P̴a̴s̴t̴ - Narusaku

12

O dia em que Naruto finalmente voltaria para casa chegou, e a ansiedade de Sakura parecia tomar conta de cada canto do apartamento.

Desde que ela acordou, não conseguiu evitar o ritmo acelerado de seus passos pela sala e cozinha. Mesmo que tentasse disfarçar, os próprios filhos percebiam como ela estava mais inquieta, a forma como mexia nas coisas com um nervosismo evidente. Satsumi e Nitso, mesmo com a empolgação pela chegada do pai, observavam a mãe com certa curiosidade e preocupação. Sakura, porém, não conseguia controlar essas reações, pois sentia uma mistura de emoções que parecia transbordar.

Ela tentava colocar em palavras na própria mente o que sentia, mas tudo parecia confuso. "Como é que isso realmente está acontecendo?", pensava, enquanto ajeitava uma almofada pela terceira vez.

A ideia de ter Naruto novamente sob o mesmo teto era surreal. Afinal, eles eram ex-marido e ex-mulher, e dividir a mesma casa agora parecia quebrar todas as regras implícitas da separação, porque mesmo que ela não fosse oficial ainda pela lei, moralmente ja existia entre ambos, ela ja se considerava divorciada, e ele também, mesmo que não se lembrasse agora.

Era estranho, desconfortável. Para ele, talvez, a situação soasse um pouco mais normal, já que as lembranças dele paravam em um tempo em que moravam juntos. Mas para ela, essa era uma realidade que já não fazia mais parte de sua vida há muito tempo.

Quando finalmente o carro que trazia Naruto chegou, sendo conduzido por um dos funcionários, Sakura foi até a porta, o coração batendo rápido no peito. Ela hesitou por um segundo antes de girar a maçaneta, sentindo uma mistura de antecipação e nervosismo. A porta se abriu, e ali estava Naruto, ainda com a expressão que misturava a confusão de estar em uma nova realidade e a curiosidade de redescobrir coisas que, para ele, eram tão familiares e diferentes. Ele ainda tinha uma tala no braço, o que a fez pensar na necessidade de cuidado ao ajudá-lo a entrar. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, os filhos passaram correndo por ela.

Eles praticamente se jogaram em cima do pai, puxando-o com entusiasmo para dentro do apartamento. Seguravam suas mãos, seus braços, e a alegria deles era quase palpável.

Naruto soltou um riso baixo, tentando acompanhar o ritmo dos dois, mesmo com a mobilidade limitada por causa da tala. Sakura tentou intervir, dizendo com firmeza:

— Cuidado com o braço do pai de vocês!crianças. Ele ainda está se recuperando.

Mas eles mal ouviram, tão empolgados estavam em mostrar para o pai cada detalhe da casa. Nits¥, principalmente, falava sem parar, apontando para as mudanças no apartamento desde que Naruto havia se mudado de lá.

— Olha, papai! A gente mudou o sofá de lugar, lembra? E agora tem esse tapete novo! — Nitso apontava, gesticulando com entusiasmo. Ele mostrava detalhes como se fossem tesouros, enquanto Naruto olhava para cada canto, tentando captar as pequenas mudanças e as memórias que não existiam mais em sua mente.

Ela percebeu uma pontada de culpa surgindo dentro dela quando Nitsu, sem perceber a tensão dos adultos, puxava o pai de um lado para o outro, e Naruto se deixava guiar, sorrindo com uma gentileza que não parecia totalmente natural. Era como se ele estivesse tentando se encontrar em meio ao que antes lhe era tão familiar, porque mesmo a casa, havia mudado muito nos ultimos anos.

Enquanto as crianças falavam sem parar, Sakura acompanhava Naruto até o quarto de hóspedes onde ele ficaria. Ela carregava uma das malas que Kiba trouxera, tentando disfarçar a sensação de estranheza que se intensificava a cada passo.

Naruto seguiu os passos dela, tentando manter o ritmo das crianças que ainda falavam ao seu redor, e olhava ao redor como se quisesse absorver cada detalhe daquele ambiente. Havia um sorriso educado em seu rosto, mas Sakura, ao espiar por cima do ombro, viu que a expressão dele era um misto de curiosidade e confusão.

Quando chegaram ao quarto, ela abriu a porta e colocou a mala no chão, gesticulando para ele entrar. Naruto deu uma olhada rápida no quarto, antes de se virar para ela e soltar um comentário simples:

— Você pintou as paredes, ficou bom.

As crianças mal conseguiam conter a animação e queriam ficar mais tempo com Naruto no quarto, mostrando coisas e contando histórias. Sakura, apesar de entender essa euforia, tentou ser prática e deu um pequeno sorriso antes de dizer:

— Vamos dar um tempo pro pai de vocês se acomodar, tá bom? Ele precisa descansar um pouco.

— Ah, mas a gente quer ficar com ele! — Nitsu reclamou, enquanto Satsumi apenas lançou um olhar de desânimo, ainda que mais contida.

— Eu sei, mas ele acabou de chegar, terão muito tempo para conversar, alem disso, Satsumi ainda não tomou banho.

Após mais algumas tentativas de convencê-la, as crianças acabaram obedecendo, ainda que contrariadas. Sakura observou enquanto eles saíam devagar. Quando eles finalmente se afastaram, ela se virou para Naruto, que agora estava sentado na cama, ainda tentando se ajustar àquele espaço que de certa forma conhecia, mas que também era um tanto novo para ele.

— Se precisar de qualquer coisa, é só chamar — disse ela, com um sorriso um tanto forçado, ainda não sabendo muito bem como se comportar perto dele. — E... bom, o jantar vai ficar pronto em breve.

Naruto, por um instante, olhou para ela e pareceu rir de algo, soltando uma lufada de ar, o que a deixou um pouco confusa. Sakura franziu levemente a testa, sem saber exatamente o que aquilo significava. Ainda havia um clima estranho entre os dois, uma barreira invisível que fazia qualquer interação parecer mecânica.

— O que foi? — perguntou, tentando entender o motivo do riso, sorrindo forçado porque estranhamente nem se sentia proxima o bastante para brigar com ele.

— Ah, é só que... eu lembro que você sempre queimava as comidas — disse ele, com um sorriso ligeiramente travesso, como se aquele detalhe fosse uma memória reconfortante em meio ao caos da situação.

Sakura não pôde deixar de soltar uma risada em resposta, mais sincera do que esperava, enquanto se lembrava de todas as vezes que as panelas acabavam no lixo por pura distração.

— Bom, as coisas não mudaram muito nos ultimos anos, mas eu me esforcei — disse ela, ainda rindo um pouco. — Agora eu tenho um termômetro, e comecei a cronometrar as coisas. Quem sabe o jantar de hoje não seja um desastre completo?

A risada de ambos logo foi seguida por um silêncio, enquanto Sakura pensava em algo para dizer. Ela então apontou para a porta e comentou:

— O banheiro fica logo ao lado...

— Eu me lembro — respondeu Naruto com um sorriso leve, e o tom dele parecia tentar aliviar um pouco a tensão.

Sakura soltou um suspiro meio sem graça e assentiu, sem saber ao certo como continuar a conversa. Era como se estivessem dançando em volta de memórias compartilhadas, mas sem saber o ritmo certo.

— Vou deixar você se ajeitar um pouco, então, qualquer coisa grite— disse ela, dando um último olhar antes de sair do quarto e fechar a porta atrás de si.

Ainda sentia aquela estranheza ao caminhar pelo corredor, o peso de algo que não sabia bem como nomear. Assim que chegou à sala ouviu Nitso correr para o quarto dele, decidido a juntar todos os brinquedos que queria mostrar para o pai, mal conseguindo conter a ansiedade.

Afinal, desde que se separaram Naruto obviamente não apareceu mais no lugar, sempre o viam na casa dele, obviamente.

Sakura suspirou ao ver o filho tão determinado e seguiu em direção à cozinha, tentando se concentrar na tarefa simples de preparar o jantar, enquanto o barulho de Nitso no quarto ressoava pelo apartamento. Ela sabia que aquela noite seria longa, com muitas emoções e ajustes a fazer.