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Na véspera da alta de Naruto, Sakura estava em casa organizando algumas coisas quando o interfone tocou, informando que Kiba estava na portaria, carregando algumas malas e uma sacola com os pertences do Naruto. Surpresa com a visita, ela pediu ao porteiro que ajudasse Kiba a subir com as malas.

Assim que a porta do apartamento se abriu e ele entrou com os itens, o ambiente pareceu se encher de uma tensão inesperada. Sakura não conseguia entender exatamente por que, mas a expressão de Kiba estava muito mais fechada do que de costume, e ele evitava olhá-la diretamente.

Kiba, geralmente animado e brincalhão, parecia estar carregando um peso invisível naquele momento. Havia um ar de desconforto em sua postura, quase como se estivesse se segurando para não dizer algo, e Sakura sentia que qualquer tentativa de conversa seria complicada.

Enquanto colocavam as malas no canto da sala, Sakura tentava processar tudo aquilo. Ainda estava perdida com a ideia de que Naruto realmente se mudaria temporariamente para sua casa, algo que ela esperava que durasse pouco tempo, até que ele se sentisse mais confortável e talvez se ajustasse ao novo contexto de vida. Ela soltou um riso nervoso, tentando aliviar o clima pesado:

— Quem diria, né? Como as coisas podem mudar tão rápido assim... — Ela tentou sorrir, mas o gesto saiu torto, quase forçado.

Kiba, no entanto, permaneceu impassível. Seus olhos se estreitaram por um instante, e ele respirou fundo antes de responder, sem esconder o tom de reprovação:

— A Hinata não está achando isso nada fácil, sabe? Você não deveria ter apoiado essa ideia do Naruto vir pra cá. Ele não está saudável mentalmente para tomar decisões desse tipo.

Sakura ficou parada, surpresa pela franqueza e pelo julgamento embutido naquelas palavras.

Uma onda de irritação misturada com um desconforto estranho a atingiu. Respirando fundo, ela tentou responder com calma, mesmo que sua voz tivesse um toque de firmeza:

— Kiba, eu não estou apoiando nada. Ele é um adulto. Sim, perdeu as memórias, mas isso não significa que ele não tenha mais capacidade de raciocinar. E por mais que eu não goste da ideia dele ficar aqui, faz sentido que ele queira estar em um lugar que ele lembra. Já é difícil o suficiente para ele estar num ambiente onde tudo é estranho, inclusive... o futuro dele.

Enquanto falava, ela buscava racionalizar seus próprios pensamentos, se convencendo de que estava fazendo o melhor possível na situação. Sabia que havia algo de muito complicado ali, mas sentia que não tinha o direito de simplesmente barrar as vontades de Naruto, por mais que isso a deixasse desconfortável. No fundo, o que mais a preocupava era o impacto emocional que tudo isso teria sobre as crianças, e não a sua própria situação.

Mas Kiba continuava a encará-la, sem demonstrar qualquer traço de empatia ou compreensão. Ele balançou a cabeça lentamente, soltando um suspiro cansado.

— Mas logo, logo, o Naruto vai recuperar as memórias. — As palavras saíram de seus lábios num tom frio, quase cínico, como se ele estivesse expondo uma verdade óbvia que Sakura não conseguia ou queria enxergar — Mas morar aqui...você sabe o que o próprio Naruto, se estivesse são, acharia disso.

A forma como ele disse aquilo, sem elevar a voz mas com uma intensidade quase cortante, fez com que um frio percorresse a espinha de Sakura.

Ela sentiu o rosto aquecer, um misto de constrangimento e irritação crescendo em seu peito. Havia um peso em cada palavra que ele dizia, como se ele estivesse jogando uma responsabilidade que ela não queria carregar, e essa sensação a incomodava profundamente.

Como se ela tivesse tirando algum tipo de vantagem disso.

— Não cabe a mim decidir onde ele vai morar — Ela tentou manter a calma, mas havia uma nota de frustração em sua voz. — Mesmo que tenha deixado no meu nome, compramos juntos. Não seria justo simplesmente negar algo assim para ele.

Ela falava enquanto olhava para a mala com os pertences de Naruto, tentando ignorar o nó que se formava em sua garganta. Kiba apenas continuava a observá-la, como se esperasse algo mais, algo que ela não estava disposta a dar. Ele colocou as mãos nos bolsos, uma postura que parecia quase desdenhosa, antes de finalmente soltar um comentário que a deixou perplexa:

— Até parece que você está bem feliz com essa ideia, né?

Aquelas palavras caíram sobre ela como um balde de água fria. O sorriso nervoso que Sakura mantinha no rosto desapareceu instantaneamente, substituído por uma expressão de puro choque. Ela sentiu como se tivesse levado um golpe no estômago, incapaz de acreditar no que acabara de ouvir. As palavras dele carregavam uma insinuação que ela não esperava, e a indignação cresceu rapidamente dentro dela.

— Como é que é? — ela retrucou, a voz saindo mais alta do que pretendia. Sua mente fervilhava, lutando para processar o que aquilo significava, mas Kiba apenas deu de ombros, como se tivesse dito algo corriqueiro, sem importância.

— Ah, nada. — Ele desviou o olhar, finalmente. — Só espero que tudo isso se resolva logo. Por todos.

Sem dar tempo para mais respostas, ele virou-se e saiu do apartamento, fechando a porta atrás de si com um gesto que parecia quase impessoal. Sakura ficou parada ali por alguns segundos, ainda tentando entender o que havia acontecido, enquanto o silêncio da casa se tornava opressor. A indignação ainda queimava em seu peito, mas agora estava misturada a uma inquietação que ela não sabia como resolver. Tudo parecia estar acontecendo rápido demais, e ela não conseguia deixar de sentir que o controle de sua vida estava escapando por entre os dedos.

P̴a̴s̴t̴ - NarusakuOnde histórias criam vida. Descubra agora