Epílogo - Supremacia mágica

9 2 6
                                    

Os céus azuis possuíam uma cor mais radiante. Vivida e menos amarga. A grama estava mais verde; as flores estavam diferentes. Esverdeadas com detalhes prateados, nunca jamais vistos por aquele monge que se deitava entre elas. Ele apreciava as nuvens coloridas que pairavam no céu. O mundo estava diferente uma semana após o Plano Mágico tê-lo invadido brevemente. Animais agiam diferente. A aparência de seus filhotes se distinguiam do normal, se distanciavam tanto do que se pareciam com seus pais, que as pequenas crias eram mortas pelos mesmos; a conexão conturbada os faziam estranhar. Energias mágicas muito contrárias, levavam as crias até mesmo a escaparem de seus bandos, tornando-os em animais mágicos que vagavam sozinhos por aquelas terras.

Mulheres grávidas começaram a sentir uma presença anormal vinda de seus ventres que estavam próximos de dar à luz. A maioria dos bebês nascidos durante ou após aquela semana, haviam sido mortos pelas autoridades de seus reinos, por serem considerados defeituosos. Ou, como a igreja os chamava, de monstros. Orelhas pontudas, olhos negros, caninos afiados, eram algumas das características que os bebês possuíam em sua maioria. Alguns tinham a face mais fina; outros, mais robusta; e outros, mais achatada. Suas diferenças físicas se alternavam muito, mas não chegavam a miscigenar. Os estudiosos viram isso como um padrão. O padrão de um ecossistema de espécies estava nascendo em humanos, assim como nos animais. Por mais sensacional que fosse para aqueles de mente aberta, isso apavorou os alquimistas e aos mais poderosos.

Um ano se passou. O monge, Royrren, havia se estabelecido em uma vila ao norte - Verguild - que se tornou reino em poucos dias após sua chegada. O mundo estava mudando drasticamente; reinos estavam surgindo com mais frequência, deixando aqueles que se achavam únicos e maiorais, de cara no chão. A magia estava em praticamente tudo; de vez ou outra surgia alguém que havia descoberto algo fantástico, mas logo era silenciado pelo reino. O monge, por mais triste que fosse, entendia que era justo, afinal, para um mundo que nasceu sem nada, ter tudo da noite para o dia, seria temeroso. Reis se tornariam receoso em deixar seu poder ameaçado para as desconhecidas e abundantes magias que se proliferavam. Exércitos, por medo, executariam todos que desafiassem as míseras espadas e arcos com seus "truques baratos de circo" - de acordo com eles. Obviamente, magia não era algo novo há anos, mas agora estava em toda parte e em todas as pessoas. Royrren conseguia sentir, tanto as energias de cada ser, como a magia que os preenchia.

Sua jornada ao oeste do continente Asnom, o fez encontrar algo peculiar assim que entrou em uma taverna no reino de Kailash. Uma voz chamou por Royrren, o perguntando se tinha em mente uma mesa para se sentar. O monge olhou para os lados, o procurando, quando a voz, na verdade, vinha por debaixo de seu nariz. Um pequeno garoto, carregando uma bandeja, perguntava novamente se o monge queria alguma coisa. A pele do menino era azulada; os cabelos castanhos-claros eram médios, batiam no pescoço e eram presos num coque. Seus olhos também eram castanhos; o olhar era frio, mas não ranzinza. As roupas eram feitas de trapos sujos. Era um menino de rua, provavelmente. Royrren se abaixou e questionou-o:

- Oh, menino, onde estão seus pais? São donos desta taverna?

- Menino? - a voz era fina e agressiva quando falou. - Se não vai comprar nada, caí fora, velho! Não me insulte!

A barba e o cabelo de Royrren estavam crescidas o suficiente para ser confundido com a terceira idade.

- Oh, mil perdões! - ele se desculpou, envergonhado. - Aqui - de seu bolso, pegou três moedas de ouro. - Dizem que o famoso Estrato dos Deuses, é o melhor drink do Oeste. Me traga um, por favor.

A menina riu, largou a bandeja e apanhou o dinheiro da mão do monge. Ela saiu correndo dali, zombando da cara dele. Por mais que Royrren olhasse para os lados pedindo ajuda, ninguém ia o ajudar, todos olhavam para ele e fingiam que não estavam vendo. Fora então, que o monge decidiu tomar uma atitude e ir atrás da menina. Porém, assim que deu dois passos a frente, uma voz ecoou em sua cabeça e suas pernas estagnaram-se.

"Deixe a menina, ela deve precisar mais do que você"

- Certo - o monge recuou, com estranheza. - É bom ouvir sua voz por vezes, mestre. É uma pena que... - ele olhou para um banco vazio - não esteja mais entre nós. Sempre me pego pensando que nunca tive uma chance de conhecê-lo de verdade. E agora, estamos conectados neste corpo temporário até o dia em que me for - olhou para a própria mão, vendo o contraste de sua pele branca e as pequenas ilhas marrons que se espalhavam por ali. De repente, alguém cutucou seu ombro direito. Era um homem, que chegou e disse a Royrren:

- Então foi vítima da travessa, Vanshika! - ele parecia atordoado, bêbado, mal conseguia falar uma frase sem quase cair no chão. - Essa menina... Ela é uma pivete bem espertinha, deveria tomar cuidado para que... suas bolsas não sejam levadas de repente, sabe? - ele arrotou.

- Vanshika, é? - o monge encarou, interessado, para onde a menina fugiu. - Tem pai ou mãe? Uma menina dessa não pode estar nesse muquifo; se me permite julgar esse lugar.

- Até tem... mas..., bom, é sempre bom não falar muito sobre eles - ele riu. - Ela é uma criança que vive passando de casa em casa. Não tem nenhum abrigo ou algum pingo de senso social, assim como seus irmãos. Deve ser essa pele esquisita que ela tem, que se difere do resto. É uma dessas... crianças mágicas que nasceram nesse último? Ano? É, ano. Saí pegando as coisas e pregando peça nos outros. Incontrolável, sacou?

- Por que não se pode falar dos pais dela?

- Não sei ao certo. Ouvi... de um bando de alquimistas do reino dizendo que era sigiloso. Disseram que, bom, ela é filha de alguma coisa colossal, mais perigosa que um Orc ou... um dragão.

- Mais forte que um deus?

- Deuses? Não ouço nada deles há tempos. Acho que já até nos abandonaram. Mas, respondendo: eu não sei. Os alquimistas... falavam em código, bando de gente estranha - ele deu uma golada em seu caneco de madeira.

- E... como o chamam esse "Colossal"?

- Eles - arrotou - nomearam de...

"O Supremo Pai"

O FIM.

Honrado: Além dos CéusOnde histórias criam vida. Descubra agora