Três dias antes...- Seu estado é deplorável - disse uma voz feminina que ecoava em grande escala.
Os olhos com quem falava se cerravam a medida que se abriam. A visão sobre ela ficara embaçada, e tampada pelas pálpebras fracas de tanto tempo fechadas. Quando as abriu, a embaçada visão se focou naquela persona. A armadura era de prata, cintilante. Uma guerreira, com um suporte na cintura para uma katana fina e larga. Os cabelos pretos batiam nas costas e seus olhos castanhos encaravam aquele que despertava. Malkiur, dentro de sua maldita jaula de antes, encontrou-se, pela última vez, com sua antiga e melhor amiga na azulada caverna abaixo de Klank. O príncipe, melancólico, não conseguia a olhar com nenhuma emoção. Sentado, na posição de meditação, apenas levou os olhos para o chão, deprimentemente.
- Sem mais nem menos... - a fanha voz de Malkiur, a indicava que ele estava com sede. - Você aparece por aqui depois de tudo que vez. É corajoso - arranhou a garganta seca - que não tenha um pingo de vergonha em massacrar toda uma vila de inocentes - notando que Sofia desviou o olhar, exclamou: - Vamos, Sofia, olhe para mim!
- Eu sinto vergonha - subitamente, disse Sofia, o encarando -, mas não me arrependo do que fiz.
- Qual o propósito? O que você achou que ia conseguir fazendo aquilo? É por ser serva? Ser devota àquela maldita deusa? - exclamou em fúria.
- Meus ideais nunca serão realizados em nome de outro ser. A execução do mal é para toda a humanidade. Aquele lugar era amaldiçoado; a raiz de todo o mal. A Hermeas é apenas um meio para eu conseguir o que quero.
- Você enlouqueceu! Você concorda; concorda com ela me prendendo e me torturando dessa forma? Nem se quer deve ligar para o que ela fará daqui pra frente, você sabe que não pode confiar nela! A que nível você tem que chegar pra...
- Mudar o mundo? - interrompeu-o. - Malkiur, se você fosse eu, uma mera escolhida pelo mundo, mas não um holofote dele, o que você faria no meu lugar?
- Eu simplesmente desistiria, porque eu perceberia que essa coisa toda é loucura! Você tem uma katana... - resmungando, dizia - e um sonho louco; você nunca vai conseguir eliminar o mal do mundo desse jeito!
- Mas você conseguiria? - questionou-o, deixando Malkiur perplexo com apenas aquelas três palavras. - Existe outro jeito que não seja impossível? Ou somente você conhece "O Jeito" de fazer as coisas direito. Será que se os seus holofotes fossem em mim, meu final seria belo e conclusivo? Você quer o mais difícil, que é mudar o mal, e está sempre convicto disso, mesmo nem sempre tomando a atitude mais certa. Que irônico, não é. Por que será? Deve ser porque acredita que ao aplicar ou deixar de aplicar a sua força à alguém que merece, você pode ser desculpado pela honra que há em você e isso te livra das consequências do que faz. Hm... - Ela riu. - Como não tenho a sua honra, eu não poderia ser vista - ou não poderia me ver - como benevolente. Não sou fraca, Malkiur, só não sou honrada, pois esse mundo não merece meu respeito... E eu queria te mostrar que... você pode até mudar o mundo com suas palavras, mas o mal existirá enquanto você não tomar uma atitude a respeito da raiz dele.
O príncipe, emergido na escuridão de seu pensamento, encarava o solo, sentindo o desgosto aparecer no estremecer de seu lábio superior. Por mais que reprovasse as atitudes de Sofia, sabia o que tinha planejado antes de ter sido capturado. Estava sendo hipócrita, mas não queria admitir. Não queria admitir que se encontrava no mesmo barco que a espadachim. Até porque, seus propósitos e ambições eram diferentes naquele momento e suas conclusões também. Mas por quê? Por que havia justificativa em suas ações, e por que conseguia doutrinar outras pessoas para acreditarem que suas ações são... de coração puro? Os monges nunca questionaram suas atitudes e absorvem seus ideais sem pensar. Se tornam cruéis e frios ao olhar dos outros por que...
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Honrado: Além dos Céus
FantasyDesvincilhou-se de uma vida pacífica após uma tragédia o mostrar que o mundo era cruel. Em busca do próprio caminho, o príncipe Gautar, vagou pelos confins do mundo para entender-se e compreender todo sofrimento que rondou seu passado. Auxiliou os c...