P̴a̴s̴t̴ - Narusaku

9

Quando Hinata tentou entrar para falar com Naruto, Sakura estava tão atordoada com toda a situação que, sem perceber, não saiu imediatamente da sala. Isso fez com que ela ouvisse parte da conversa entre eles.

Observou a maneira como Naruto respondeu a Hinata. Ele não foi desrespeitoso – afinal, apesar de tudo, ele ainda era Naruto, sempre foi uma boa pessoa— Mas havia algo diferente ali. Ele a tratava com uma frieza e formalidade que não era comum, havia estranheza no olhar dele. Estava claro que ele ainda estava em choque, preso em um processo de negação. Enquanto Hinata tentava ser compreensiva, dizendo que entendia que o que ele estava sentindo era difícil e que eles ficariam juntos novamente, Naruto parecia distante. Quando ela tentou beijá-lo, ele virou o rosto, pedindo para ficar sozinho por um tempo.

Hinata saiu rapidamente do quarto, e Sakura, sentindo-se desconfortável por ter presenciado aquilo, também saiu logo atrás. Ela fechou a porta, olhando para Naruto por um instante. Um peso enorme de culpa caiu sobre seus ombros, mesmo que soubesse que não tinha feito nada de errado. Havia algo corroendo-a por dentro, algo que ela não conseguia explicar completamente, como se fosse culpa dela essa situação.

Mais tarde, o médico explicou tudo de Naruto. Precisaria ficar um pouco no hospital em observação, para então ser liberado e ir para casa, a recuperação seria lenta e exigiria cuidados especiais.

Quando Sakura foi buscar seu celular, que havia esquecido no quarto dele, encontrou ele com uma expressão ainda mais distante do que antes.

Sem desviar os olhos, Naruto pediu apenas uma coisa.

— Traga as crianças amanhã, por favor.

Sakura assentiu, dizendo que, claro, faria isso. Desejou melhoras antes de sair, mas ele não respondeu. Estava absorvido pela confusão de suas memórias e pela dor da situação que não conseguia entender.

Sakura suspirou, o termino deles havia sido algo gradual, que foi aumentando aos poucos até finalmente aceitarem que não dava mais e seguirem caminhos diferentes, alem de também haver o tempo que tiveram para se adaptar. Mas para Naruto, era como se ele tivesse dormido em um casamento feliz e realizado, o sonho que ele sempre teve por ser órfão e simplesmente no segundo seguinte não existisse mais.

No proximo dia ela levou os filhos ao hospital. Eles estavam radiantes com a ideia de ver o pai novamente, pararam em uma loja de brinquedos. Satsumi escolheu um coelhinho, enquanto Nitso se apaixonou por um jacaré. Sakura, sorrindo da escolha deles, comprou os dois e levando-os para o hospital.

Ela estava se sentindo nervosa, só esperava que tudo ficasse bem.

A caminho do hospital, notou que havia alguns jornalistas à espera, mas com a ajuda da segurança do hospital, conseguiram entrar sem problemas. As crianças estavam cheias de energia, ansiosas para ver Naruto, Sakura sabia como todos aqueles dias haviam sido dolorosos para os seus pequenos.

Faltava ainda meia hora para o horário de visitas ser liberado, então ela os manteve ocupados, conversando, ela esperava sinceramente que ele ficasse mais feliz com isso, e que não fosse muito estranho para eles o comportamento do pai.

Na verdade, ela tinha muito medo de como Naruto agiria, e se ele surtasse por velos tão crescidos? E se os assustasse? Pacientes com problemas de memoria costumavam a perder um pouco do tato social.

Ela também havia os explicado sobre o "probleminha de cabeça do papai" sobre ele estar um pouco confuso, para que os dois não o assustassem também.

Quando finalmente chegou o momento, eles se dirigiram ao quarto de Naruto. Sakura bateu na porta algumas vezes, e ao ouvir a voz dele respondendo, Satsumi e Nitso dispararam para dentro, correndo ansiosamente para os braços do pai e praticamente se jogando em cima da cama, Sakura quis dar uma bronca neles, havia dito para que não fizessem isso, até porque era melhor que Naruto os visse em um ambiente menos...caotico.

Tinha tentado preparar os filhos para a possível reação de Naruto,não sabia o que esperar dele. E quando o viu segurando os dois, parecia que toda a preocupação dela se dissolveu um pouco, embora ainda houvesse um nó em sua garganta.

Naruto manteve os braços ao redor dos filhos, como se precisasse sentir que eles eram reais, que não era apenas uma memória distorcida em sua mente. Ele estava em choque, sua voz tremendo enquanto olhava para os rostos ansiosos de Satsumi e Nitso.

— Vocês... vocês cresceram tanto... — repetiu, a voz embargada, um sorriso triste e cheio de surpresa surgindo em seu rosto.

Nitso, sempre empolgado, levantou o jacaré de pelúcia para mostrar ao pai.

— Eu trouxe esse pra você, papai! Achei que você ia gostar! — disse, com um brilho nos olhos, empurrando o jacaré na direção do rosto do loiro.

— E eu trouxe esse aqui! — Satsumi emendou logo em seguida, mostrando o coelho de pelúcia com orgulho, um sorriso largo iluminando seu rosto.

Naruto olhou para os brinquedos e soltou uma risada baixa, ainda carregada de uma tristeza latente. Havia algo de agridoce naquele momento, como se ele tentasse absorver toda aquela alegria infantil enquanto ainda lutava contra a confusão dentro de si.

— Obrigado, eu... adorei. — Ele apertou os filhos mais uma vez contra si, como se temesse que eles desaparecessem se soltasse. Seus olhos ficaram levemente marejados, e ele fechou-os por um instante, como se tentasse controlar as emoções que borbulhavam em seu peito. Quando os abriu de novo, seu olhar parecia mais suave, ainda que distante.

Sakura, percebendo que talvez fosse o momento de dar um pouco de espaço, se aproximou lentamente, colocando uma mão em um ombro de cada um dos dois.

— Que tal dar um tempinho pro papai descansar agora? — sugeriu em um tom suave, tentando não interferir no momento, mas ao mesmo tempo querendo evitar que Naruto se sobrecarregasse, estava na cara que ele precisava de um segundo para respirar, era como se ele tivesse perdido o crescimento deles — Vamos comer alguma coisa e logo voltamos.

Satsumi concordou também, dizendo que queria um pedaço de bolo de chocolate, Ja Nitso, por ser mais novo, não pareceu gostar da ideia de sair.

— Mas eu queria mostrar meu desenho pra ele ainda...

— Podemos mostrar daqui a pouco tá bom? — Sakura sorriu para ela, tentando ser o mais gentil possível.

Naruto, percebendo o clima, passou a mão nos cabelos de Nitso, ainda com aquele sorriso que misturava amor e dor, ele fez o mesmo com Satsumi, e desviou o olhar um pouco culpado.

Sakura sorriu forçado,tentando ignorar o quanto era difícil ver Naruto assim: vulnerável, confuso, perdido em uma realidade que não parecia mais fazer sentido para ele. Ela segurou as mãos de Natsumi e Nitso, guiando-os para fora do quarto.

Enquanto fechava a porta atrás de si, deu uma última olhada para Naruto. Ele estava ali, sentado na cama, os olhos voltados para os brinquedos que os filhos haviam trazido, com uma expressão indecifrável.

— Voltamos logo.