P̴a̴s̴t̴ - Narusaku

16

Naruto pareceu compartilhar do desconforto e começou a ajudar a recolher os pratos.

Sakura o acompanhou até lava-louça, tentando se concentrar na tarefa para evitar o desconforto que a cercava.

A cozinha, antes um ambiente familiar, parecia agora menor, quase sufocante, com ele tão próximo, ainda havia aquela sensação estranha.

Colocou alguns pratos para lavar, o ambiente estava tão quieto que os pequenos ruídos soavam altos e distantes. Em um tom casual, Naruto quebrou o silêncio:

— A Hinata ligou hoje mais cedo, durante a live— Ele fez uma pausa, como se escolhesse as palavras com cuidado, ela o encarou surpresa, esperando pelo que diria.

Ela ja imaginava que a mulher fosse querer manter aquele tipo de proximidade, afinal, quem levaria a serio um termino daqueles? Naruto estava perdido e fora de si.

— Sai rapido e atendi, ela disse que quer me ver amanhã. mostrar algumas fotos — o desconforto não poderia ser mais visível.

Sakura suspirou, toda a situação era muito complicada, ela entendia o lado dele, do nada ele não estava mais em um casamento que ate então parecia — e de fato Sakura se lembrava de ter sido— perfeito, e uma mulher que nem era tão proxima agora chegava dizendo que tinham uma vida juntos, o fato dele não se lembrar não mudava isso.

Mas também havia o lado de Hinata, que também imaginava não ser facil.

Ela se deteve, hesitando por um momento antes de responder, afinal. O que diria a ele? Tudo aquilo era tão dificil.

— Isso é... bom, né? — tentou sorrir, a voz mais baixa do que pretendia, ele a encarou de relance parecendo reconhecer seu tom mediador, o que ela fazia quando tentava agir de uma maneira mais calma — Talvez possa ajudar... a trazer algumas lembranças, costuma a funcionar com os pacientes do hospital.

Quando ele não respondeu, ela voltou sua atenção para os pratos, evitando encará-lo. A resposta saiu quase automática, mas havia algo mais ali, algo que Sakura ainda não sabia nomear.

Naruto assentiu, mas o sorriso que esboçou foi forçado, e ele deu de ombros, como se não soubesse lidar com a própria sensação.

Após uma longa pausa, Sakura sentiu a necessidade de continuar.

— Pode parecer estranho agora, mas... — a voz dela falhou um pouco, e ela respirou fundo antes de prosseguir, ja se arrependendo de ter retomado assunto nisso — Você vai perceber o quanto é apaixonado por ela quando se lembrar de tudo, eu sei que não é a melhor coisa ouvir isso agora, mas eu tenho certeza que vocês se gostam muito, pelo menos sempre pareceram — disse, esperando que isso o acalmasse — logo vai lembrar da sua nova vida.

Aquela frase, mesmo que dita por ela, soava pesada.

Naruto suspirou profundamente, como se a resposta estivesse se formando em seu peito antes de ter a chance de tentar repensar.

— Eu não sei se quero me lembrar — A frase saiu baixa, mas clara, reverberando na cozinha como uma confissão inesperada. A revelação foi tão intensa que Sakura quase deixou o prato escorregar de suas mãos, sua expressão congelada em choque. Ela depositou o prato na secadora e, por um instante, ficou ali parada, tentando absorver o que acabara de ouvir — Eu não sei como...como as coisas chegaram nesse ponto. Eu não acreditar que isso aconteceu.

Reunindo a coragem que lhe restava, ela se virou lentamente para ele. Aparentemente perdido em pensamentos, parecia não ter ideia do impacto que aquelas palavras causaram nela. Não que ela não tivesse superado, mas não deixava de ser estranho.

— Naruto... — ela murmurou, ainda atônita, e percebeu que sua própria voz tremia levemente, o que diabos havia dado nele?  — Não... não devia falar essas coisas pra mim — era quase um pedido, um por favor, pare.

Doi.

Ele desviou o olhar, uma sombra de culpa cruzando seu rosto, ela sabia que ele havia sido sincero, nao só porque se lembrava dela como sua esposa, mas também como alguém que poderia ser sincero, e quando estavam juntos, também eram muito proximos nesse sentido.

E ele estava tão perdido.

— Talvez não — respondeu ele, sua voz quase inaudível. — Mas é o que sinto agora, Sakura.— Ela ainda estava absorvendo o impacto da confissão dele, manteve os olhos fixos na lava-louça, os pensamentos tão caóticos que mal conseguia se concentrar na tarefa diante dela.

Ela precisava colocar na cabeça que tinha que ignorar tudo que ele dissesse, porque esse não era ele.

Era uma parte do passado.

— Você é feliz, acredite.

— eu só nao consigo entender como.

Ela suspirou, desviando o olhar antes de responder.

— Já conversamos sobre isso no hospital —  tentou soar paciente, mas a tristeza embargava sua voz, era doloroso falar sobre o assunto, não por ressentimento, mas porque no fim, ninguem casava pensando em separar, afinal. O fato de estar bem com isso não tirava o merito de o quão ruim era um divorcio — A gente mudou. Eu mudei, você também. Foi lento, tão gradual que, quando percebemos... nós já não éramos mais os mesmos, e eu sei que talvez ainda não faça sentido, mas eu não sou a mesma Sakura que você se apaixonou no passado, e quato mais tempo passar, você também vai notar isso.

Ele baixou o olhar, a testa franzida, com uma expressão de incompreensão. Era como se as palavras dela não fizessem sentido.

— Você parece a mesma pra mim.

La estavam aqueles malditos olhos azuis a fazendo desviar o olhar depois de tantos anos de novo.

Por que ele tinha que ser tão sincero?

Suspirou profundamente, enquanto segurava o prato, o olhar fixo na cerâmica, como se encontrar a resposta ali fosse possível.

— Você está falando assim porque tudo o que tem são lembranças antigas — respondeu, a voz saindo baixa. Era estranho como ela sempre foi quem dava a noticia aos pacientes, ou então orientava a familia. No entando agora, não fazia ideia do que fazer ou dizer, como se fosse absolutamente leiga no assunto — Lembranças que vêm de um tempo que já passou para nós dois. Mas, quando você se lembrar do presente... vai ver que já não somos mais aquelas mesmas pessoas — explicou — Vai perceber que o que está dizendo agora é apenas... parte de um sentimento que se foi.

Naruto engoliu em seco, desviando o olhar, como se aquilo fosse um soco no estômago, ela sabia que estava sendo dura, mas ele precisava disso.

Ou talvez fosse ela quem precisava.