Capítulo 3

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Eunji se ajoelhou, a frieza do piso laminado contra seus joelhos a despertando para a realidade da situação.

Jungkook, com a pasta na mão e a expressão impassível, parou à porta, a visão de sua esposa ajoelhada aos seus pés causando uma estranha sensação em seu peito.

— Jungkook, por favor... — sua voz saiu trêmula, carregada de desespero. — Vá comigo ao convento. É a nossa última chance de salvar nosso casamento.

Ele se agachou, ficando frente a frente com ela. Seus olhos, de um cinza gélido, percorreram o rosto dela, analisando cada traço marcado pela angústia.

— Eunji, o que você está fazendo? — sua voz era calma, mas carregada de irritação. — Levante-se.

Mas Eunji agarrou a sua perna esquerda, como uma criança desesperada.

— Por favor, Jungkook. Eu te amo. Eu sei que você não me ama, mas eu posso mudar, posso fazer tudo o que você quiser. Só me dê uma chance.

Jungkook tentou se soltar, mas a força de Eunji era surpreendente. Ele a olhou nos olhos, vendo o reflexo de sua própria alma perdida.

— Você não consegue enxergar a realidade, Eunji. — sua voz era firme. — Nosso casamento nunca existiu de fato, eu estou amarrado a você, já não é o bastante todas as ameaças da sua família contra mim? Você vive em um mundo de fantasias, acreditando em milagres que não existem, se agarra a qualquer coisa para não enxergar.

Ela sabe.

Mas o ama muito.

— Mas existe um milagre, Jungkook! — ela implorou, as lágrimas rolando pelo seu rosto. — Jimin, o santo ômega, ele pode nos ajudar.

Jungkook riu, um som amargo que ecoou pelo corredor.

— Jimin? Você está colocando suas esperanças em uma entidade que você mal conhece? É patético.

— Não é patético! — ela gritou, a voz falha. — É a nossa última esperança. Se não der certo desta vez, eu... eu vou pedir o divórcio!

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Jungkook a encarou por longos segundos, seus olhos fixos nos dela. Finalmente, ele suspirou.

— Você quer o divórcio? — sua voz era baixa, quase um sussurro. — Você realmente faria isso?

Eunji assentiu, a cabeça baixa. A verdade era que ela não queria o divórcio, mas estava desesperada.

— Tudo bem então. — Jungkook disse, se levantando e se afastando dela. — Farei isso, mas você deve cumprir com sua palavra.

Ele pegou sua pasta e saiu, deixando Eunji sozinha no corredor, o som de seus passos se desvanecendo.

Eunji levantou-se do chão frio. A decisão de Jungkook a havia deixado em pedaços, mas a esperança ainda lhe restava um fio, tênue como uma vela à beira de se apagar. Ela precisava tentar.

No dia seguinte, ambos subiram a montanha. Não havia diálogo entre eles, o silêncio quebrado apenas pelo som de suas respirações e dos passos ecoando no caminho íngreme.

Jungkook caminhava à frente, a expressão impassível, como se estivesse em um pesadelo do qual não conseguia acordar.

A jornada foi longa e exaustiva, mas finalmente, eles alcançaram o convento. A construção imponente se erguia majestosa, como da última vez.

Ao entrar passaram pelo procedimento padrão entre a fila de devotos, foram conduzidos a uma sala de espera e limpeza. A ansiedade de Eunji crescia a cada instante.

Ela olhava para Jungkook, esperando por algum sinal de que ele estava disposto a dar uma chance a esse ritual, mas ele permanecia impassível.

Quando foram chamados, entraram em uma sala repleta de uma aura de paz e espiritualidade.

Jimin estava sentado em um altar, seu rosto ainda coberto pelo véu branco. Ao vê-lo, Eunji sentiu uma onda de calma para tomar conta de si.

— Santíssimo ômega, este é o meu marido, Jeon Jungkook.

Eles se curvaram diante do ômega, em sinal de respeito.

O silêncio era absoluto, tão demorado, que parecia que o ômega estava analisando algo importante antes de tomar qualquer atitude.

— Alfa, levante seu rosto. — Jimin ordenou. — Por favor.

Contragosto, o homem levantou o rosto, sendo observado meticulosamente por aquela criatura oculta entre o véu de sua pureza.

— Bem-vindos. — sua voz era suave e melodiosa, ecoando pela sala. — Sei do motivo de sua visita, enviei orações para a senhora Eunji durante três dias e três noites.

Eunji e Jungkook trocaram um olhar rápido.

O ômega se levantou e caminhou até uma pequena mesa, onde um sino de bronze repousava. Ao tocá-lo, um som cristalino ecoou pela sala, reverberando nas paredes de pedra.

— O som deste sino anuncia a minha descida da montanha. Sairei do convento, para concretizar um milagre com as minhas próprias mãos, por favor, me aceitem em sua casa, onde farei o meu templo...

Jungkook e Eunji arregalaram os olhos. Não era como se eles pudessem negar, quando um ômega desce as montanhas, os portadores de seus milagres devem arcar para mantê-lo, e fazer um templo para ele, era isso, ou mil anos luz de má sorte.

— Aceitamos. — Eunji respondeu sem pensar muito.

Jungkook ficou atônito, as palavras fugiram de sua boca. Primeiro que ele jamais em sua vida tinha sequer visto um ômega, e viver com um e receber um milagre, parecia uma ideia desconcertante.

E com a máscara de santidade perfeitamente ajustada, Jimin havia arquitetado sua entrada na vida de Eunji e Jungkook com maestria.

O toque no sino, um ritual aparentemente simples, carregava um significado muito mais profundo. Ao descender da montanha, Jimin não apenas atendia ao clamor dos devotos, mas também abria um portal para um novo tipo de poder.

Vestido em suas vestes finas de alguém completamente místico e inalcançável, Jimin emergiu do convento. O véu branco, que cobria seu rosto, flutuava ao vento, adicionando um toque de mistério à sua figura.

A multidão irrompeu em aplausos e cânticos, enquanto Jimin descia as escadas, acenando.

As pétalas de flores voavam pelo ar, criando um tapete colorido aos seus pés. Jimin caminhava com passos firmes e decididos, seu olhar fixo no horizonte. A cada passo, sua aura de poder se intensificava, hipnotizando a todos que o cercavam.

Eunji e Jungkook seguiam logo atrás de Jimin, observando a cena com sentimentos contraditórios.

Eunji estava radiante, convencida de que seu casamento seria salvo graças à intervenção divina.

Jungkook, por sua vez, sentia uma crescente sensação de desconforto. Algo dentro dele o alertava para o perigo que se aproximava.

Sob o véu Santo. Onde histórias criam vida. Descubra agora