3| Bound to the Abyss

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Aurora observava a cena em silêncio, tentando disfarçar o nó em sua garganta. Era como se estivesse em um pesadelo que tomava vida diante dela, e, embora o tom autoritário de Dante tivesse encerrado as insinuações dos piratas, isso não diminuía o horror da situação. Agora, era ele quem reivindicava o controle sobre ela, como se sua liberdade fosse um mero troféu de guerra.

Dante lançou um último olhar ameaçador aos homens antes de se voltar para ela, com um sorriso torto, como se a tensão do momento fosse apenas uma diversão para ele.

"Gostou do banquete, minha dama?" ele murmurou com uma ironia suave, inclinando-se um pouco mais para que só ela ouvisse. "Sei que não tem o requinte a que está acostumada, mas você logo perceberá... a bordo do Ceifador dos Mares, conforto é um luxo."

Aurora segurou seu olhar, resistindo ao desejo de afastá-lo. "Você acha que me impressiona com suas ameaças e truques?" ela retrucou, a voz mais firme do que ela se sentia. "Eu não sou como esses homens submissos que o obedecem sem questionar."

Ele riu baixo, aproximando-se dela, e Aurora sentiu o cheiro de rum e tabaco que emanava dele, misturado a um traço de algo metálico, perigoso. "E é exatamente por isso que você está aqui, Aurora," ele murmurou, sua voz descendo a um tom sussurrado, mas cortante. "Eu poderia ter qualquer outra pessoa neste maldito mar, mas... você é uma tempestade, e eu pretendo ver até onde pode me desafiar."

Ela sentiu a pressão daquela afirmação e a intensidade daquele olhar como se estivesse sendo tragada para algo inescapável. Ele a observava com um misto de diversão e cálculo, como se seu sofrimento fosse mais um jogo, uma distração em meio ao tédio da viagem. E ao redor, os outros piratas observavam a cena em silêncio, alguns com risos maliciosos e outros apenas testemunhando aquele jogo perigoso entre capitão e prisioneira.

"Se você acha que vai me dobrar, está enganado," Aurora sussurrou, cada palavra carregada de uma mistura de desafio e desprezo.

Dante ergueu as sobrancelhas, fingindo surpresa. "Dobrar você? Não, minha querida Aurora..." Ele deslizou os dedos ao redor do copo de vinho, sem desviar o olhar. "Eu não quero dobrar você. Quero ver você lutar. É assim que prefiro meu entretenimento."

Ela sentiu seu coração acelerar, ao mesmo tempo tomada por ódio e medo. Dante tinha uma habilidade perturbadora de transformar suas palavras em armadilhas, como se estivesse sempre um passo à frente, manipulando-a com a segurança de quem já conhecia cada detalhe de suas reações.

"Por que eu? Por que você me trouxe para este inferno?" ela finalmente perguntou, sem conseguir mais conter a pergunta que a atormentava desde o momento em que ele apareceu em sua vida.

Dante ergueu a taça de vinho num brinde lento e sombrio, e um sorriso desafiador cruzou seus lábios. "Porque, Aurora," ele murmurou, os olhos cintilando na penumbra, "entre todos aqueles que vivem sob o sol, você tem um espírito que merece conhecer o lado escuro do mundo. E eu serei o homem que mostrará isso a você."

Enquanto ela o encarava, sentindo o peso daquela promessa inquietante, uma coisa era clara: sua vida jamais seria a mesma. O que ele queria dela ainda era um mistério, mas, de alguma forma, ela sabia que escapar dele não seria uma opção fácil.

"Seus pais não te contaram...? Que eles me deram você a muitos anos atrás ?"

Dante aproximou-se dela lentamente, o olhar carregado de um tipo de satisfação cruel, como alguém que finalmente reivindicava um direito esquecido. Ela lembrou-se, então, de fragmentos de conversas escutadas ao acaso, discussões abafadas entre seus pais e rumores antigos sobre um misterioso "acordo de sangue" feito em tempos sombrios. Algo que ela nunca imaginou ser verdade.

Nas Garras do CapitãoOnde histórias criam vida. Descubra agora