundo — ele exagera, com aquele ar sempre descontraído.

— Por quê, Lisa? — meu primo me pergunta, intrigado.

— Eu tenho que encontrar o Diadema dela. Eu sinto que ele está lá — Engulo em seco, lutando para colocar em palavras o que sinto. — Tinha um mapa de Marselha, e uma frase... É como se aquilo fosse parte dela, como se sua alma estivesse conectada a esse lugar e ela voltasse para lá, sabe?

— Que viagem... — murmura JJ, mas o tom não é de deboche, e sim de uma estranha admiração pela profundidade da história.

— Melhor pensar nisso amanhã, pode ser? — John B sugere, estendendo o braço para me puxar para perto. Concordo com um aceno, encostando a cabeça em seu ombro. Ele suspira, e o calor de seu abraço ajuda a afastar um pouco do frio que a lembrança da água trouxe. Ainda sinto o peso do mar de mais cedo.

— Eles sabiam o que a gente estava procurando, Lisa. Viraram o barco e a casa do avesso. Estão atrás do Diadema também, e são muitos. Pode ser perigoso, arriscado.

Prendo o fôlego, sentindo medo da preocupação de John B. O que eles passaram há poucos meses não foi fácil. Todos carregam marcas. Mas eu não vou desistir, eu não posso.