Capítulo Dez; Gadling

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1689...

Morpheus sentou-se pacientemente na cadeira de madeira, ignorando as conversas e risadas altas do restante de clientes no bar, o homem que esperava estava atrasado alguns minutos.

--- Não precisa de nada, senhor?.- perguntou uma jovem de caichos loiros, o vestido verde musgo um pouco sujo e cheirando cerveja.

--- Não, obrigado. Eu aguardo...- Morpheus dissia educadamente quando o barulho alto da porta sendo abruptamente empurrada ó interrompeu.

--- Não me toque.- gritou uma voz familiar, um homem de cabelos castanhos desgrenhados, roupas sujas e mal cheiro adentrou o local.

--- Seu monte de merda. Saia!.- um homem corpulento segurou a figura de aparência medíocre, enquanto Hob se debatia. --- Volte aos chiqueiros com a ralé.- ralhou irritado.

--- Deixe-o. É meu convidado.- a voz do perpétuo saiu alta o suficiente para ser ouvida, fazendo os dois homens olharem para ele.

Hob arrancou seu braço rudemente das mãos do homem e caminhou até a mesa de Morpheus, suas mãos sujas e calejadas seguraram a cadeira vazia empurrando-a rudemente para sentar-se.

--- Sabia que estaria aqui.- alcançou uma taça dourada cheia de vinho e bebeu como um homem do deserto seco, Morpheus analisou sua aparência descuidada e miserável, um contraste gritante com seu último encontro em que o humano imortal era rico e próspero. --- Quanta fome um homem pode ter?.- indagou pegando pães e comendo rapidamente. --- Se não morre, mas não come?.- sua voz rouca tinha dor escondida, olhando para o homem sem nome, Hob se recompôs aos poucos. --- Eu perdi tudo.- exclamou oque obviamente o perpétuo já imaginava. --- Minha terra, meu ouro.- ele listou as coisas que menos lhe doeu, pois antes vivia com menos que tinha e sempre fora feliz.

No entanto, ele ainda não conhecia o amor romântico nem paternal, ter isso e perder foi um golpe duro em sua alma.
Ele engoliu em seco ao pensar em sua família.

--- Minha Eleanor.- lágrimas não derramadas brilharam em seus olhos castanhos, cor que lembrou o sonho da jovem que habitava seu reino. --- Morreu ao dar à luz. O bebê também. - contou desviando um pouco o olhar, as lembranças do dia sangrendo ó acompanharia por toda vida. --- Minha princesa, Alice morreu aos 19 anos... ficou doente desde os onze de idade. Morreu dormindo depois de tanta dor.- falar da filha quase lhe fez chorar, os gritos de dor da menina o acordavam durante à noite. --- Robin, meu filho, morreu numa briga na taverna aos 20 anos. Quase não saí depois disso.- a memória do corpo sem vida do filho em seus braços o aterrorizava. --- Tentaram me afogar como um bruxo. Morei lá 40 anos, excesso de confiança. - zombou, ele continuo por que naquela casa abandonada havia vivido seus anos mais felizes. --- Só escapei com minha pele, pouco mais. E só piorou. Cada vez mais. - Morpheus ouviu tudo em silêncio, parte dele teve compaixão do homem pois sabia a dor de perder um filho.

Uma pequena parte dele quis levar o humano para ver Alice, talvez assim veria um pouco mais de luz nos olhos do amigo.

--- Odiei cada segundo dos últimos 80 anos, cada maltido segundo. Sabia disso?.- confessou dolorosamente, pouco se importando com a dor em sua testa devido a bancada recente.

--- Ainda quer viver?.- perguntou Morpheus com a voz baixa, parte dele não queria perder o humano que de uma forma estranha era o mais próximo de um amigo, mas se Hob escolhesse isso, não deria outra alternativa à não ser conceder.

Hob pareceu pensar e quase chorar antes de lhe responder.

--- Está louco? A morte é para idiotas. Tenho tanto pelo que viver. - sua resposta tirou um suspiro surpreso do perpétuo, que sorriu imperceptível junto ao homem. --- Vamos pedir? Estou quase comendo a porra da mesa.- brincou sorrindo um pouco.

Morpheus satisfeito acenou para à garçonete do bar, e Hob se adiantou pedindo comida e fartura para eles.

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⏰ Última atualização: Oct 27 ⏰

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